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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Você lembra quando o CD, nos anos 80, desbancou o LP e as pessoas saiam vendendo seus discos a preço de banana (quando a banana ainda era barata)?

E por trinta anos os amantes do vinil puderam construir uma discoteca robusta, comprando em sebos de discos LPs bem conservados por preços justos?

Eu fiz isso, amigo leitor, comprei mais de 500 discos nesse período, antes que o vinil voltasse a estar debaixo dos holofotes e passar a custar valores exorbitantes.

E a partir do final da primeira década do século 21, esse fenômeno voltou a ocorrer com o CD, ao ser atropelado pelo streamer no mundo.

Ainda estou montando minha coleção de música clássica basicamente só com CDs, e em uma década minha CDteca triplicou de tamanho, ocasionando um grande problema de armazenamento e espaço. Comprei, nesse tempo, coleções e boxes completos que, quando lançados, custavam até inacreditáveis 2000 dólares! E paguei por essa mesma coleção recentemente 500 reais!

Só que, como todo mercado, quando a demanda aumenta e a oferta é limitada, os preços sobem. Ainda assim, você consegue comprar muito bons CDs importados por 25 reais e nacionais por 12 a 15 reais.

E, ao contrário de todas as correntes que defendem o Streamer como no mesmo nível do CD, continuo a ser uma voz solitária e discordante. E mostrei na nossa Sala no Workshop Hi-End Show o motivo de ainda, para mim, a mídia física quando apresentada em alto nível, ser incrivelmente sedutora e realista!

Então, é claro que toda vez que puser as mãos em um bom CD-Player ou transporte a preços mais ‘realistas’, e com uma performance consistente, irei como diz um grande amigo: “bater bumbo” para esse produto!

Não acho que eu seja o personagem Dom Quixote de Cervantes, lutando contra os ‘moinhos de streamer’ que predominam atualmente.

Esperançoso de encontrar leitores que ainda amam suas mídias físicas, e estão lutando para mantê-las em um lar musical, eu descobri esse incrível Primare DD35, um transporte de CD, que é basicamente um leitor de mídias de CD 16/44 kHz, mas que faz seu trabalho com enorme competência e objetividade.

E não pensem se tratar de um transporte de CD com gabinete de plástico, pesando menos de 2kg, com uma gaveta que, se pressionar para colocar o CD, irá quebrar ou entortar.

O DD35 é um transporte de CD que utiliza uma unidade de baixa ressonância de última geração, e saída digital de ultra baixo ruído. Por isso eu o levei para o nosso Workshop e o apresentei conjugado com o impressionante DAC suíço Merason DAC 1 Mk2 (leia teste na edição 300), muito mais caro que o Transporte e, no entanto, ele não foi subjugado ou se tornou o elo fraco do conjunto.

A mecânica é da Teac, de última geração, fornecendo segundo a Primare um sinal sem oscilação para o estágio de saída digital, com sua fonte de alimentação discreta, garantindo uma resposta ultra plana, silenciosa e fidedigna do que está sendo lido no disco.

O transporte da Primare segue o padrão de qualidade de todo produto deste fabricante, com uma aparência extremamente limpa, elegante e extremamente funcional.

Sua gaveta por carregamento parece firme e ainda que não seja ultra silenciosa, não nos passa sensação alguma de fragilidade. A Primare se orgulha da fonte de alimentação utilizada nesse transporte, por ser uma fonte linear combinada com uma fonte de modo de espera comutada, que é desligada durante a reprodução do disco para melhorar ainda mais o silêncio de fundo na leitura. Para os engenheiros da Primare, a fase de alimentação AC pode fazer uma diferença significativa no som.

Seu painel frontal é ultra limpo, com apenas dois pequenos comandos do lado esquerdo para abrir e fechar a gaveta, e para pausar ou acionar o play caso você esteja longe do remoto universal da Primare, que controla toda sua extensa linha de produtos. A gaveta fica no centro, e à direita temos um pequeno visor OLED que nos apresenta faixa, play, stop, pause e eject. O Transporte Primare desliga automaticamente após 15 minutos sem uso.

No painel traseiro, temos a entrada IEC, uma entrada RS232 e uma saída coaxial e uma óptica. Gostaria muito que os engenheiros da Primare também tivessem disponibilizado uma saída digital AES/EBU, pois facilitaria em muito minha vida. Pois no momento em que o Primare veio para teste, eu só tinha o cabo digital disponibilizado pelo representante, um modelo supra. Todos meus outros cabos coaxiais à disposição eram com terminal BNC.

Mas, gentilmente, consegui emprestado um coaxial/RCA com a Virtual Reality e, também, com a Sunrise Lab. E assim consegui extrair toda a beleza desse singelo transporte.

A lista de DACs que utilizamos com o DD35 foi grande: primeiro o ligamos ao DAC interno do integrado Arcam SA30, depois também no integrado I35 da Primare (leia teste na edição de julho), e no Merason DAC 1 Mk2, e no Nagra TUBE DAC.

Ou seja, creio que pudemos ter realmente uma visão geral de seu nível de performance, e o mais importante: seu grau de compatibilidade com DACs e cabos digitais tão distintos em preço e performance.

No final do teste, já no fechamento de nota, o amigo Heber me emprestou o cabo digital Chord Sarum, e pudemos também ter uma quarta assinatura sônica distinta dos cabos digitais utilizados. Para os céticos que afirmam, e batem no peito, que cabos não têm diferenças sonoras e, se tiverem, estão com defeito, sugiro que leiam o teste objetivo publicado nesta edição, justamente entre dois cabos digitais. Que pode abrir a mente principalmente dos que se entrincheiraram na objetividade ortodoxa!

Mas, voltando ao Primare, ele realmente chama a atenção por duas qualidades: seu silêncio de fundo e sua capacidade de organizar o acontecimento musical com excelente arejamento, foco, recorte e planos.
Esses são dois aspectos que separam os transportes de ‘elite’, dos apenas funcionais.

Por anos apresentei exemplos no nosso Curso de Percepção, os degraus entre um CD-Player de entrada e os mais bem construídos, com preocupação com as vibrações mecânicas, fontes de alimentação, leitor, etc. E usava para didaticamente demonstrar essas questões, gravações de música clássica, que demandam muito cuidado com a questão de ambiência, planos, foco e recorte.

E aliado a todos esses problemas, demonstrava o quanto CD-Players mais de entrada, tendiam a soar mais ‘letárgicos’, tirando o interesse em se ouvir obras com grandes alterações de tempo e variação dinâmica.

O Primare não sofre de nenhum desses males, ao contrário! Mostra com autoridade e presteza o quanto os engenheiros fizeram a lição de casa, para torná-lo não apenas a companhia ideal para os produtos deste fabricante, mas também para DACs de outras marcas.

Agora não pense que um transporte produzido com todos esses cuidados, responderá o seu melhor com um cabo de força de computador emborrachado, um cabo RCA analógico no lugar de um genuíno digital, e com DACs mais simples. Ele irá fazer suas reivindicações, e se atendidas, o ouvinte será recompensado integralmente, acredite!

Ele é o tipo de transporte que busca ser o mais fiel possível ao que está nos discos, e seu silêncio de fundo e sua enorme ambiência já citada, entregarão o sinal o mais ‘integral’ possível ao DAC. Se este estiver à altura, o ouvinte se beneficiará de audições prazerosas.

Ficou claro no teste, com a opção de cabos digitais, cabos de força e DACs à disposição, que à medida que fomos entendendo o casamento de cada peça nesse quebra-cabeças chamado Sinergia, que podíamos ‘apreciar’ ângulos distintos de cada setup.

Ou seja, seu grau de compatibilidade mostrou ser alto (o que é essencial para todo bom transporte) e que têm pedigree para ser ligado até com DACs Estado da Arte do nível do Merason e do Nagra.

CONCLUSÃO

Muitos leitores, ainda que já tenham investido em um streamer, não quiseram ou não sentiram firmeza em abrir mão de seus CDs. E não o fizeram na esperança de encontrarem uma solução para ouvir com prazer seus discos prateados novamente.

O que os impedia de darem um passo nessa direção, eram dois obstáculos: os bons e ótimos transportes continuam sendo caros, e muitos já estão fora de linha, o que dificulta mantê-los funcionando caso ocorra algum problema.
E muitos dos transportes hoje em linha, de alto nível, custam muito mais que seus próprios DACs.

Se você se encaixa nesse perfil, eis a solução, leitor: o DD35 da Primare.

Fiz questão de mostrá-lo no nosso Workshop com vários integrados e caixas, e a maior parte do tempo tendo como par o DAC da Merason e, acredite, ele fez bonito, não colocando em nenhum momento o resto do sistema em cheque!

Se você deseja ter um transporte de excelente nível, para poder resgatar toda sua CDTeca, o seu transporte é o Primare DD35!


PONTOS POSITIVOS

Excelente construção, padrão escandinavo, e grande compatibilidade com cabos e DACs.

PONTOS NEGATIVOS

Saídas digitais S/PDIF e Toslink apenas.


ESPECIFICAÇÕES

Mecânica de
transporte
TEAC CD 5020A-AT
Saída S/PDIFSim
Saída ToslinkSim
Controle remoto C25Infravermelho
Conexão de controle3.5 mm in/out
Trigger de 12V3.5 mm in/out
Conexão RS232Sim
Dimensões (L x A x P)430 x 385 x 106 mm
Peso10.8 kg
AcabamentosPreto ou Titânio
CD-TRANSPORTE PRIMARE DD35
Equilíbrio Tonal 13,0
Soundstage 12,0
Textura 11,0
Transientes 13,0
Dinâmica 12,0
Corpo Harmônico 11,0
Organicidade 12,0
Musicalidade 12,0
Total 96,0

As notas foram a média entre o DAC Interno do integrado I35 da Primare, e o Merason DAC 1 Mk2.

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