Opinião: ADORAÇÃO À MEDIÇÕES, BUSCA DE VALIDAÇÃO & OUTROS VÍCIOS

Opinião: TRANSIENTES – COMO NOSSO CÉREBRO PERCEBE O RITMO
abril 6, 2025
HI-END PELO MUNDO
abril 6, 2025

Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Na imagem acima, se você vê fatias de mortadela em garfos, parabéns – você é são! Se você, como eu, viu fones de ouvido intra-auriculares modernistas com cabos ‘flat’, então você, como eu, é um Audiófilo em completa perdição (ou seria ‘Perdigão’? rs…

Alguém vai dizer, pelo título desse artigo, que eu estou misturando as coisas, colocando tudo na mesma cesta – mas, na verdade, eu me toquei que esses vícios muito proliferados entre uma quantidade incrível de audiófilos só têm o mesmo resultado: impedir que obtenham a melhor qualidade de som.

Simples assim.

Como diria um ‘ditado’: ninguém precisa de um cientista para dizer-lhe qual é o melhor cheeseburger, e nenhum paquímetro gigante combinado com um espectrômetro de massa e um microscópio irão lhe dizer qual é a melhor pizza.

Então por que raio de motivo alguém precisa de uma especificação ou medição para lhe informar o que você terá que ouvir? Aqui é única vez que eu concordo com os que dizem que o equipamento que você comprar só tem que agradar a seus ouvidos e a mais ninguém – porém, se você busca Qualidade Sonora, e não se dedicou a aprender o que ela realmente é, e um equipamento simples e de preço acessível lhe satisfaz, então a Audiofilia como hobby não é sua área de ação. Certo?

Veja, a Audiofilia – o ser audiófilo – é aquele que gosta de música e quer ouví-la com melhor Qualidade Sonora e, portanto, gosta muito de equipamentos de som e de seus meandros. Sempre vejo gente querendo distorcer o termo para fazê-lo caber naquilo que acredita, sendo audiófilos que desdenham de audiófilos, ou desdenham da audiofilia entrando em negação. Me parece tão tribal, como se os outros fossem pensar mal se um audiófilo em uma comunidade ou fórum audiófilo, se declarasse como audiófilo! rs! Para mim é o mesmo se eu fosse negar que sou paulistano, ou queresse distorcer o significado do termo para se adequar a mim.

E, amigos, querer fazer o mundo se adequar a nós é o amigo número 1 da estagnação, e o inimigo número 1 da melhora e aprendizado! Quando eu era criança, eu ia nas chamadas pistas de Autorama de São Paulo, e prestava atenção em tudo que via e tudo que ouvia, pois sabia que meu hobby ia ser melhor se eu aprendesse – e lá estava a sede de aprendizado… E não era uma ‘sede’ consciente, e sim puro interesse e curtição daquilo.

Onde raios foi parar a sede de aprendizado dos adultos?!?

Assim, muito audiófilo moderno nada mais quer aprender – principalmente não querem aprender a ouvir e perceber nem que a vida deles dependesse disso! O que esses procuram é validação a ideias que já têm, a maioria mal formadas.

Procuram um articulista ou ‘luminar’ de YouTube que fale aquilo que eles querem ouvir. Eu, particularmente, aprendo com cada setup que tenho que fazer, cada sala, cada acústica, cada ajuste, cada equipamento – aprendo algo novo, aprendo que estava certo sobre uma impressão ou ideia, e aprendo que estava errado sobre outra. Todo bom estrategista muda constantemente sua estratégia, caminho, trajetória – até porque você só melhora seu conhecimento dessa maneira.

Aí vêm os fãs de vintage… Nada de errado em ser fã de vintage, pois além de eu ter estado presente em boa parte do ‘áudio vintage’ (são 40 anos como audiófilo e 21 anos profissionalmente), eu tive vários tipos de equipamento, e conheci muitos outros, e ainda tenho alguns contatos com aparelhos das décadas de 60, 70 e 80. E teria vários deles como colecionador – mas muito poucos para ouvir.

Por que poucos para ouvir? Porque 9999 em cada 10000 aparelhos vintage não chegam na barra da calça de um bom aparelho moderno no único quesito que importa: Qualidade Sonora!

Vocês compreendem que tanto aquele que procura validação para aquilo que acha sem querer aprender mais nada, quanto o fã de vintage que vive somente para aparelhos e não para a música (e depois acusa o audiófilo que fazer o mesmo, em um tipo terrível de inversão de valores misturado com hipocrisia), sofrem do mesmo mal?

E qual é esse mal? Incapacidade de aprender, melhorar, e obter melhores resultados, assim como a incapacidade de entender e usufruir de real Qualidade Sonora.

O que busca validação sempre aparece com ‘coisas da ciência’, como medições – que não explicam e muito menos definem como um aparelho soa. Veja, a maioria esmagadora dos fabricantes e desenvolvedores de equipamentos já declararam até cansar que medições são só o começo do processo para de fazer um aparelho ou caixa, e que apenas a audição longa e crítica pode dar o resultado final através de ajustes finos. E esse tipo de audiófilo objetivista e ‘científico’ acredita neles? Claro que não! Ele acredita apenas em algum guru eleito, em uma espécie de ‘teoria da conspiração’ que vem a dizer que as medições explicam como tudo soa. Só que, até agora, não apareceu ninguém na face da terra que provou isso. Por quê? Porque o que é medido e como é medido hoje, não explica e não esclarece Qualidade Sonora!

Daí, vêm os desdobramentos, como o tal do Teste Cego. E o tal do “Bits são Bits”, que afirma a estupidez incrível e estratosférica de que todos os DACs com o mesmo chip soam iguais, ou mesmo que vários intermediários, filtros, condicionadores de sinal digital, tipos diferentes de conexões digitais, tipos diferentes de cabos, etc, têm que todos soarem iguais se os mesmos bits forem contados iguais, antes e depois de passarem por eles.

Se você levar em conta o fato de que tudo isso soa diferente ou faz soar diferente, altera o som, então não é a contagem de bits que diz o que é a Qualidade Sonora. Ou seja, é um pensamento simplista.

Se você comparar com uma dessas coisas, e sem. Ou comparar um equipamento de áudio digital com outro, um cabo com outro, tudo no âmbito digital, e houver mudanças sonoras (e têm!), então “Bits são Bits” é uma tremenda balela por definição – irrefutavelmente!

A questão que os Objetivistas puros ignoram voluntariamente é que, em todo o mundo científico, o empírico – a observação do resultado e a prática da questão – é o que prova ou desprova a teoria científica, e não ao contrário. Se a pessoa acha que ciência e engenharia no áudio são os ‘deuses’ e explicam e resolvem tudo, precisam entender que o resultado final é o que dita. Não dá nem um pouco, nem nos sonhos mais loucos, ser “o mundo se adapta a mim e ao que eu penso” na ciência. Ciência simplesmente não é o que a maioria esmagadora dos objetivistas pensam. Não mesmo. E isso não é ‘opinião’ minha, isso é prática científica reconhecida.

Daí você ouve diferenças entre cabos, por exemplo, e esse ‘cientista caseiro’ não – e aí você passa por mentiroso ou vítima de placebo! Me lembrou quando alguém falou para a NASA que a ida do homem à Lua era uma fraude, uma conspiração, e a NASA respondeu que, se fosse assim, como as milhares de pessoas que trabalharam no Programa Espacial durante décadas, conseguiram manter o segredo?!

O que quem realmente entende de áudio vê (ouve), quando se avalia um equipamento ou sistema? Qualidade Sonora, e não ‘conhecimento sobre marca ou tipo’. Só personagem de filme, que é algum tipo super-humano de hiper-sábio, que diz coisas como: “pelo som é uma caixa modelo tal da marca tal”. Da mesma maneira que as pessoas confundem conhecimento com sabedoria, ontem, hoje e sempre. Saber quem foi o camisa número tal de todos os jogos de um mesmo time de futebol, todas as semanas, todos os anos há 60 anos, não é nada que chegue perto de ‘Entender de Futebol’ – isso é conhecimento, não sabedoria. Isso é apenas memória excelente. ‘Entender’ daquilo demanda muito mais tempo, trabalho e dedicação.

Compreendem que a pessoa do ‘conhecimento’ é o que eu chamo de Quantitativo? E a pessoa da ‘sabedoria’ é o que eu chamo de Qualitativo? O primeiro conta quantos nuggets de frango têm no prato e qual é o tamanho dos mesmos – e define o ‘bom’ prato por aí. O segundo está mais interessado se o nugget não tem gosto de palha frita, se é tenro, úmido e bem temperado. Isso chama-se Qualidade. E uma quantidade incrível de pessoas hoje em dia perderam totalmente esse conceito.

Discutir com essas pessoas nos fóruns e redes sociais, é como fanáticos de duas religiões discutindo: você nunca vai convencer nem ele e nem as pessoas que o cercam sobre qualquer tipo de mudança de opinião ou de ideia (mesmo apresentando fatos) – e vice-versa! Perda de tempo mútuo.

Um profissional da área de áudio, um dia desses, me falou que somente com Teste Cego você consegue resultados, porque sua visão do equipamento, saber a marca e, até pior, saber o preço, irá definir sua opinião sobre ele. Refleti sobre isso, até para ver se eu não cairia nessa armadilha. E me dei conta de que décadas escutando criticamente equipamentos, tendo plena Referência da música real, tendo uma Metodologia – tendo experiência e capacidade de compreensão e de aprendizado – me fazem poder dizer que não, meu subconsciente não vai achar, por definição, que um cheeseburger mais bonito ou mais caro é melhor. Meu paladar, conhecimento e experiência (e valores!) sobre comida, responderão. É algo informado, Qualitativo.

Porque eu sei disso que estou falando sobre mim? Porque eu meus resultados são consistentes, de alta qualidade, e plenamente repetíveis.

Se têm pessoas que nunca viram um pão, não conhecem mais que um tipo de queijo simples, não sabem que sabor e textura tem uma carne bovina, e preferem uma nutricionista de jaleco branco, acompanhada de um químico de laboratório, dizerem para ele qual cheeseburger é melhor – e preferem isso do que aprenderem, criarem sabedoria, sobre o assunto – não tem o que possa ser feito.

Assim como você não traz gente nova para a Audiofilia – que os ‘profetas do apocalipse’ dizem que está em extinção desde antes de ter começado – você não faz o pessoal que estagnou, o pessoal da ‘validação’, os seguidores do que eu chamo de ‘Objetivismo dos Outros’, vir para o lado Qualitativo do hobby.

As pessoas vêm para a audiofilia por vontade própria. Simples assim. Algumas mídias, como esta revista, tentam puxar a coisa para o lado de educar o audiófilo, em vez de dar as respostas prontas – por isso a Metodologia é apresentada, complexa, como um todo, em vez de suprimir a complexidade apresentando só o resultado final, no estilo “compre este aqui, porque eu estou falando que ele é o bom”. Nós não fazemos isso.

Mas, até agora, desde sempre, a Audiofilia nunca conseguiu descobrir uma ação ou fórmula que atraia um público maior e até mesmo mais novo. Então, vamos seguindo em nossa renovação paulatina de público, de hobbistas, que sempre ocorreu – afinal, Audiofilia é um nicho, e sempre foi.

Mas alguns dizem: “Eu não tenho dinheiro para a Audiofilia, é tudo muito caro”. Hoje você pode ter um sistema surpreendentemente bom, que pode ir passando por upgrades aos poucos de cada um de seus componentes, por bem menos de 1000 dólares, até menos de 500 dólares (preços de lá de fora) – incluindo cabos de qualidade honesta ligando um par de caixas book parrudas e muito corretas e musicais, com um amplificador com capacidade de streaming embutida. Não tá bom? Depois você pode fazer upgrade dos cabos, das caixas, de acessórios, do amplificador, adicionar um toca-discos de vinil, ligar no amplificador seu DVD ou Blu-Ray Player para poder ouvir seus CDs e DVDs de shows ao vivo. Uma coisa de cada vez. Isso para não falar de boas caixas ativas (sim, existem algumas bem boas hoje em dia), onde você vai precisar apenas de um bom cabo de força, pedestais e um celular ou tablet – e pronto! Música! E com boa qualidade!

E estou falando de sistemas muito mais refinados, resolutivos e musicais que praticamente qualquer vintage – e com certeza melhor em Qualidade Sonora que um equipamento básico de Home-Theater, e ordens de magnitude melhores que aparelhos ‘consumer’ como microsystems.

Por isso tudo que digo: Quem ler este artigo e concordar comigo, continuará concordando. Quem ler e achar que somos os loucos da ‘turma do placebo’ e sei lá mais do quê, continuará achando a mesma coisa. Lembra da “discussão entre fanáticos religiosos” que eu falei acima?

Mas, e o pessoal do Vintage? Bom, entre eles existem os que não têm a menor aspiração à Qualidade Sonora, os que são colecionadores e ‘equipamentófilos’ – e os que acreditam que os aparelhos vintage têm a mesma Qualidade Sonora dos atuais. Isso é tão risível quanto dizer que um carro médio da década de 70 se compara com um carro médio atual em absolutamente todos os sentidos qualitativos (dirigibilidade, segurança, performance, conforto, estabilidade, etc). A única coisa que eu concordo é que muitos aparelhos vintage têm um bocado de beleza e estilo – e tem vários que eu gostaria de ter.

Olha, para ser sincero, ando meio cansado de discutir com pessoas que vêm dizer que a ciência já provou o placebo, que vintage soa igual a novo, que os Testes Cegos são o único meio, e que as medições dizem tudo.

Dessa última eu ainda pergunto onde as medições me dizem timbre, textura, profundidade e largura de palco, corpo harmônico, etc – e já tive respostas que vão desde fazer ‘cara de paisagem’ até dizer que isso não é provido pelo equipamento e sim pela gravação (quiá! quiá! quiá!), ou que esses aspectos todos da música são ‘psicoacústicos’, o que costuma ser uma desculpa para “você diz que percebe, mas eu não percebo, então não existem”.

Ninguém quer encurralar essas pessoas todas no canto, e fazer força para ‘ganhar o argumento’. O que eu quero é que essas pessoas aprendam, entendam, compreendam – e tenham um hobby e uma paixão com melhores resultados.

“Os limites do meu conhecimento são os limites do meu mundo” – Ludwig Wittgenstein, filósofo austríaco.

Mais uma vez, meu e-mail está disponível para manifestações, troca de ideias, e até para jogarem tomates podres na minha cara: christian@clubedoaudio.com.br.

Mas, por favor, joguem tomates frescos tipo italiano, assim faço um bom molho!

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