Fernando Andrette
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Eu já recomendei outros trabalhos aqui do contrabaixista e compositor francês Renaud Garcia-Fons.
Um músico que, desde sua primeira infância, se mostrou muito curioso, o que o levou a estudar vários instrumentos, como piano e violão clássico, até que aos 16 anos se apaixonou pelo contrabaixo, o qual estudou com o renomado professor François Rabbath, no Conservatório de Paris.
Rabbath, vendo seu enorme potencial, ensinou-lhe uma técnica conhecida como Col Arco, que permite ao músico tocar o instrumento como se fosse uma viola.
Essa técnica permite uma impressionante diversidade de sons com o uso do arco, que quando nas mãos de um virtuose, pode extrair efeitos melódicos impressionantes.
Em 1987 ele foi aceito na famosa orquestra de contrabaixos, a Orchestre National de Jazz, permanecendo com o grupo até 1993.
O selo de música Enja Records o convidou a fazer seu primeiro trabalho solo, Légendes, em 1992.
E em 1995, pelo mesmo selo, gravou já com o seu primeiro quarteto – Alborea, que teve excelentes críticas e abriu as portas para sua participação em diversos festivais de jazz na Europa.
Em 1998, em seu terceiro trabalho – Oriental Bass, ele finalmente tomou coragem e apresentou suas próprias composições, ganhando com esse trabalho vários prêmios, tanto de compositor como de disco de músico revelação.
E com esses prêmios, vieram convites para turnês em todos os continentes.
Renaud, ao compor, gosta de fazer seus arranjos cercados de uma variedade extensa de instrumentistas de várias etnias e culturas musicais.
Esse seu interesse o levou a conhecer e se apaixonar pelo trabalho do mestre do alaúde iraniano tanbur, Ostad Elahi. E suas obras o inspiraram em inúmeras de suas composições. Levando-o a se apresentar no Metropolitan Museum de Nova York, em um concerto em homenagem à arte de Ostad Elahi, em 2019.
Atualmente ele também escreve peças para o quarteto de cordas France Musique.
O cenário musical está repleto de grandes virtuoses do contrabaixo. A lista é bastante eclética e extensa.
Porém, meu amigo, se você aprecia tanto quanto eu esse belo instrumento, ao ouvir Garcia-Fons imediatamente você perceberá que a sonoridade que ele extrai desse instrumento é única.
E não falo apenas da sua técnica ao usar o arco, e sim como ele faz o instrumento, em cada uma de suas composições, soar tão diferente multiplicando o uso do instrumento na mesma faixa.
Ele dobra o instrumento como um competente vocalista utiliza sua voz para colocar múltiplas camadas em uma melodia.
Isso faz com que cada uma de suas composições possuam detalhes que exigirão do ouvinte total atenção, e um sistema capaz de fidedignamente mostrar cada sutil intenção colocada na gravação.
E exatamente por esse esmero trabalho de composição e arranjo, que seus discos são excelentes exemplos para avaliação de inúmeros quesitos de um sistema hi-end.
E me impressiona como tão poucas vezes ouço nos eventos internacionais, seus discos serem usados para tal propósito.
Como sei que os que acompanham essa seção tem enorme interesse em conhecer novos trabalhos e testarem seus sistemas, selecionei para esse mês dois recentes trabalhos dele.
Ambos, além de musicalmente serem ótimos, poderão auxiliá-lo na descoberta da qualidade da apresentação do Equilíbrio Tonal, Textura, Transientes, Micro-dinâmica e Corpo Harmônico.
Ou seja, exemplos excelentes para quem está buscando sanar deficiências e aprimorar as qualidades do sistema.
Fiz questão de escolher dois trabalhos que mostram a impressionante versatilidade de Renauld, e que certamente agradarão aos mais jovens que apreciam temas mais worldmusic, e aos que gostam mais de jazz.
E espero que muitos de vocês apreciem ambos os trabalhos.
CINEMATIC DOUBLE BASS – IN A JAZZY MOOD (CÉZAME, 2023)
Esse é mais jazzístico, com uma formação mais standard – dentro da concepção e visão de compositor de Renaud, claro!
Você poderá explorar todos os quesitos que citei com esse disco. Começando por avaliar as duas pontas do Equilíbrio Tonal (graves e agudos).
Os graves do sistema precisam ter o que meu pai chamava de “sustentação”, para que essa faixa do espectro trabalhe com folga e total inteligibilidade. Dando uma noção exata do corpo desse instrumento, velocidade e energia.
E posso te garantir, meu amigo, se o seu setup tiver essas qualidades, você ficará orgulhoso de como esse disco irá soar.
Na outra ponta, os agudos terão que ter decaimento suave e todo o trabalho primoroso dos pratos terão que ser claros com velocidade, inteligibilidade e zero de dureza.
As texturas que Renaud oferece de seu contrabaixo com arco, e sem, são primorosas para a avaliação desse quesito.
E se os transientes do seu sistema estiverem à altura da gravação, tenha certeza de que você irá acompanhar o tempo batendo os pés, se for alguém mais reservado, ou sair dançando pela sala se estiver em um dia iluminado e repleto de felicidade.
Sinceramente, torço para ser a segunda opção.
CINEMATIC DOUBLE BASS – IN A SPIRIT OF TRAVEL (CÉZAME, 2023)
Lançado também em 2023, tenho certeza de que este disco também irá agradar aos mais jovens dos nossos leitores, que me pedem gravações mais ‘modernas’.
Esse trabalho também o ajudará a avaliar Equilíbrio Tonal, Texturas, Transientes e Corpo Harmônico.
Comecem pela faixa 1 – Travel Wide Travel Wild, a faixa 5 – Lemurian Groove e Djumbo Steps, a faixa 11. Memorizem os
detalhes dessas três faixas, pois cada uma delas tem excelentes detalhes para avaliação de todos os quesitos citados.
Tenho certeza de que você irá ficar muito contente se seu sistema passar pelo teste com autoridade.
Mas não pensem que será ‘pêra doce’, pois essas três faixas têm alguns obstáculos bem interessantes.
Se eu fosse, no Workshop, fazer uso de streamer, certamente apresentaria a faixa 11 – Djumbo Steps, pois ela é matadora para avaliar os agudos, os graves, Corpo, Textura e Transientes.
E garanto que muitos jovens que estivessem na sala correriam para saber: “que banda legal é essa?”.
Espero que os expositores que irão fazer uso de streamer, toquem essa faixa.
Divirtam-se, e os que forem ao evento no final do mês, e participarem em nossa Sala do Workshop, por favor contem como esses dois discos soaram em seus sistemas.
Adorarei saber!