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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Trinta anos escrevendo sobre áudio hi-end nos permite saber com segurança uma pauta que terá uma enorme repercussão entre os leitores.

E por ser um tema tão espinhoso, certamente é como pisar em terreno minado.

Não me lembro, nos últimos anos, de nenhum Opinião que teve tanta repercussão como a primeira parte deste artigo, publicada mês passado. E tirando duas críticas mais virulentas, os outros leitores que se manifestaram, entenderam o objetivo do tema.

Interessante que as duas críticas partem do mesmo ponto de vista: que não queremos “largar o osso” e deixar uma nova geração “ditar as novas regras” (palavras de um dos leitores). Sendo que não há de minha parte nenhum preconceito que jovens se tornem Revisores Críticos de Áudio – pelo contrário, todos serão bem vindos, desde que entendam qual é o objetivo central de um RCA.

Minhas críticas não são referentes à falta de experiência de quem está iniciando, e sim unicamente a falta de critério no que está sendo defendido. E essas críticas se dirigem não só a iniciantes como também a ‘veteranos’, que insistem em disseminar inúmeras falácias como se fossem verdades.

E o único objetivo em publicar essas ‘Falácias Audiófilas’ é dar a você, leitor que está iniciando sua jornada, a chance de questionar absolutamente tudo que lê e assiste.

E poder avaliar o que faz sentido ou não!

Como escrevi mês passado, já vivi tempo suficiente para não agir impulsivamente ou entrar em discussões em que a razão não prevalece. Mas assistir de camarote a tanta asneira e mentira sendo defendidas, também não dá. Se você deseja conhecer novas falácias escritas e faladas no mês de junho, continue lendo.

Todo audiófilo com certeza acompanhou com enorme interesse a cobertura da Feira de Munique, realizada em maio. E teve um panorama geral do que melhor foi apresentado no maior evento hi-end do planeta!

É absolutamente impossível em apenas quatro dias realizar uma cobertura integral de um evento desse porte. Então, o que todas as mídias fazem é realizar pautas dirigidas ao seu público alvo. Foi assim que fizemos ao enviar nosso colaborador Roberto Diniz e deixá-lo livre para sentir o que seria de maior interesse para você leitor, e ele achou que seria interessante mostrar ao mercado o que foram as principais tendências do evento e o impacto que essas tendências terão no mercado hi-end nos próximos anos (leia a primeira parte de sua Cobertura nesta edição).

E cada mídia elege suas prioridades e faz, dentro de suas possibilidades, a cobertura do evento. Pois bem, um YouTuber da Europa fez sua cobertura, e na apresentação ao seu público alvo justificou sua cobertura da seguinte maneira: “Não consegui fazer nenhum juízo de valor de nenhuma sala , pois as músicas apresentadas não são as que escuto , impossibilitando avaliar subjetivamente os equipamentos apresentados”.’

UAU!

Isso é que é uma total inversão de valores, e um ego do tamanho do planeta Júpiter!

E sua crítica não se limitou a essa desculpa esfarrapada: ele iniciou uma campanha para que nas futuras feiras, música clássica e jazz sejam abolidos, pois se trata de gêneros que não interessam a ele e aos seguidores do seu canal!

Todos dessa indústria desejam arduamente que o público se renove, e possamos daqui uma década ter mais participantes com menos de 40 anos, frequentando e consumindo nesses eventos.

Porém essa não é a realidade atual. O público predominantemente, em sua maioria, está acima dos 50 anos, e os expositores precisam atender a esse público que é o que ainda escuta gêneros como música clássica e jazz, e que ‘alimentam’ esse mercado e não o contrário.

E antes que você diga que peguei um caso isolado e transformei em algo maior do que realmente é, ouça por favor essa banda japonesa: Jacks – Vacant World, que coloquei abaixo e está na lista de gravações audiófilas de junho de um periódico mensal americano, e que o articulista coloca em sua lista de LPs audiófilos e escreve: “Todos os discos foram testados em meu sistema e os utilizo como referência com bastante frequência”. E continua: “A inclusão indica os mais altos padrões de desempenho, gravação e repertório artístico e musical”. Como nunca ouvi falar nesse grupo japonês e sabemos que esse povo têm um alto padrão de qualidade técnica, tive todo interesse em ouvir.

Escute, amigo leitor, e me diga no que esse disco pode ajudá-lo a ajustar ou escolher um componente para o seu sistema?

Sabendo que um RCA (Revisor Crítico de Áudio), utiliza essa gravação como sua referência para avaliar equipamentos, eu posso confiar em suas observações? Certamente esse RCA está plenamente de acordo com o Youtuber que quer abolir música clássica e jazz das apresentações nas feiras de áudio. E não pensem que são dois lobos solitários, pois leio e escuto cada vez mais revisores propondo uma ‘repaginada’ nas músicas apresentadas nos eventos hi-end.

Esse é um discurso que vem tomando corpo, e que irá prevalecer muito em breve e determinar as regras do que é ‘cool’ e o que é ‘velho’ e ‘mofado’!

Eu não misturo gosto pessoal com trabalho profissional. São coisas distintas. O sujeito pode ouvir o dia inteiro Yoko Ono e essa banda japonesa em seu sistema, e eu não tenho absolutamente o direito de falar nada! Mas ele não pode ter a pretensão de achar que essas são gravações referenciais para se avaliar produtos de áudio. E não se pode aceitar que suas conclusões usando esse material sejam relevantes!

Essa é a questão! E essa é uma falácia que precisa ser combatida!

Outra falácia do mês de junho foi de um formador de opinião, também com um canal no YouTube, que soltou a seguinte pérola: que a caixa amplificada que ele estava testando só respondia a partir de 50Hz pelo fato da amplificação interna na caixa ser classe D.

Imagine para quem está iniciando seu caminho, ser bombardeado diariamente com tanta desinformação e mentiras bem construídas (como que não existe certo ou errado, que cada um escuta de uma maneira, etc).

Como esperar que essa nova geração construa o interesse em ouvir corretamente e valorizar o hi-end como a melhor maneira de escutar seus discos preferidos?

Esse é o maior obstáculo da indústria de áudio hi-end: a desinformação!

E não haverá renovação de público alvo sem atacar de frente e solucionar esse entrave.

E como última falácia deste mês, mostro como uma publicação pode mais confundir do que ajudar seus leitores, na maneira de descrever suas observações sobre os produtos testados.

E aqui voltamos ao núcleo central do problema: sem Metodologia e Referência, de muito pouco nos servem os testes subjetivos! O que só alimenta e dá munição para os objetivistas nas suas trincheiras se encherem de orgulho e soberba!

Veja o que um articulista escreveu em relação a um cabo de caixa avaliado recentemente: “Tonalmente, ele toca direto no meio, sem soluços de frequência óbvios. Em uma escala de quente para frio se inclina levemente para o frio. Em passagens de metais ou solos de violino na oitava superior, é evidente essa característica. Porém ele oferece uma abundância de musicalidade”.

COMO??????

Um amigo músico ao ler essa conclusão chutou o balde: “É que nem papel higiênico usado, já não serve mais para nada”.

Eu confesso que sinto vergonha como RCA e Editor, de ler testes como esses escritos sem o menor critério, coerência e consistência. E me pergunto o que será que esses articulistas entendem que significa Musicalidade, Neutralidade e Equilíbrio Tonal?

O que um RCA que utiliza apenas música eletrônica, ruído rosa (não riam, existe revisor que avalia caixas apenas com ruído rosa), pode concluir do que está ouvindo? O que o cara que postou no YouTube (e coloquei o vídeo no final do Falácias 1 a música toda distorcida), pode opinar qual a melhor caixa com aquele tipo de referência? Ou os revisores de fone que adoram equalizar os fones testados, e que falam que o fone testado só fica bom depois que for corrigido com a equalização que ele fez!?

Tem algo de muito errado amigo leitor, pois não é possível ler e assistir a tanta bobagem e achar que tudo esteja dentro da mais absoluta normalidade.

Isso me lembra os campeonatos de som SPL de carro, em que a diversão era destruir os vidros dos carros, queimar os falantes e destruir os amplificadores. Isso não pode ser levado a sério e nem tampouco servir como parâmetro para se discutir Qualidade.

E estamos falando de Qualidade e não de Quantidade, ou de gosto pessoal.

O que você precisa compreender, que está iniciando essa jornada, é que sem qualidade não se chegará a lugar nenhum.

Você gosta de música eletrônica? Ótimo, em um sistema hi-end correto você ouvirá com prazer seus discos. Agora, se o que interessa para você ao ouvir música eletrônica são os graves, meu amigo, você entrou no recinto errado. Bata na porta ao lado, de som de PA.

Aí você estará em casa!

O que assusta em todas essas falácias e tendências ‘tortas’, é que os defensores acreditam que tem algo importante a dizer, e não têm! Pois eles sequer sabem o que precisam ouvir e como ouvir para aprender!

Tem a arrogância e a ilusão que já nasceram com sua audição refinada e podem ser formadores de opinião. E na verdade estão desinformando e criando o caos!

Eu peço desculpa ao nosso leitor de tantos anos, que já entendeu nosso compromisso e nossa linha editorial, mas no momento que deixamos de ser uma mídia física limitada a um universo de 10 a 15 mil leitores e nos tornamos uma publicação com mais de 100 mil downloads mês, é preciso mensalmente alertar aos nossos novos leitores que se eles não separarem o joio do trigo, irão se meter em grandes enrascadas – e estamos falando de um hobby caro demais para errarmos!

Você tem todo o direito de discordar de nossas opiniões, amigo leitor, mas acredite: buscamos de todas as maneiras ao nosso alcance lhes dar o melhor e mantê-los informados de tudo o que ocorre no universo hi-end!

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