Édison Christianini
revista@clubedoaudio.com.br
A pedido de um amigo, para seu uso e a suas expensas, adquiri em um desses sites de compra chineses, dois pares de cabos piratas Odin 2, de 2 fabricantes diferentes. Foi por mera curiosidade, pois segundo esse amigo, em alguns fóruns, o pessoal anda elogiando muito esses cabos chineses, dizendo até que se comparam aos cabos originais.
Paguei US$200 um par, e cerca de US$130 o outro, ambos analógicos e XLR, com 1,5m de comprimento, de 2 fabricantes diferentes. Mas eles podem ser encontrados por preços superiores e até bem inferiores, nesses sites de venda. Como era uma amostragem, comprei os que estavam no intervalo entre os ‘mais caros’ e os ‘mais baratos’. A aparência de todos era idêntica.
Como se pode deduzir, a partir do preço pago, eu achava que não poderia esperar grande coisa. O Odin 2 original da Nordost, nas pesquisas que fiz na época, custaria pelo menos 100 vezes mais caro – US$22.000, ou mais. Portanto, as expectativas eram muito baixas.
Contudo, quando chegaram sua aparência me surpreendeu, pois eram muito semelhantes ao meu bom e velho Odin XLR, e também muito parecidos com o cabo atual da Nordost. Fiz os testes necessários, para que não viessem a prejudicar os aparelhos em que ficariam, e os coloquei para queimar em um sistema mais simples.
O sistema principal se constitui em um par de monoblocos valvulados by Anacleto, excelentes, pré amplificador Audio Research Reference Anniversary, DAC dCS Vivaldi, tendo como fonte principal um servidor digital (PCA) Xeon, com fonte de alimentação linear externa, interface Weiss INT202, montado especialmente para reprodução de arquivos de áudio, e um par de caixas B&W 800D2. O sistema em que o cabo foi colocado para queimar foi um reprodutor de CD/DVD ligado a um DAC amplificador de fones de ouvido FiiO K5, com um fone de ouvido Philips Fidelio H2R.
A impressão inicial foi bem frustrante. Havia uma boa quantidade de informações sobre as performances produzidas, porém tudo com baixa fidelidade, desequilíbrio e incorreção. Então, coloquei gravações variadas, por uma média de 4 a 8 horas por dia, durante 1 mês. Nesse período, não coloquei os falsos Odin 2 nenhuma vez no sistema principal.
Periodicamente, ia escutando para ver a evolução dos cabos. O amigo citado acima já havia me alertado que sua evolução seria lenta. Depois de 1 mês, e pelo menos 100 horas de uso, coloquei pela primeira vez os cabos no sistema principal. Ficaram mais cerca de 2 semanas lá, enquanto no segundo sistema ficou o segundo par de Odin 2, o mais barato.
Depois de cerca de 120/130 horas de uso, os cabos haviam evoluído muito, melhor do que o esperado em função de sua performance original. Inicialmente, além de esconder os extremos tonais, agudos e graves, ele metalizava em excesso o som dos instrumentos, fazendo parecer que todos continham algo de metal.
Agora, depois de 1 mês, não mais. Eles evoluíram. Embora, em extremo, os timbres continuassem levemente metalizados, haviam melhorado bastante, e já se notavam com segurança todos os naipes/grupos instrumentais envolvidos em uma performance orquestral sinfônica, ou em um conjunto musical. No entanto, as extremidades continuavam alteradas, diminuindo o peso e tamanho dos formantes mais graves, e ressaltando os harmônicos mais agudos, resultando com isso a impressão de que os instrumentos e grupos instrumentais fossem menores e mais agudizados do que o são na realidade.
Vejam bem, essas nuances tímbricas e tonais não seriam notadas no sistema 2, com FiiO e fone Philips, porém ficaram evidentes no sistema principal. Como o sistema 2 poderia, no máximo, ser classificado como um Ouro Referência, posso dizer que embora não seja o cabo ideal para esse nível de performance sonora, os Odin 2 piratas poderiam ser utilizados com relativa satisfação até esse nível, mas de preferência em sistemas com nível inferior a esse.
No sistema principal, em comparação com o cabo original, o Sax Soul Ágata 2, a diferença continuou muito expressiva em todo o período de teste. As texturas e a complexidade do tecido musical, embora em níveis razoáveis, ficaram nitidamente abaixo do desejável para um sistema Diamante ou Estado da Arte.
Com uma sonoridade frontal e voltada mais para o impacto inicial do que para a evolução dinâmica e harmônica das notas, a microdinâmica e os transientes ficaram claramente prejudicados, levando a que a expressividade do discurso musical se apresentasse relativamente reduzida, em relação do Ágata 2, ou a qualquer cabo de nível Diamante ou Estado da Arte, e a naturalidade e espontaneidade da apresentação, aspectos esperados e necessários nesse nível de performance, simplesmente deixassem de existir.
Como são cabos relativamente secos, em termos de conteúdo harmônico e de duração e decaimento das notas, seu corpo e a evolução harmônica dos sons reproduzidos também se apresentam pobres em relação ao Ágata 2, e ao nível esperado no sistema principal. Esses aspectos, de secura e pobreza harmônica, contudo, foram também notados no sistema secundário, com fones de ouvido, mas julgo que com o uso mais prolongado, 200 ou mais horas de uso, esses detalhes ainda devam evoluir bastante, pois sua evolução foi sempre lenta e contínua, parecendo que ainda devem melhorar sensivelmente.
Entretanto, para um sistema de nível mais modesto, digamos, um nível Ouro Referência na classificação atual da AVMAG, cerca de 70 pontos, e para um ouvinte mais voltado para música pop eletrônica, acho que o Odin 2 Chinês pode se constituir em uma boa alternativa, em termos de preços, pois não toca mal, é envolvente, impactante e performático. Minha esposa achou que ele estava tocando muito bem. Ela não é audiófila.
Enfim, para um HT está bom até demais. Para música puramente eletrônica, acho que também. Porém, está distante do Odin original, que possuo. Nuances, detalhes, sutilezas, naturalidade, ao que parece, necessários em um sistema de alto nível, estão fora de seu cardápio.
Uma observação: o cabo mais caro, de US$100 cada perna, toca melhor e vale mais a pena.