Fernando Andrette
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Nos meus sessenta e dois anos aprendi que muitos audiófilos vivem insatisfeitos com os seus sistemas, não por suas limitações e sim por ter expectativas exageradas em relação a reprodução de música eletronicamente.
Muitos possuem uma referência “imaginária” do que seria o ideal, comprometendo, com essa “obsessão sonora” de ouvir excelentes setups, possuir sistemas que poderiam lhe proporcionar enorme prazer em ouvir suas músicas.
Assim como a psicanálise estuda os tipos psicológicos, certamente também existem os “tipos audiófilos” – meu pai os classificava como: ansiosos, inseguros, platônicos e perfeccionistas.
O ansioso erra pela sua incapacidade de esperar o ajuste fino e de detectar os elos fracos.
O inseguro por não confiar em seus ouvidos e sempre achar que o outro ouve e sabe mais do que ele.
O platônico sonha com o sistema que não pode ter.
E o perfeccionista acredita que nada está à altura de suas expectativas e exigências.
Todos os quatro tem cura, felizmente! Mas para se mudar velhos hábitos, sabemos que se exige esforço e disciplina. O primeiro passo obviamente é entender aonde estamos falhando, e o segundo e mais importante é querer corrigir os erros e nos comprometermos 100 % com este objetivo.
Não pense que essa mudança será fácil, mas os resultados são consistentes, se o amigo leitor seguir essa regra básica.
Antes de iniciar as correções, faça uma análise criteriosa do que você espera do seu sistema, e de zero a dez classifique o seu sistema nos quesitos que mais te agradam e os que mais o deixam frustrado.’
Lembre-se de que este “pente fino” precisa ser feito embasado em critérios como: os quesitos da Metodologia ou quesitos pessoais que não sejam demais subjetivos.
Feita essa radiografia do sistema, busque referências auditivas seguras para poder usar como ferramenta em todos os ajustes que você achar que sejam necessários em seu sistema.
Essas “referências” são gravações de boa qualidade técnica, e que possam ajudá-lo a entender o que ocorre com o seu sistema. Use apenas gravações de instrumentos acústicos e vozes. E não deixe de ouvir essas gravações escolhidas nos sistemas de amigos, revendas e showrooms de importadores.
E não tenha vergonha de anotar tudo que perceber: isso irá lhe garantir a segurança que todos nós precisamos para caminhar com as próprias pernas.
Claro que toda caminhada, solitária no início, sempre causa um certo desconforto ou incertezas. Mas, à medida que você coloque em prática suas observações, e os resultados sejam consistentes, essas dúvidas cessam.
A maior prova de que você está evoluindo, ocorrerá no momento em que você perceber que os ajustes estão resgatando gravações que você sempre gostou, mas foram deixadas de lado, pelo fato de soarem ruins no sistema.
Agora, caso ocorra o oposto (quanto mais você ajuste o sistema, menos gravações tocam bem), pare tudo, pois o resultado está sendo o inverso do pretendido.
Não caia nessa armadilha, nunca mais!
Essa “falácia” de que um sistema hi-end não consegue tocar gravações tecnicamente limitadas é argumento do século passado! Um sistema hi-end corretamente ajustado e com o melhor equilíbrio tonal possível, resgatará a maioria de seus discos.
E quanto mais os elos fracos forem corrigidos, e os upgrades forem mais consistentes, sua paixão e prazer por ouvir música aumentará exponencialmente!
Então não hesite em seguir nessa direção, pois ela o levará ao maior de todos os objetivos: o sistema tocar toda a sua discoteca!
E, por fim, uma última importante dica: aprenda a abstrair as limitações técnicas de suas mídias. Este exercício é de fundamental importância para os que não conseguem abstrair os “cliques & plocs” dos LPs, ou a bidimensionalidade do palco do Streamer, ou as limitações de gravações tecnicamente limitadas dos nossos CDs. Pois sem essa abstração, estaremos sempre dando maior atenção às limitações do que as virtudes que a música reproduzida eletronicamente pode nos proporcionar.
Siga essas dicas e acredite: nada pode dar errado!