Teste 2: TOCA-DISCOS ORIGIN LIVE SOVEREIGN MK4
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TOP 5 – AVMAG
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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

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Minha filha tinha apenas cinco anos quando um dia entrou na cozinha, me viu cozinhando, e perguntou: “Como deve ser o cheiro da Lua?”. Achei que ela estava apenas em um momento lúdico que toda criança tem, e respondi que não fazia a menor ideia. Ela aceitou prontamente a resposta, deu de ombros, e voltou para suas bonecas esparramadas no chão da sala.

Eu nem percebi que ali provavelmente estava o início de uma de suas maiores virtudes, que hoje lhe é tão peculiar: um olfato extremamente apurado! Minha filha é capaz, aos 12 anos, de chegar da escola, e da sala reconhecer o que estou cozinhando para o almoço com tamanha precisão que algumas vezes chega a me assustar. Vou dar apenas alguns exemplos: ela sabe pelo cheiro se o feijão cozinhando na panela de pressão é feijão preto, carioca, bolinha ou branco. Sabe dizer se entre as verduras diárias o pai fez: quiabo, brócolis ninja ou o tradicional, cenoura, quiabo, vagem, beterraba, milho, batata, etc. E até se o arroz é o branco ou o integral!

E quando lembro de que nesta mesma idade dela, meu filho já sabia com total segurança o que queria ser e traçava com enorme autoridade o que precisava para chegar aos seus objetivos, percebo que essa determinação em ambos eu também tinha. E por mais que meu pai me incentivasse a dar asas a minha imaginação e senso apurado de audição, eu no meu íntimo era uma criança cheia de dúvidas e mais perguntas do que respostas. E como era difícil arrancar respostas de meu pai, eu trilhei caminhos muito solitários, para montar meu mosaico de dúvidas.

Lembro que uma de minhas primeiras perguntas sem respostas foi ao ouvir que palmas em diferentes setups dos clientes do meu pai, soavam muito diferentes. E fiquei meses antes de me abrir com meu pai, achando que só eu percebia essas grandes diferenças. E eu era tão jovem e inocente que custei a ligar que se as palmas soavam diferentes em cada sistema, a música também deveria sofrer este mesmo efeito. E quando percebi chocado que sim, foi que criei coragem e contei minha descoberta ao meu pai. Claro que suas expressões me indicavam que ele também observava o mesmo, mas ele queria que eu descobrisse sozinho que todo sistema tem uma assinatura sônica, e que esta assinatura irá determinar, como na brincadeira de adivinhação, o quanto está “quente” ou “frio”.

Quando entendi o que meu pai estava me sugerindo, criamos até um código, em que eu perguntava antes de chegarmos à casa do cliente se aquele sistema estava quente ou frio. Ainda ecoa em minha mente as três opções ditas por ele: frioooooo, frio e quente. Ele talvez não tivesse ideia do quanto essa brincadeira me ajudou a treinar minha audição e como foi importante para eu aprimorar o foco de atenção e o ouvir atentamente.

E nunca esqueço a única vez que um sistema que ouvimos estava tão bem ajustado que eu, ao entrar no carro, falei para ele: “que quente este sistema, hein?”. Rimos alguns minutos antes dele dar a partida, e saímos dali.

Minha formação musical é tão eclética que, mesmo para mim, fica difícil entender como ainda o “feeling” é uma ferramenta tão presente e se mostra tão eficaz ainda hoje. Este feeling nunca me abandonou e muitas vezes me ajuda a dar respostas que, no nível da compreensão e do bom senso, ou da experiência, não obtenho. Por exemplo: quantas vezes tive a certeza de determinado resultado, muito antes de fazer a experiência. Recentemente comentei com um amigo que determinada experiência que ele estava pensando em fazer no seu sistema não daria o resultado esperado, pois passaria do ponto. Algo que, depois de dito, eu mesmo me perguntei de onde teria tirado aquela informação se jamais havia escutado este setup tocando junto?

E ainda que sem resposta à minha pergunta, meu amigo duas semanas depois me relatou, em uma longa mensagem, que realmente a experiência havia dado errado, e que tudo havia passado do ponto! Só respondi que o lado positivo é que ele havia economizado uma boa grana, pois o equipamento que ele almejava comprar custa na casa dos 10 mil dólares!

Sempre fiz essas associações de sinergia de equipamentos desde minha infância, pois tinha facilidade de ver os sistemas tortos e logo entendi o motivo deles soarem tortos. E ao meu pai, eu dizia claramente a razão de não dar certo. E à medida que ele foi me escutando e indicando aos seus clientes as soluções, ele percebeu que seu filho tinha um “dom” para ajustar sistemas. Algo que aperfeiçoei na adolescência, para ajudar os amigos e seus pais, até romper com este universo aos 19 anos.

Foram anos afastado, e quando meu pai tentava puxar o assunto, eu sempre me esquivava. O máximo que eu o deixava falar era sobre os falecimentos de seus clientes mais antigos e que ele tinha um grande apreço. Mas falar sobre equipamentos, eu não lhe dava nenhuma chance. Aí o amigo leitor pode se dar conta da sua alegria quando eu lhe disse que estava indo trabalhar na revista Audio News, em 1991!

Me desculpe essa longa introdução antes de entrar no assunto devido – o teste do pré de phono da Nagra – mas se o leitor tiver um pouquinho mais de paciência chegarei lá!

O fato é que, 30 anos depois, trabalhando como revisor crítico de áudio, meu feeling se tornou tão acentuado que consigo prever determinados resultados, muito antes de tal equipamento vir para teste. E por mais que você me julgue “arrogante”, garanto que nunca errei em minhas previsões a respeito de produtos que irão mudar o rumo ou reescrever a história em seu segmento.

Meus críticos certamente acharão que estou falando apenas o óbvio, afinal um fabricante de alto nível de equipamentos de áudio hi-end, que faz com maestria prés de linha, DACs e powers, que dificuldade terá em fazer um excelente pré de phono de alguns milhares de dólares?

E eu tenho que lembrar que não é bem assim. Pois conheço dezenas de excelentes fabricantes de excelentes powers, em que seus prés de linha ou DACs não se encontram no mesmo patamar, e quando estamos falando de prés de phono, o caldo entorna um bocadinho mais. Pois sem a cultura do vinil nas veias, pode ser um excelente produto de bancada, com medições fantásticas, mas sonicamente um produto sem alma!

Cansei de ouvir, testar e abortar prés de phono assim.

E como os excepcionais prés de linha de nível superlativo, o mesmo ocorre com os prés de phono. Os que nos fazem entender o encanto de forma integral do analógico, não existem aos montes. Bons prés de phonos, burocraticamente corretos, sim o consumidor achará muitos a partir de 2.000 dólares. Mas quando buscamos encontrar os que nos farão descobrir o quanto o analógico ainda pode nos oferecer em termos de realismo e emoção, esses contam apenas nos dedos das mãos.

Aí vêm as cruciais perguntas: por que existe essa diferença entre os bons e os excelentes? Isso realmente é audível? Perceberei imediatamente a diferença entre ambos?

Sim meu amigo, não só observará, como verá que a sobrevida do analógico é tão consistente. Pois esqueça essa baboseira de modismos ou vintage. Pois o analógico jamais deixou de existir, como ocorreu com a máquina de escrever ou o filme de máquina fotográfica, ou o tape-deck. E não foi por existirem audiófilos e melômanos cabeça-dura, que se entrincheiraram para não deixar o analógico sucumbir. Ele se manteve vivo, pois ainda é, junto com a fita de rolo analógica, a melhor referência de reprodução de música eletronicamente.

Pois se o CD Player tivesse se sobressaído na questão de fidelidade, o analógico seria peça de museu, como a máquina Olivetti ou o videocassete.

Então, antes de valorizar o audiófilo e o melômano que não arredaram o pé, os méritos são todos da topologia. E o mais incrível: é uma topologia que está ainda em franca evolução, em todas as etapas: materiais usados na construção dos toca-discos, motores, braços e cápsulas. O que também exigiu dos fabricantes de prés de phono, soluções que possam acompanhar todas essas evoluções na maneira de extrair a informação existente nos sulcos do LP.

E ouvir um sistema como este que tivemos a honra de testar nesta Edição de Aniversário (leia também os Testes 2 e 3 nesta edição), só nos prova que a distância entre o analógico e o digital ainda se mantém! E ouso dizer: com a tentativa das gravadoras de matarem o CD para aumentar seus lucros e enfiar goela abaixo o streamer, essa distância vai ser ainda maior nos próximos 5 anos!

Depois de ouvir e testar todos os novos produtos da Nagra, a grande expectativa minha era o novo pré de phono da Nagra da série Classic, lançado no segundo semestre do ano passado. Pois minha dúvida era: será que eles terão a mesma mão e talento para produzir um pré de phono tão superlativo, como são o pré de linha e o power da série Classic?

Ouvi muito rapidamente, há muitos anos, o pré de phono deles VPS, e gostei, mas não achei um ponto fora da curva. Por isso minha dúvida.

O novo pré de phono é valvulado, usando quatro tríodos duplos em uma configuração que a Nagra chama de “proprietária”, pelas soluções utilizadas. As válvulas são Genalex Gold Lion feitas sob rigorosas especificações, com tempo de uso de 5 a 10 mil horas. São 2 válvulas E88CC/6922, uma EC81/B739 e uma ECC83/B759.

Os transformadores toroidais MC são fabricados pela própria Nagra, usando os mesmos núcleos do pré amplificador de linha HD.
Na entrada, o ganho de tensão é fornecido pela válvula B759, passando pela ECC83 com filamento helicoidal para um baixo ruído, seguido por uma válvula ECC81, também com o mesmo tipo de filamento da ECC83. A correção é feita por resistor/ auto /capacitor (RCL).

O estágio de saída utiliza uma E88CC por canal (assim como o pré de linha HD), cujo segundo tríodo está na saída do anodo, com baixa impedância.

Os links de sinal são feitos por capacitores polipropileno com especificações personalizadas, e em pontos estratégicos do sinal são usados capacitores com folhas de cobre Jupiter de 0,0265uF, feitos sob especificações da Nagra.

As trilhas de placa são todas folheadas a ouro de quatro camadas. A fonte de alimentação de comutação PWM de alta velocidade (200kHz), é dual mono. E o segredo de sua operação silenciosa (segundo o fabricante) está no desacoplamento pela enorme capacidade de capacitores polipropileno em paralelo para impedância CA zero, proporcionando uma resposta de transientes e redução de ruído ao extremo (sobre o silêncio de fundo deste pré, falarei nas observações auditivas).

No painel frontal temos, à direita, o famoso modulômetro utilizado no Nagra II lançado em 1952. Ele exibe o nível de saída, sendo que o 0dB corresponde a um sinal de 1V/rms. Sendo o canal esquerdo a agulha preta e o direito a agulha vermelha. No outro extremo, temos o famoso botão de controle: off, Mute, Phono 1 (MC) e Phono 2 (MM). Entre o modulômetro e o botão de controle, temos a curva RIAA – que pode ser a normal, Teldec (alemã) ou Columbia LP – botão de estéreo ou mono, e de ganho High ou Low.

Nas costas temos as duas entradas, plug de terra, e saídas RCA e XLR.

Para o ajuste de impedância, o usuário precisará abrir a tampa de cima do aparelho e decidir o jumper ideal para sua cápsula. São cinco opções MC (100, 180, 270, 470 e 1000 ohms), e uma carga capacitiva de 100pF. E uma para MM (47K ohms). Os jumpers para cada impedância vêm em uma caixa à parte, e trocá-los é a coisa mais inteligente e fácil. A placa toda é destacável, e o usuário fará a troca com ela na mão. O jumper é preso por um parafuso que se solta com os dedos. E todos jumpers vêm devidamente sinalizados por números, não existindo o menor risco de erro.

Existe também um ajuste interno para audição do pré em mono (como não tenho nem cápsula mono e muito menos algum LP mono, eu não utilizei este ajuste).

Outra opção é que o Nagra Phono Classic pode tanto ser usado com sua fonte interna, necessitando neste caso apenas de um cabo de força, ou com a fonte externa PSU como utilizamos no pré de linha, também da série Classic. Os que leram o teste do pré de linha, sabem as alterações gigantescas que ele sofreu com o uso da fonte externa.

Será que o mesmo ocorreu com o Phono Classic?

Direi mais à frente, fique sossegado.

Para o teste utilizamos apenas nosso Setup de Referência, com todo o sistema Nagra e as caixas Wilson Audio Sasha DAW. Os cabos de força, quando não ligada a PSU, foram Transparent PowerLink MM2 e o Reference G5. Cabos de interconexão Dynamique Apex XLR e Sunrise Lab Quintessence Aniversário (RCA e XLR).

Ouvi, no total, nas cinco semanas de teste, mais de 150 LPs, alguns completos (lado a & b) e alguns apenas faixas, e o tempo todo ligado aos toca-discos e braço da Origin Live (leia Teste 2 nesta edição) ou ao Timeless Ceres (também com o braço Enterprise 12), e as seguintes cápsulas: Hana Umami Red (leia Teste 3 nesta edição), ZYX Bloom 3 e Grado Platinum Series 3.

Tivemos, nos últimos tempos, a visita de excelentes prés de phono, como o maravilhoso P1 da CH Precision, o Luxman EQ-500, o nosso pré de referência Boulder 508, e o também de excelente relação custo/benefício, PS Audio Stellar. Assim como excelentes toca-discos, como o Acoustic Signature Storm, o Timeless Ceres e, agora, este Origin Live Sovereign. Sem falar de cápsulas excelentes e de nível superlativo, como a SoundSmith Hyperion 2, a Hana Umami Red e a ZYX que acabou de chegar.

Então, nosso nível de referência não pode ser subestimado, e o leitor achar que estamos comparando bijuteria com joia preciosa, pois não é este o caso. Mas o único que pode ser considerado no mesmo nível de refinamento com este Phono Nagra, é o P1 da CH Precision, pois os outros citados pertencem a um outro “campeonato”.

Aqui estamos falando do topo do topo ou, se quiserem, para ser mais enfático, do “Olimpo” do analógico! Pois o que extraímos de cada faixa de cada LP que ouvimos, foi de uma ordem de grandeza tão acima do que estamos acostumados a ouvir, que tentar comparar com qualquer dos prés de phono que já tivemos de referência, será mera perda de tempo.

Me senti novamente com 8 anos de idade, quando percebi as diferenças de palmas em cada sistema dos clientes do meu pai. O disco era sempre o mesmo: Belafonte at the Carnegie Hall, e eu ficava ali no meu canto das salas esperando as palmas só para guardar na memória e depois comparar.

Alguns sistemas eram tão tortos, que as palmas mais se assemelhavam a um efeito sonoro de um papel celofane sendo amassado em frente ao microfone. E quanto melhores eram as palmas, com variações de intensidade, tamanho das mãos e a percepção de que aquilo eram palmas, melhor o sistema tocava. Esta descoberta causou um impacto em mim tão grandioso, que tenho absoluta certeza que a Metodologia ganhou sua versão embrionária inicial naquela fase de minha vida, e ficou hibernando por quase 30 anos!

O mesmo eu posso dizer do Phono Nagra Classic, ao nos apresentar um equilíbrio tonal tão correto e preciso, que ouvir em cápsulas e toca-discos diferentes só enaltece seu grau de neutralidade e fidelidade.

Excelentes prés de phono geralmente se sobressaem por alguns itens que os fazem se diferenciar do lugar comum.

Os superlativos não. Estes se sobressaem justamente por não ter algo pontual a mostrar. Pois tudo está tão na mais perfeita ordem, que o resultado se traduz apenas em um enorme conforto auditivo e uma apresentação musical que difere até mesmo da melhor que você julga já ter escutado. Quando estamos diante deste momento, nos esforçamos para avaliar determinado quesito ou aguardar como aquela passagem irá ser resolvida – e quando percebemos, aquele momento já passou.

Todos nós temos nossos LPs de referência, aqueles que contamos para serem usados somente naquelas situações em que sabemos que estamos tendo a oportunidade única de termos contato com o “inalcançável”, e que precisamos ser assertivos ao máximo. Do tipo: “esperei por este momento por toda a minha vida”. Aí vemos o quanto somos traídos por nossas emoções, a ponto de não conseguirmos escolher o que ouvir. Se isso não aconteceu com você, não se preocupe, pois um dia irá ocorrer.

O contrário também está presente na vida de todo audiófilo: a do sistema que sonhamos em ouvir e, quando de fato ocorre, não é nada do que esperávamos. Mas preste bem atenção neste detalhe, os produtos “notáveis”, aqueles que mudarão para sempre nossa percepção do que é essencial buscar para termos o maior grau de satisfação e prazer, não se parecem em nada com “fogos de artifício”! Lembre-se desta dica para o resto de sua trajetória, amigo leitor.

O correto não se destaca por uma singularidade, ele é correto pela “organização” do todo. É como uma jogada de gênio, que de tão perfeita parece até simples. Se o belo da vida está realmente nos detalhes, o mesmo posso dizer agora dos produtos de áudio “notáveis”.

O André Maltese escutou o pré da Nagra em dois momentos: com a cápsula Hana e com a ZYX. Ele ficou impressionado com a performance do conjunto Origin/Hana com o pré Nagra. Mas sua expressão de “incredulidade” só se transformou em uma frase ao ouvir o Nagra com a ZYX, que é uma cápsula que custa menos de um terço da Hana. Aí ele expressou: “Que pré de phono é esse!?”. E essa manifestação é bem simples de explicar: no primeiro setup tudo é caro, então é obrigação tocar o melhor possível! Com uma cápsula de 7 mil reais, ainda assim, ouvir aquele esplendor de correção, precisão e musicalidade… Aí ele deixou manifestar seu espanto e incredulidade com o que estava ouvindo.

O que este pré de phono exprime é apenas a beleza do sinal que passa por ele. Zero de pirotecnia ou querer reinventar a roda, ou “girar a lâmpada”. Ele só lhe pede coerência e um padrão de qualidade mínimo (como o da cápsula de 1300 dólares da ZYX). Se o sinal tiver um nível mínimo de correção, ele entregará este sinal como nunca ouvi em outro pré de phono, de qualquer topologia ou preço. O mais próximo continua sendo o P1 da CH Precision, sem sombra de dúvida, mas com um detalhe: até aqui, toda descrição feita das maravilhas do Phono Classic, foi com sua fonte interna, pois quando passamos ele para a fonte externa a PSU, meu amigo, aí foi como dobrar a velocidade da luz e sumir no infinito, e além!

Aqui as coisas realmente complicam para qualquer outro phono excepcional, pois tudo se torna ainda mais notável sob qualquer ângulo de avaliação, com um “agravante”: seu silêncio de fundo.

Interessante que, até ouvir ele na fonte externa, era impossível apontar alguma limitação em seu silêncio de fundo. Mas quando trocamos e ouvimos os mesmos discos, no mesmo volume, com os mesmos cabos, é que aquela máxima do “bom ser bom” até aparecer o “ótimo”, se tornou exemplar. Só que neste caso, era o excelente que passou a ser excepcional.

Ainda que tudo ganhe, fiquei com a firme sensação que os mais beneficiados são a microdinâmica (de maneira óbvia, pois quanto mais silêncio, maior facilidade em se ouvir os detalhes), e o palco. Este se torna ainda mais holográfico e 3D. Neste quesito, as obras sinfônicas, em termos de planos, se tornaram espetaculares! E você deve estar se perguntando: mas preciso da fonte externa, se este já é tão correto sem? Realmente não precisa meu amigo. Tanto que dos dois testes que já saíram deste pré de phono, em nem um foi utilizado a fonte externa. Trata-se de um preciosismo, mas que para quem tem um setup todo Nagra, certamente este felizardo irá desejar extrair todo o enorme potencial.

E se ele tiver como sua referência maior o analógico, não acho que ele vá se contentar em não explorar esta faceta adicional, e com resultados tão impressionantes. Eu se tivesse este pré, eu não abriria mão de escutá-lo nas melhores condições possíveis, inclusive em termos de setup: toca-discos, braço, cápsula e cabos.

Mas conseguir ter o Phono Classic já será um feito tão grandioso que não haverá necessidade de subir ainda mais (principalmente para quem não tiver eletrônica Nagra).

Para tentar descrever algumas diferenças que ouvimos neste pré em relação aos outros prés recentes testados, escolhi aqueles discos em que essas diferenças foram mais “explícitas”.

O Keith Jarrett – The Köln Concert, também conhecido como “álbum branco”. Quem tem este disco, principalmente a prensagem nacional, sabe o quanto a última oitava da mão direita soa com excesso de brilho e um som duro (em alguns setups fica pior que ouvir em CD). Os melhores setups analógicos conseguem dar uma amenizada nesse problema, mas deixar agradável, é bem difícil. A não ser que você radicalize e use um pré e cabos com pouca extensão, mas vai comprometer toda a região média-alta, pois não tem milagre.

O Nagra corrige sem se perder nada? Não existe o milagre de transformar o ruim em bom, mas o Nagra, pela primeira vez, nos permitiu ouvir que apesar do piano ser ruim (tanto que o Keith tentou desistir de tocar aquele concerto), ele tem realmente feltro nesta oitava, e poder ouvir esse “detalhe” deixou esta região muito mais audível! O que é um mérito e tanto, pois o disco é primoroso ainda hoje. Sendo o que chamo de obra atemporal. Minha filha quando ouviu desta vez, achou que eu tinha conseguido uma nova gravação importada (ela adora este disco).

Sobre o segundo LP, já escrevi tantas vezes a respeito que não vou me estender. Friday Night In San Francisco (McLaughlin, Di Meola, de Lucia) – Lado 1 faixa 1. Al Di Meola no canal direito e Paco de Lucia no canal esquerdo. Outra gravação difícil tanto em termos de equilíbrio tonal como de transientes e corpo. Excelentes setups reproduzem este disco com boa margem “de segurança”. Mas os detalhes de “intencionalidade” e virtuosidade, só os de nível superlativo oferecem. Pois bem, o Nagra conseguiu ir além ao mostrar um detalhe que nunca antes havia escutado. Muitos leitores que tem este disco, sempre me falam que tem a sensação que o violão do Al Di Meola é melhor que o do Paco, pois parece mais alto e dá a sensação de maior dinâmica. Dependendo do setup que tive nestes últimos 15 anos, muitas vezes tive esta mesma impressão.

E eis que o Nagra nos corrige esta falsa impressão, ao mostrar que a qualidade do violão do Paco de Lucia é tão boa quanto a do Di Meola, e que não há nenhuma diferença de altura nos volumes. As diferenças são das técnicas: uma é dedilhada (Paco) e a outra é palhetada (Di Meola).

Para ter certeza do que estava escutando, ouvi primeiro a versão 33 RPM e depois a 45 RPM, pois ambas foram extraídas de masters distintas. E não há essa diferença de volume.

Aí chegamos a um outro disco, que de tanto ouvir já sonhei com ele como trilha de fundo (não ria, pois é verdade). Waltz For Debby, do Bill Evans Trio, gravado ao vivo no Village Vanguard, em 25 de junho de 1961. É tão bem gravado que, para soar ruim, o setup analógico tem que ser torto de doer. Mas algumas coisas, em setups excelentes, variam e muito, como: corpo dos instrumentos, posição do baterista Paul Motian, e os agudos dos pratos e das duas últimas oitavas da mão direita do piano.

A qualidade dos pratos já foi motivo de longas discussões com meu filho e amigos bateristas. Para eles (os bateristas), os pratos dos anos 60 soavam escuros, com mais corpo do que extensão. Pois bem, mostrei para todos (e tive meu dia de glória, pois nunca tinha concordado), os dois lados do disco, as seis faixas, e deveria ter filmado a cara de todos eles. Não conseguiram acreditar no que ouviram. Um deles até chegou a dizer que não vale, pois se só escutamos em um pré de phono que custa o valor de um carro bom, ele não tem culpa de concluir que os pratos soavam pobres!

A verdade meu amigo: como eram bons os pratos, tanto em corpo como extensão e decaimento! O corpo do contrabaixo do Scott LaFaro é assustador em termos de realismo e tamanho, é estar literalmente a cinco metros do palco. E o mesmo se pode dizer tanto do corpo do piano, como de que o equilíbrio tonal na mão direita não está acentuando para o brilho em excesso.

Outra agradável surpresa: Patricia Barber – Companion. Quantas vezes escutei reclamações de leitores se queixando que o agudo do órgão Hammond B3 é duro e incomoda. Ou que falta peso na faixa Black Magic Woman, mais peso e deslocamento de ar na parte final do solo de bateria e das percussões. Aqui, novamente, em excelentes setups, o prazer de escutar este disco é pleno. Tanto que já mostrei, em diversos Hi-End Shows, em setups muito abaixo do que temos hoje, e era um dos pontos altos da apresentação analógica.

E o Nagra veio mais uma vez para nos mostrar que o Hammond B3, no agudo, não fere nossos tímpanos, que este disco é para se escutar em volume alto (com picos na parte final de quase 100 db) e que se for nele, sua folga é tão gigantesca que a vontade de bater palma e gritar no final com a plateia é genuína!

Veja que estou pontuando detalhes de LPs que estão comigo há décadas, então os conheço soando em dezenas de setups distintos, e que cada setup anterior a chegada do Nagra tinha algum detalhe “pessoal” a acrescentar.

Com o Nagra, todo este panorama é refeito. Pois ele trabalha no todo e não nas partes, ou no que os projetistas de prés de phono acham elementar ser enfatizado. E como todo produto Nagra, a filosofia é: realismo, naturalidade e folga absoluta!

Outra pedreira: Shakti – A Handful Of Beauty. Talvez o disco mais difícil de se conseguir o equilíbrio tonal necessário. Pois quando ajustamos os graves para fazer as tablas terem a energia e deslocamento de ar que a gravação captou, e fazem toda a diferença na “vida” e beleza deste trabalho, borra o extremo agudo, matando os harmônicos do violino. E quando se conserta em cima, as tablas perdem o peso e deslocamento de ar.

Este é um dos discos mais cruéis com cápsulas que já usei, para fechar nota no quesito equilíbrio tonal! É complicado. A solução é um setup analógico perfeito em termos de equilíbrio tonal e muita folga. Do contrário, acompanhar o violão e o violino é um trabalho de concentração quase impossível. O Nagra simplesmente resolve todos os obstáculos simultaneamente, e ainda agrega um componente que estava escondido atrás dos obstáculos: a intencionalidade e a virtuosidade do quarteto.

É de um prazer que não possui adjetivo para expressar, o grau de admiração e contemplação, por ser um dos LPs que mais gosto de escutar, e que por isso sempre relevei todas as dificuldades que qualquer setup apresentava. Pois achava que não haveria solução para esses problemas.

Aí conseguimos (penso eu) explicar o que tem este pré de tão diferente a todos os outros que ouvimos e testamos. O problema está em conseguir desmembrar o complexo, de tal forma que não se torne enfadonho ou perca a integridade. E quando você se dá conta que existe um equipamento capaz de fazer este árduo trabalho, acrescentando e não dividindo, você compreende o grau de magnitude alcançado pelo Phono Classic.

Nagra Classic PSU

Deste momento em diante, em vez de dar preferência aos discos bem gravados, fiz o caminho inverso, fui buscar os LPs que não abro mão de escutar pelo grau de qualidade artística, mas que sempre lamentei não serem bem gravados.

E um dos primeiros foi o Nó Caipira, do Egberto Gismonti. Cara, como eu gosto deste LP! Ele me diz tanta coisa, foi um momento da minha vida de tomadas de decisões pessoais e profissionais tão importantes que me fala fundo ainda hoje. Pois me faz olhar para trás e ver que as decisões me trouxeram até aqui e por estas decisões sou muito grato a tudo!

Mas ele soa tão duro. Os pratos, o piano as cordas. Sempre pedi um pouco mais de calor e equilíbrio, apenas isso, para poder escutar em volumes mais altos, como as faixa Frevo, Nó Caipira e a maravilhosa Maracatú.

Dizem que quando a oração é forte, você é atendido, rs. Pena que o Milagre durou apenas 5 semanas! Mas valeu cada segundo que convivi com este Nagra, pois como no início da revista, achei forças para esticar os dias até às duas da manhã, ainda que às seis precisasse estar de pé novamente para acordar minha filha para as aulas online.

A folga do Nagra é tão excepcional e sua precisão e fidelidade no equilíbrio tonal, tão corretas, que consegui escutar o Nó Caipira com mais prazer, menor fadiga e o que sempre sonhei: no volume correto da gravação. UAU! É tudo que tenho a dizer!

Nagra Classic PSU

The Beatles – Love, é possível ouvir com enorme prazer em qualquer sistema analógico decente, então o que o Nagra pode acrescentar a este belo trabalho? Refinamento nas texturas e detalhes nas colagens montadas com tanto esmero, para ligar uma faixa a outra. Meu amigo, escutei detalhes nessas colagens que me deram uma ideia exata do baita trabalho que foi montar essas passagens. Em outros setups, nas colagens eu escuto o tema ou o efeito sonoro principal, mas elas têm camas harmônicas, tem frases de notas de outras músicas que não puderam ser aproveitadas no espetáculo. E as texturas dos arranjos de cordas que foram criadas para o disco Love, são de um cuidado e requinte que parecem ser da master original.

Aqui, novamente o Nagra, sem jogar luz ou chamar a atenção para si, resolve detalhes que em qualquer outro grande pré nos passou despercebido.

Duke Ellington – Blues In Orbit. Quando este disco foi lançado em 2 de dezembro de 1959, eu tinha apenas um ano e dois meses, incompletos. Gosto de pensar como algo tão antigo, quase que da minha idade, pode me ser tão valioso. Este é um disco que desde que me entendo por gente, ouço. E ele já tocou em setups meus sofríveis, e só começou a ter o respeito devido e merecedor quando tive meu Thorens TD 124 com cápsula Stanton 500. Aí que comecei a entender a complexidade e genialidade dos arranjos. É outro disco atemporal! Até meu filho curte.

Mas foi de 2012 para cá que este disco ganhou a importância que merece para a Metodologia, por ajudar a avaliar os quesitos: equilíbrio tonal, corpo e textura. O naipe de metais e os solos de clarinete, trompete e sax, exigem demais do sistema. Em um sistema acima de 95 pontos bem ajustado, é um deleite escutar este disco, mas é acima de 100 pontos, onde você pode ouvir nos volumes certos para uma big band, que o bicho pega.

Aqui se o sistema não estiver um “brinco”, não rola! O Nagra foi alguns quilômetros à frente ao permitir: volume correto, texturas impressionantes e um equilíbrio dos solos de trompete, saxofones e clarinetes, sem agressividade, e um realismo de nos arrepiar os pelos dos braços (e olhe que sou duro para isso ocorrer).

Chegamos no último exemplo que gostaria de compartilhar, antes de minha conclusão final.

We Want Miles, do Miles Davis, gravação ao vivo de uma turnê de 81, com faixas das apresentações em Boston, Nova York e Tóquio. Quem tem este LP sabe da diferença “irritante” da qualidade técnica de cada faixa. Algumas soam até que bem, para uma apresentação ao vivo, mas é impossível manter o mesmo nível em ambientes tão distintos.

Também é um disco como tantos outros, que abstraio a limitação técnica e foco na qualidade artística. Ele exige demais do setup, principalmente da cápsula e do pré de phono – na maioria dos setups o som é magro, a região média é predominante, matando as duas pontas. E como a região média predomina, muitos detalhes de percussão e teclados somem nos solos longos (típicos das formações a partir dos anos 80 do Miles).

Tenho a prensagem nacional, feita pela Bruno Blois em comemoração aos seus 25 anos, uma prensagem inglesa (presente do amigo Tarso – nosso colaborador), e em CD a versão japonesa.

Adivinhem qual escuto mais? O CD, pois até então era a mais equilibrada.

O Nagra, se meu pai estivesse vivo, diria que veio botar ordem no galinheiro, com sua exuberância e sua folga infinita. Ele só não fez milagre com a prensagem nacional, neste caso é ainda melhor ouvir o CD japonês. Mas com a prensagem inglesa, meu amigo, que show! Foi possível ouvir os detalhes (importantes de andamento, contraponto e de cama harmônica), e quantos detalhes!

CONCLUSÃO

Ainda tinha tanto para contar, meu amigo!

Mas sei que as novas gerações são avessas a textos longos, e os mais velhos avessos a ler a revista em uma tela de computador, então acho melhor acabar antes que perca os leitores jovens e os de mais idade. E só sobre os de meia idade, rs!

Como sempre escrevo, na armadilha de que este é o “melhor do mundo”, esqueçam que jamais me verão escrever tamanho descalabro! Pois sem ouvir todos, é impossível afirmar isso.

O que posso afirmar, sem o risco de estar cometendo alguma injustiça com todos os que ainda não testamos, é que este Nagra com sua fonte interna já é o mais refinado e correto em termos de timbre e equilíbrio tonal, de todos os prés de phono já testados por nós.
E com a fonte externa, ele ultrapassa ainda mais este tão alto grau de correção.

Ele se coloca em uma situação tão confortável, que se torna a opção mais inteligente e segura para todos que querem o nirvana sonoro, utilizando-o com sua fonte interna.

E para aqueles que desejam extrair o supra sumo de qualquer gravação analógica, e ombrear o LP com as fitas analógicas de rolo, sugiro ele com o uso da fonte PSU externa. Com ela, este pré de phono é simplesmente a maior nota da revista em seus 25 anos de existência!


PONTOS POSITIVOS

Notável em todos aspectos que um produto hi end pode atingir.

PONTOS NEGATIVOS

Seu preço, indubitavelmente.


ESPECIFICAÇÕES
Ganho MM37,7 dB / 47,7 dB
Ganho MC53,9 dB / 63,9 dB
Resposta de frequência20 Hz a 50 kHz (+0,6 dB / -0,2 dB)
Relação sinal-ruído>-82 dB
Crosstalk>-75 dB
Fase entre canais<4°
Impedância de saída<500 Ohms
Válvulas2x E88CC / 6922, 1x ECC81 / B739, 1x ECC83 / B759
Dimensões (L x A x P)310 x 76 x 254 mm
Peso5,4 kg
NAGRA CLASSIC PHONO (COM USO DA FONTE INTERNA)
Equilíbrio Tonal 14,0
Soundstage 14,0
Textura 14,0
Transientes 14,0
Dinâmica 13,0
Corpo Harmônico 14,0
Organicidade 13,0
Musicalidade 14,0
Total 110,0
NAGRA CLASSIC PHONO (COM O USO DO CLASSIC PSU)
Equilíbrio Tonal 14,0
Soundstage 15,0
Textura 14,0
Transientes 14,0
Dinâmica 14,0
Corpo Harmônico 15,0
Organicidade 14,0
Musicalidade 15,0
Total 115,0
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
ESTADO DA ARTE SUPERLATIVO



German Audio
contato@germanaudio.com.br
Preço sem fonte: R$ 185.600
Fonte externa PSU: R$ 148.800
O conjunto com desconto, saí por: R$ 284.240

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