Teste 3: CAIXAS ACÚSTICAS ELAC DEBUT 2.0 F5.2

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

A marca alemã Elac me é familiar já faz vários anos. Mesmo quando elas ainda eram projetadas e produzidas pela empresa na Alemanha, com cones mais sofisticados de sanduíche de metal com papel, tweeters tipo AMT (Air Motion Transformer, também conhecido como ‘folded ribbon’), gabinetes impecáveis com pintura preto-piano, e etiquetas de preço igualmente sofisticadas – como era a Elac FS249, uma das minha torres preferidas por anos, por sua musicalidade e naturalidade.

SOBRE A ELAC

A Elac não é muito conhecida nem disseminada em nosso território sul-americano, a não ser nos últimos 10 a 15 anos. Mas antes disso já tinham uma longa história, com mais 95 anos de existência, primeiro com desenvolvimento de tecnologias para sonar, e depois da Segunda Guerra com a fabricação de toca-discos de vinil, que continuou até a década de 1980. Em 1984 começaram a fazer caixas acústicas, as quais são bastante consideradas até hoje no mercado vintage europeu.

Então foi muito legal saber que elas passariam a ser projetadas pelo guru Andrew Jones, assim como esse trabalho passaria a ser feito nos Estados Unidos – o que eu considerei um golpe de mestre da empresa, provendo à marca uma, hoje, altíssima consideração por parte dos americanos, competindo lindamente no seletivo mercado interno deles.

Além disso, a escolha da Elac em começar, com Jones, com uma linha barata, de entrada, foi um ‘golpe de misericórdia’ em muitos concorrentes, e a minha felicidade – pois acabei mais perto de poder adquirir um par delas como referência em meu sistema!

O projetista de caixas acústicas inglês Andrew Jones, teve seu período mais relevante e reconhecido no mercado audiófilo, por passar um longo tempo na empresa japonesa Pioneer (com ênfase em sua marca hi-end TAD), e nos anos que duraram até o final de 2021, na alemã Elac. Jones, radicado nos EUA, estabeleceu seu laboratório de desenvolvimento na Califórnia, com a chamada Elac America. Ao mesmo tempo que ele ficou célebre por fazer caixas acústicas fenomenais – quase um pop star no meio audiófilo – todas as mais famosas delas foram de entrada e com bons preços. E com custo/benefício incrível, como a book BS22 e a torre FS52, ambas da Pioneer – até onde eu sei, as únicas caixas dessa marca que são audiófilas – e as linhas Debut, Debut 2.0, Debut Reference, Uni-Fi e Uni-Fi 2.0, da Elac – que estão entre seus mais recentes trabalhos.

SOBRE AS F5.2 & SETUP

A atual linha Debut 2.0 possui duas torres: a F6.2, com três woofers de 6 polegadas, e a ‘menorzinha’ F5.2 que tem três woofers de 5.25 polegadas de fibra de aramida (fibra sintética leve e rígida também conhecida como Kevlar), um tweeter de domo de tecido de 1 polegada com um guia de ondas de alta dispersão que o leva até 35kHz, três vias, três dutos, apenas um par de bornes de metal (não pode ser bi-cablada), mais de um metro de altura, e spikes parafusáveis para você desacoplá-las do piso e regular seu nivelamento.

As F5.2, como carga, são fáceis para os amplificadores, com seus 6 ohms, mas precisam de boa potência e qualidade para obter equilíbrio e autoridade. Usei-as com dois integrados que dão 50W em 8 ohms (sobre nenhum deles tenho o dado de potência para 6 ohms, mas é um pouco mais do os 50W) sendo que um deles dobra a potência em 4 ohms e o outro não. Em ambos o resultado foi excelente em matéria de uso do volume e quanto ao controle das caixas, mesmo em baixos volumes, mas não recomendo ir abaixo disso em matéria de potência – não que você não obterá volume de som com menos potência, mas sim que não exercerá o mesmo nível de controle das caixas, principalmente dos graves, e não terá a mesma qualidade de equilíbrio tonal, entre outras coisas.

O posicionamento das F5.2 é surpreendentemente fácil. Ajustes mínimos de distância do fundo e de paredes laterais são necessários – mas para esses não existe receita: tem que ir ouvindo e ir ajustando, para desespero dos que morrem de medo de usar seus ouvidos. A mesma coisa se aplica ao pequeno toe-in, cortesia do guia de ondas do tweeter que faz o palco ser enorme. É muito fácil adquirir uma imagem central com bom foco com as Elac F5.2.

O nível de compatibilidade dessa caixa – uma das mais equilibradas que eu já ouvi – é altíssimo. Se respeitada uma mínima boa potência para controlá-la, acho que por ser tão natural e musical, ela conseguiria ir bem tanto com valvulados como com transistorizados, e até com classe D! Quanto a todos os cabos envolvidos, fontes digitais e analógicas, e seus devidos acessórios, eu sempre procuraria características e contribuições sonoras com bom equilíbrio tonal, em todos esses. E, claro, ao começar um sistema com essa caixa, você pode usar equipamentos e periféricos categoria Ouro ou Estado da Arte inicial, mas saiba que ela irá responder muito bem a fontes e amplificações Estado da Arte intermediárias, equilibradas e com boa autoridade sonora. Ela tem para onde crescer.

Feitas de MDF e cobertas com vinil preto com uma textura que imita madeira, elas são bastante sóbrias e com design e acabamento bem feito, mas convencional. Isso, na minha opinião, foi o ‘preço’ a se pagar para ter o dinheiro do desenvolvimento gasto no projeto dos falantes proprietários e do divisor bem bolado – ou seja, na qualidade sonora, não em um visual luxuoso. A construção das F5.2 é excelente, de alta qualidade física, e o gabinete é bem sólido e bem travado internamente, lidando muito bem com vibrações e afins. E, os falantes terem seus cones pintados de cinza e o legal guia de ondas do tweeter, ambos fazem a caixa ter um visual muito legal.

SISTEMA

Para o teste das Elac F5.2, usei os seguintes equipamentos. Caixas acústicas: Energy C-50, e Emotiva B1. Amplificadores: Emotiva TA-100, e Aiyima A06. Fontes digitais: DAC interno do integrado Emotiva, Bluetooth uGreen, Google Chromecast Audio – todos com streaming de arquivos digitais armazenados em disco rígido, e com serviços de streaming pela Internet. Cabos: Sunrise Lab. Acessórios: um sortimento deles.

AMACIAMENTO

Com as F5.2 chegando lacradas para mim, começou o longo e exigente processo de amaciamento delas: 200 horas! E isso significa 200 horas de incômodo para todo mundo à minha volta, e ainda assim não dá pra deixar caixas amaciando durante a noite, infelizmente. Mas, caro leitor, devo dizer: vale a pena a espera e o trabalho! E muito!

Antes de começar o amaciamento, as minhas primeiras impressões foram: o palco desde o zero impressiona, e os graves descem bem e têm bom corpo (isso muda durante o amaciamento, quando os médios-graves dão uma sumida, mas não se preocupem, pois eles voltam depois, com vontade). Nesse primeiro momento, os agudos não tem extensão, mas isso aparece depois com beleza e precisão. Há, claro, como em toda caixa, um ‘desencaixe’ entre o grave e o médio-grave, e entre o médio-agudo e o agudo. O desencaixe do grave é muito bem resolvido lá pelas 120 horas de amaciamento, e o do agudo só lá pelas 180 a 200 horas, quando o médio-agudo recua e fica natural e equilibrado. Amaciamento é isso aí! E para as Elac F5.2: 200 horas!

COMO TOCAM

As Elac F5.2 tem um som mais para o quente, com muita profundidade e descongestionamento, e na maior parte do tempo não conseguem causar agressão ou serem analíticas. Quem quer uma caixa frontalizadora que ponha a cantora um metro na sua frente – uma situação completamente artificial – não vai querer as F5.2. Quem quer ter um som analítico e hiper detalhista, ‘hiper realista’, que mostre o bafo de alho do trombonista, as F5.2 não são para ele.

O equilíbrio tonal é excelente, trazendo uma característica que o Fernando Andrette adora: inteligibilidade em baixos volumes. Agudos com clareza sem serem ofensivos, médios bonitos e com belas texturas e bem integrados com os agudos. Os graves descem bem mais do que diz a especificação, então as F5.2 tem um bom porão. Já vi muita caixa descer bem, mas não ter peso no médio-grave, e esse não é o caso das F5.2: há porão, há tamanho e há peso, e há recorte, pois não é um grave borrachudo, não! O médio-agudo e o agudo poderiam se beneficiar de mais tamanho, recorte e presença – mas isso se espera de caixas bem mais caras.

Quanto ao palco, o som é separado e muito profundo, limpo, muito descongestionado – coisas que poucos anos atrás só se encontravam em caixas muito mais caras. Faixas que antes eram frontais e uma só massa sonora, que em outras caixas de bom preço eram muito comprimidas, agora ficaram ‘soltas’. O palco tem excelente largura e altura – em uma faixa ‘à capella’ do disco Strange Angels, da Laurie Anderson, em um momento há uma segunda voz, essa masculina, em uníssono com ela, e nas F5.2 você percebe que o homem é mais alto que ela! O palco delas é uma experiência ‘fora da caixa’ em muitas gravações – ou com integração natural entre o que acontece na caixa e o que acontece fora delas em outras gravações, fazendo uma imagem natural em toda sua largura.

O equilíbrio e os timbres providos pelas F5.2 – casadas em um bom e bem acertado sistema – sempre te mostrarão texturas bonitas e realistas, onde ficarão bem claras as diferenças entre bons ou maus instrumentos, e se esses foram bem captados ou não nas gravações.

Quanto à transientes, dá para perceber facilmente as diferentes intencionalidades e velocidades dentre uma massa de vários instrumentos – como o uso de várias percussões diferentes tocando ao mesmo tempo na trilha sonora da versão moderna da série Battlestar Galactica, concebida pelo jovem e prolífico compositor Bear McCreary. Neste caso, é um disco gravado ao vivo, um concerto com os melhores momentos da trilha da série, chamado So Say We All – Battlestar Galactica Live.

Com tremenda microdinâmica, não são caixas viscerais, e sua macrodinâmica tende mais à naturalidade do que aos ‘arroubos de paixão’. Isso quer dizer que crescendo de música mais complexa como a orquestral, por exemplo, são sutis e naturais – não chamam a atenção ao acontecer, simplesmente acontecem.

Como dito sobre o equilíbrio tonal (os quesitos são todos bastante interligados), o que eu acho que falta nas F5.2, para serem no mesmo nível de ‘supercaixas’ ultra hi-end (além de visceralidade) é o corpo harmônico trazer aquele brilho e tamanho e recorte extras ao médio e ao agudo, que faz as caixas topo parecerem ‘realidade virtual’. Entenda aqui que, se as F5.2 tivessem esse corpo a mais, elas competiriam com caixas que têm até dois zeros a mais na sua etiqueta de preço. Porque, amigo, pelo preço atual delas, eu teria dificuldade de dizer alguma outra caixa melhor!

A capacidade dessas caixas de serem orgânicas – de mostrarem de maneira mais orgânica e realista o acontecimento musical real – só não recebem nota mais alta, exatamente pelo que eu falo acima sobre o corpo harmônico.

Como nosso moderno e salutar editor chefe costuma dizer: os produtos mais Musicais – que melhor têm a capacidade de reproduzir música como ela é em todas suas características – são aqueles cujas notas todas são as mais próximas possível. E as torres Elac Debut 2.0 F.5.2 são esse tipo de equipamento!

CONCLUSÃO

atural, musical, orgânica, equilibrada, a Elac Debut 2.0 F5.2 é o ponto de partida, o alicerce ideal para um sistema de entrada bem equilibrado. E se a amplificação escolhida for no mesmo nível financeiro da caixa, saiba que em um ou dois próximos upgrades, ela é que permanecerá – como um farol em um porto seguro – pois ela ainda terá um bocado de ‘garrafa pra vender’, como diz nosso arrojado editor Fernando ‘Amigo Leitor’ Andrette.


PONTOS POSITIVOS

Caixa Estado da Arte com alta musicalidade e baixa fadiga, por preço de caixa padrão consumer.

PONTOS NEGATIVOS

Por esse preço, absolutamente nenhum.


ESPECIFICAÇÕES
TipoBass Reflex de 3-vias
Resposta de frequência42 Hz – 35.000 Hz
Impedância nominal6 Ohms
Sensibilidade86 dB @2.83v/1m
Frequências de crossover90 Hz / 2.200 Hz
Potência máxima140 Watts
Tweeter1” Domo de tecido
Woofer3x 5-1/4” de fibra de aramida
GabineteMDF padrão CARB2
AcabamentoVinil Black Ash imitando madeira
Dutos3
BornesMetal
Dimensões (L x A x P)18 x 102 x 23 cm
Peso15,6 kg
CAIXAS ACÚSTICAS ELAC DEBUT 2.0 F5.2
Equilíbrio Tonal 10,5,
Soundstage 11,0
Textura 11,0
Transientes 11,0
Dinâmica 10,0
Corpo Harmônico 10,5
Organicidade 10,0
Musicalidade 11,0
Total 85,0
VOCAL
ROCK, POP
JAZZ, BLUES
MÚSICA DE CÂMARA
SINFÔNICA
ESTADODAARTE



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