Espaço Aberto: SUBJETIVISTAS VS OBJETIVISTAS: JOGANDO XADREZ COM UM POMBO

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Vivemos em um mundo polarizado. Se você gosta de iogurte, vai ter do outro lado um intolerante a lactose que não se contenta em ser do jeito que ele é, e não aceita que você seja do jeito que você é, e vai panfletar que a verdadeira felicidade e equilíbrio – superior ainda ao de quem atravessa as Cataratas do Iguaçu andando em uma corda – é o de desprezar todos os produtos lácteos para que ele se sinta bem com a intolerância (em vários níveis) dele. É a socialização da miséria, pois no fundo alguns defensores de algumas ideias, práticas e filosofias parecem ser miseráveis enquanto não estragarem a filosofia do outro.

Ultimamente tem havido um bocado de discussão sobre o Subjetivismo e o Objetivismo na análise de equipamentos de som. Bom, digo na análise dos “equipamentos”, porque se dissesse que era na análise da qualidade sonora deles, todos os que acreditam que a mesma deve ser percebida através de especificações e medições de laboratório, deveriam perceber, por analogia, o quão inapropriado seria sentar-se em um restaurante e pôr um pedaço do Camarão ao Catupiry em um espectrômetro de massa, para ver se ele é ‘gostoso’ ou não.

Engraçado que, se disserem que ‘comida gostosa’ é subjetivo (no sentido de ‘cada um tem o seu gosto pessoal’), vale lembrar a quantidade gigantesca de pratos e tipos de comida que são universalmente tidos como gostosos. O problema principal é que as pessoas comem criticamente em cada mordida, reclamando da textura, gosto, temperos, excesso disso ou falta daquilo, cozido de mais ou de menos, do uso de ingredientes de baixa qualidade etc., mas as pessoas não ouvem criticamente – mesmo depois de lerem revistas e verem vídeos sobre o assunto e de seus equipamentos. Aprender sobre comida em suas qualidades aparentemente está no DNA da maioria das pessoas. Aprender sobre áudio, reprodução eletrônica de música, e sobre suas qualidades aparentemente causa algum tipo de desgosto em muita gente, que em vez de aprender os aspectos qualitativos dessa percepção, prefere que haja um esquema que lhes deem as respostas prontas.

O subjetivista, em geral, acredita que tudo é uma questão de opinião, e na maioria das vezes não consegue expressar o que ouviu – para outras pessoas entenderem – simplesmente porque seus adjetivos são meio ‘etéreos’, meio ‘artísticos’. Se você não está no mesmo ‘comprimento de onda’ desse revisor, a sensação é a mesma de definir que o melhor hambúrguer da cidade é um onde o ambiente é alto-astral e a clientela é bonita, reduzindo o hambúrguer ao seu valor nutricional…

Volto a dizer que, aqui na revista, somos ‘subjetivistas’ com uma longa e detalhada Metodologia, que necessita de uma dedicação para compreender, e com Referência tanto de como soam os instrumentos acústicos ao vivo, presencialmente em um ambiente real acústico, como também os conhecemos em estúdio e através de técnicas de gravação – algo essencial para se ter certeza de que um equipamento está, ou não, mostrando organicidade, algo mais ou menos próximos de Qualidade da música. Assim como, também, temos Referência sonora da maioria dos melhores equipamentos de mercado. Eu diria que somos praticamente ‘Subjetivistas
Objetivos’, rs…

E já admitimos aqui na revista, várias vezes, a necessidade de que desenvolvedores, designers e fabricantes de tudo quanto é tipo de equipamento, têm de medições e especificações corretas e precisas de todos os componentes que usam e que fabricam.

O objetivista pensa que as especificações e as medições de laboratório irão dizer como o aparelho toca. Mas ignoram que as mesmas praticamente só dizem aspectos Quantitativos (mais ‘isso’, menos ‘aquilo’), e muito pouco ou nada dos Qualitativos. Engraçado como, nessa hora, não associam a palavra ‘Qualitativo’ à expressão ‘Qualidade de Som’. Bizarro, né?

Acompanhando sempre o que acontece no mercado, lendo sites, reviews, assistindo vídeos no YouTube, participando de fóruns e grupos de discussão, vejo que a polarização do mundo de hoje tomou conta da audiofilia, travando uma eterna discussão entre Subjetivistas e Objetivistas. Uma discussão onde poucos são razoáveis e sensatos. Uma discussão onde não querem compreender quem é subjetivista mas tem Metodologia e Referência (o que faz uma diferença que nem o dia e a noite), e nem querem compreender o limite qualitativo da importância e aplicabilidade das medições e especificações, esquecendo-se de ouvir e tirar a ‘prova dos nove’ com o resultado final sonoro, que é o que importa.

Por isso que o comportamento de muitos hoje me lembra um pouco o comportamento do fanático religioso, que não aprende mais nada e nem muda mais nada daquilo que acredita, misturado com a piada do “Jogando Xadrez com um Pombo”: quando você joga com o pombo, o mesmo derruba todas as peças, faz seu excremento no meio do tabuleiro, e ainda sai se vangloriando de ‘ter ganho’ o jogo!

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