Opinião: O CERTO E O ERRADO NA MONTAGEM DOS SISTEMAS

PLAYLIST DE ABRIL
abril 6, 2022
Opinião: O MITO DO AMPLIFICADOR DE POUCOS WATTS COM CAIXAS DE ALTA SENSIBILIDADE
abril 6, 2022

Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Eu sabia que haveria repercussão do Opinião da edição de março, afinal se trata de um tema espinhoso, e que muitos audiófilos querem passar bem longe dessa questão. Afinal, admitir publicamente que erramos é necessário se ter humildade e maturidade. E são duas qualidades que só ganhamos com muita vivência, e a capacidade de aprendermos a rir de nós mesmos e de nossas inúmeras idiossincrasias.

No entanto, para minha surpresa, o número de pessoas agradecendo e elogiando o tema foram substancialmente superiores às críticas. O que me incentivou a continuar nesse tema por mais alguns Opiniões, e também ‘cutucar’ outro problema recorrente, e muito comum, que são as Salas de Audição.

Se até o início deste século eu era complacente com a resistência que a grande maioria dos leitores tinham em entender a importância de um tratamento acústico em suas salas, já que os dispositivos acústicos eram caros e difíceis de achar no país. Hoje a realidade é totalmente inversa. Pois existem acessórios acústicos que você pode comprar até em kit e instalar em sua sala de audição!

E quando deparo com tantos erros ‘banais’, de sistemas caros em salas medíocres, me pergunto a razão de ainda existir tanta resistência a se fazer a coisa certa. Será que esse audiófilo acredita que um sistema hi-end possa ‘driblar’ os limites acústicos de uma sala? Ou ele acha que a tecnologia atual consegue resolver esses problemas?

E quando ele insiste em colocar um sistema caro em uma sala não tratada, ele não percebe o quanto o sistema está sendo subutilizado? Ou será que muitos audiófilos não desejam apenas ostentar seus setups, e a performance final é um mero detalhe?

Acho que existe um pouco de tudo, amigo leitor, afinal a psique humana é bastante complexa para se ter uma única resposta.
Então, este artigo não será de nenhum interesse para o nosso leitor que acha que sala não é nenhum problema, mas para os que sabem o valor do seu dinheiro e o quanto que ralaram para montar o sistema dos sonhos, acredito que os exemplos que eu e o Christian Pruks selecionamos podem ser um bom ponto de partida para não se cometer erros tão ‘clássicos’ e recorrentes, que vemos em postagens pelos diversos sites de áudio que correm o mundo.

Alguns de tão ‘esdrúxulos’, beiram a comédia! Mas, acreditem, são salas de audição de verdade, e algumas com sistemas na casa dos milhões de dólares.

Outros, de tão bizarro, nos levam a acreditar que se trate de ingenuidade ou desconhecimento elementar de acústica e de posicionamento de caixas.

Porém, independente da justificativa que o dono desse sistema tenha na ponta da língua, eles estão literalmente incorretos!
Se você não deseja fazer parte dessa legião de audiófilos, aprenda com esses erros.

Separamos 17 salas, com defeitos que vão do simples erro no posicionamento das caixas, aos mais ‘impressionantes’, como tentar colocar um elefante dentro de uma Kombi!

Sala 1

Na Sala 1 temos um sistema aparentemente vintage, em que são cometidos dois erros clássicos de iniciante: caixas muito próximas da parede às costas do sistema e um rack no meio das caixas. Esse sistema não permite que as caixas e a imagem sonora respirem, e consequentemente o ‘palco sonoro’ está totalmente comprometido. E arrisco dizer que o equilíbrio tonal também esteja.

Sala 2

A Sala 2, como não se trata de um sistema hi-end e sim um mid-fi, escolhi apenas para lembrar aos nossos leitores que possuem caixas bookshelf, que o que estão vendo nessa foto é tudo que não devem fazer com as suas caixas monitores. Books precisam estar com o tweeter na altura do ouvido, com uma distância mínima de 1,80 m a 2,0 m entre elas, e também precisam de um distanciamento tanto lateralmente, como na profundidade.

Do contrário, se perde uma das maiores vantagens de caixas book: o foco, recorte e profundidade. E, também, tão essencial quanto essa dica do posicionamento: se tiverem que ser instaladas em um móvel, que as prateleiras sejam grossas o suficiente para não interferir na resposta de grave.

Sala 3

A Sala 3 está repleta de erros, principalmente se o usuário mantiver a porta do armário aberta para poder ter acesso ao equipamento pelo controle remoto. Se ele fechar a porta, certamente alguma coisa irá melhorar, mas não o suficiente para justificar esse investimento em uma sala tão inadequada. Nunca gaste seu suado dinheiro em caixas tipo torre, se sua sala não permitir uma instalação obedecendo critérios básicos como: espaço mínimo entre as caixas torre de pelo menos 2,20 m.

E que as caixas fiquem simetricamente dispostas entre elas e o ouvinte (se existir um corredor ou a falta de parede de um dos lados, que ao menos a simetria entre elas e o ponto de audição seja a melhor possível). E, por último, as caixas precisam de no mínimo 60 cm da parede às costas delas, e 30 cm das paredes laterais.

Sala 4

Na Sala 4, temos um sistema mais simétrico em relação a sala, porém observamos um problema muito recorrente em muitas salas que são de estar e de audição: móveis muito perto das caixas. Sei o quanto é difícil convencer as ‘caras-metades’ do quanto essa disposição da mobília interfere nas audições, então o que costumo sugerir em minhas consultorias nesses casos, é o uso de móveis que não sejam muito absorventes ou, ao contrário, muito reflexivos.

Felizmente existem excelentes opções em móveis atualmente que contornam de maneira razoável esse problema. Uma excelente solução são os sofás e poltronas com os braços vazados para que não formem uma parede poucos centímetros à frente dos falantes. E, claro, em uma sala como essa, esqueça um bom palco sonoro com excelente foco e recorte.

Sala 5

Na Sala 5, a sensação que tenho cada vez que olho para ela é que o sistema é um detalhe da decoração da sala, e não um equipamento para desfrutar música com qualidade. Impossível imaginar que esse sistema possua um correto Equilíbrio Tonal, que não tenha perda de graves e um ligeiro aumento nas altas frequências, e brilho na média-alta.

Fora que a distância da cadeira entre as caixas está um pouco fora do ponto de audição ideal, que é um triângulo equilátero.

Neste exemplo também esqueça uma boa apresentação de planos, foco e recorte, pois a parede de vidros atrás das caixas impede que isso ocorra.

Sala 6

A Sala 6 tenho certeza absoluta que é de algum audiófilo japonês (rs…), e comete todos os erros que muitas salas orientais cometem. Eu ouvi, na minha infância e adolescência, muitas salas similares, e a proximidade de caixas cornetas em salas menores do que elas necessitam para poder soar e ‘respirar’, causam uma enorme fadiga auditiva.

E não existe cabo ou amplificador single-ended que ‘avelude’ esse problema de pressão sonora e de distância em salas inadequadas em termos de espaço. Se você é fã de caixas cornetas de alta sensibilidade, lembre-se: essas caixas precisam de espaço para soarem equilibradamente!

Sala 7

Olhando atentamente a Sala 7, eu me pergunto: será que o dono desse sistema alguma vez experimentou trazer suas caixas para fora da parede? Com todo respeito a arquitetos e decoradores, acho que tem a mão deles no posicionamento e escolha do local para o sistema.

Um setup assim, jamais soará decentemente. Não importa o que ele faça, o resultado será sempre de um som ambiente, e nada mais do que isso!

Sala 8

Na Sala 8, desejo imaginar que seja um setup de um jovem que acabou de abandonar sua paixão por som automotivo e resolveu investir em um sistema de áudio. Pois se for de um audiófilo ‘rodado’, será imperdoável!

São tantos erros que fica difícil pontuar os mais grotescos! Tamanho da caixa para o ambiente, altura do Tweeter em relação ao ouvinte (só se ele escuta música o tempo todo em pé), distância entre as caixas, a televisão entre elas, a mesa em frente às caixas…. Tudo está absolutamente errado, e não preciso (e nem quero) ouvir para constatar tudo que sublinhei aqui.

Sala 9

Sobre essa Sala 9, fico imaginando se o usuário realmente senta para escutar música, ou se o sistema é apenas parte da decoração da sala? A sala é tão viva, que imagino que não se possa ouvir música bebendo um bom vinho, com o risco de a taça trincar nas mãos. Para não machucar os ouvidos, talvez a seleção musical seja restrita a solos de alaúdes e barítonos!

Sala 10

A Sala 10 me parece ser uma sala de evento nesses hotéis em que os espaços não foram idealizados para receber música. Aquela coluna entre as caixas deve ter sido um problema e tanto, mas de todas que selecionamos para esta matéria, essa é a mais ‘contornável’, porém chama a atenção não disponibilizar de nenhum acessório acústico, o que certamente ajudaria a torná-la melhor para audições sérias.

Sala 11

A Sala 11 me parece mais uma mudança em que esqueceram as caixas para trás, do que uma sala de audição. Pois se for uma sala, essa é uma das mais indecentes que vi em minha vida.

Tanto que não merece nenhum comentário adicional!

Sala 12

A Sala 12 com certeza é de um consumidor que gosta de ter seus hobbies todos sempre ao alcance das mãos. Me lembra muito minha adolescência, em que tudo que era importante para mim ficava no meu campo de visão, ou seja, no meu quarto entulhado de livros, posters, discos e aeromodelos.

Observando os eletrônicos vintage na estante, no meio dos livros, suponho que seja mais a sala de um hobbysta que de um audiófilo.

Mas se imaginarmos que muitas salas de áudio possam ter essa ‘organização’ e tamanho, posso garantir que existe absorção suficiente para matar o arejamento e extensão das altas e, dependendo da caixa utilizada (ele tem mais de dois modelos na foto), o grave também seja comprometido.

Sala 13

O que falar da Sala 13, amigo leitor? É uma conjunção de erros que me levam a perguntar o que o dono desse sistema tira de prazer ao ouvi-lo?

Se você quer uma resposta, experimente ‘colar’ sua torre nos cantos de sua sala perpendicularmente, e entre elas grude o rack e todo o sistema. Você estará comprometendo o equilíbrio tonal, sound stage, corpo harmônico, texturas, organicidade, macro e microdinâmica.

Se for para gastar com um sistema para ser utilizado nessa disposição em uma sala, compre um excelente fone de ouvido e um amplificador de fone, e vá ser feliz de verdade!

Sala 14

A Sala 14 me lembrou os anos 70, em que era moda a classe A no Brasil mandar fazer móveis personalizados para colocarem seus sistema, com powers, equalizadores e caixas acima da cabeça. Foi a passagem para o mundo do pro-áudio, em que quantidade substituiu a qualidade.

Escutei sistemas assim de alguns clientes do meu pai, no início dos anos 70, e sempre sai com dor de cabeça e tive que suportar meu pai calado até chegar em casa!

Eram sistemas inaudíveis, como certamente é o da foto.

Por melhor que seja uma bookshelf, existem regras a serem seguidas de posicionamento da caixa para se extrair o melhor equilíbrio tonal possível. Pois se tem uma regra que não pode ser burlada é: quanto pior o equilíbrio tonal, maior a fadiga auditiva. Então, se queres ouvir música corretamente, não se iluda: a primeira e essencial lição de casa é o Equilíbrio Tonal.

Sala 15

Sabe que eu olho a Sala 15 e tenho alguma esperança? Pois já via salas assim, e que até que tinham algum potencial. Se pudesse ajeitá-la, colocaria difusores atrás do rack e das caixas, afastaria o máximo possível elas das parede dos fundos, e talvez mudasse de caixas, pois me parece muita caixa para pouca sala.

Mas se, com os dispositivos acústicos, eu conseguisse extrair dela um correto equilíbrio tonal, acho que conseguiria contornar os problemas.

Sala 16

E chegamos à Sala 16 (se é podemos chamar isso de sala). Antes de tudo, me pergunto: quem consegue ouvir música em um local tão claustrofóbico? Desculpe, mas beira a insanidade tanto o espaço quanto uma caixa projetada para esse cubículo. E não acredito que se possa ter o mínimo de qualidade nesse local.

Se ficar olhando muito para essa foto, é capaz de eu ter pesadelos à noite (rs…)!

Sala 17

E chegamos à última: a Sala 17. Um local bastante decente em termos de espaço, porém com as caixas e o posicionamento absolutamente errados! Um setup caro, sub utilizado!

Não se coloca uma Tannoy desse porte grudada na parede no canto de um lado, e a outra com espaço lateral – e queira-se ter a expectativa de um bom palco, recorte, foco, ambiência e equilíbrio tonal.

São decisões que, além de equivocadas, mostram o quanto a música está em segundo plano para essas pessoas.

Essa é uma questão que não pode mais ser adiada editorialmente pela revista. Por isso a nossa insistência em bater na tecla mensalmente, alertando os novos leitores que, antes de sair gastando seu dinheiro, é preciso definir prioridades e escolhas.

Se o seu desejo é montar um sistema para apreciar sua música, você está no canal certo e temos importantes dicas para compartilhar com todos vocês.

Agora, se você deseja apenas ‘cultuar’ aparelhos hi-end, sinto lhe dizer que não somos a melhor referência.

Boas salas, e boas audições!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *