Teste 3: CAIXAS ACÚSTICAS WHARFEDALE LINTON 85 ANOS
maio 5, 2023
Teste 1: DAC dCS BARTÓK APEX
maio 5, 2023

Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Se você tiver mais de 50 anos, lembrará em detalhes quantos audiófilos e melômanos abriram mão de seus LPs para mergulhar de cabeça no disquinho prateado. Possibilitando muitos montarem suas coleções de vinil gastando de 5 a 25 reais por disco e, às vezes, encontrando raridades e até mesmo discos lacrados!

Eu e muitos dos meus amigos fizemos a festa e garimpamos preciosidades tão desejadas nos anos 80 e 90.

Agora o mesmo processo se repete com o disco prateado, e tenho feito a festa adquirindo gravações excepcionais por menos de 20 reais!

E fico me perguntando, cada vez que visito os sebos em São Paulo, se os que estão ‘entregando’ seus CDs também cometeram esse erro antes com o LP, ou é uma outra geração?

Em uma pesquisa recente feita com consumidores de música em mídia física, na Inglaterra, um dado foi checado múltiplas vezes, pois não fazia o menor sentido: 50% dos compradores de LP sequer têm um toca-discos para ouvir suas aquisições!

Parece piada, mas é verdade!

Jovens estão comprando LPs, e não tem como reproduzir essa mídia. E o máximo que desfrutam desse investimento é olhar e ler o encarte e curtir capa, fotos e letras das músicas.

Essa tendência começa a ser monitorada também com a venda de CDs para um público com menos de 25 anos de idade!

Já falei e escrevi aqui que não abro mão da mídia física por um único motivo: qualidade! Pois ainda que o streamer tenha evoluído muito nos últimos anos (leia Teste 1 nesta edição), a mídia física ainda é insuperável!

Não discuto praticidade, apenas qualidade. E para mim essa questão é recorrente, pois já existia no lançamento do CD, em que muitos audiófilos e melômanos ‘justificaram’ sua troca pelo fato do CD possibilitar acesso direto às faixas e muito mais músicas por mídia. Só que com a praticidade do controle remoto, veio também a possibilidade de o ouvinte pular faixas e até mesmo se negar a ouvir o que não curtia tanto. E muitas coleções foram reduzidas a singles de uma única faixa.

Foi a época em que muitos substituíram a fita K7 com suas playlists personalizadas, por uma troca incessante de discos em um senta e levanta muito maior que o de virar um LP a cada 20 minutos (que foi justamente o ‘álibi’ utilizado pela maioria dos audiófilos que trocou a mídia analógica pela digital).

O streamer inflamou ainda mais essa estranha maneira de ouvirmos música, já que dispomos de uma enorme biblioteca ao alcance de nossos dedos e trocamos freneticamente de disco para disco, sem muitas vezes nem ouvirmos cada música até o final.

Para mim é cada vez mais nítido que as novas gerações estão muito mais interessadas em quantidade e não qualidade.

Vejo que existe uma ansiedade cada vez mais presente, pois muitos até se incomodam se mostramos uma música na íntegra (principalmente se tiver mais que 4 minutos e for um estilo estranho ao gosto do ouvinte). As pessoas nessa situação começam a falar e deixar claro seu desinteresse no que estão escutando!

Basta ver o comportamento do público nos Hi-End Shows, em que a música concorre com a conversa paralela dos ouvintes.

É uma total inversão de valores que estamos vivendo, pois imagino que as pessoas paguem para ir a um evento para conhecerem sistemas que, de outra maneira, não teriam como ouvir. E são expostos a todos tipos de ruídos, deixando muito pouco espaço para realmente conhecerem novos produtos.

É um desrespeito a quem está expondo, e a quem está lá para conhecer esses produtos!

Desculpe, meu amigo, se me alonguei demasiadamente na introdução desse teste, mas o fiz para lembrar a todos que mantiveram suas mídias físicas em CD e SACD, que ainda existem fabricantes dispostos a fornecer players a preços ‘realistas’ para a reprodução dessas mídias.

E uma dessas raridades se chama Arcam CDS50, que em um belo pacote oferece CD, SACD e streamer. Nos fóruns li longas discussões sobre o streamer do CDS50, que foi tratado como ‘limitado’ pelo fato de usar um aplicativo MusicLife que trabalha com Tidal, QoBuz e Spotify, mas não outras plataformas (a maior reclamação é o fato de não trabalhar com Amazon HD).

Ainda que lá fora exista essa reclamação, acredito que para o nosso mercado e pela qualidade de sua performance, o CDS50 é uma das melhores opções a todos que possuem uma coleção de CDs e SACDs, e o streamer deveria ser visto como um bônus a quem deseja ampliar sua biblioteca musical e, no entanto, está ciente de que a mídia física ainda soará superior.

Talvez muito de nossos leitores mais novos desconheçam a história desse fabricante inglês (agora um dos braços do grupo Harman Internacional, que pertence atualmente à Samsung), que foi o responsável em 1986 pela fabricação do primeiro CD-Player no Reino Unido, e que tinha a ‘audácia’ de concorrer com os principais CD-Players japoneses da Sony, Denon, Pioneer e cia.

Quando vi as fotos internas do CDS50, fui buscar as imagens guardadas em arquivo do CDS27 que testamos, e ficou claro que toda a parte mecânica do novo CDS50 é muito semelhante ao CDS27, ainda que o DAC atual seja outro.

Além de reproduzir CD e SACD, o Arcam adicionou a reprodução de rede via Ethernet ou Wi-Fi, e disponibilizou entradas digitais ótica e coaxial, para a ligação de fontes digitais externas usando-o como DAC – e uma entrada USB-A para a reprodução de uma biblioteca externa.

O CDS50 também pode ser usado como transporte, já que possui duas saídas digitais (uma coaxial e uma ótica) e algo raro para sua faixa de preço: saídas analógicas RCA e XLR. E uma conexão RS232 para comutação remota de liga/espera.

Os audiófilos acostumados com os produtos Arcam, reconhecerão seu design simples e objetivo com um grande botão liga/desliga e quatro controles logo abaixo do painel, para o uso básico do CD-Player manualmente. Mas para entrar em todos os recursos existentes, o usuário necessitará de fazer uso de seu controle remoto – que será obrigatório para navegar no modo streaming ou para reprodução USB de uma biblioteca externa.

Sugiro, para facilitar esses comandos, baixar o aplicativo da Arcam. Do contrário será preciso pressionar, na sequência, várias teclas do controle e ao mesmo tempo ficar atento às mensagens do display – algo pouco agradável para a maioria dos audiófilos.

Se o antigo CDS27 usava o DAC Burr-Brown PCM1794, o novo Arcam utiliza o ESS9038Q2M da ESS Technology. O leitor continua sendo o mesmo do CDS27, o Sony KEM- 480AAA, uma unidade amplamente usada nos Blu-ray e nos modelos mais antigos do PlayStation (para permitir a leitura de PCM e DSD). Trata-se de uma gaveta de plástico e com isso tem um certo ruído ao abrir e fechar que, no entanto, por anos de usos em múltiplos equipamentos, se mostrou seguro e confiável (não dá para imaginar em um player de menos de 15 mil reais uma gaveta Luxman ou Esoteric).

Para o teste utilizamos o cabo de força Sunrise Lab Quintessence Aniversário, e o Power Link MM2 da Transparent. Cabos de interconexão: Virtual Reality Trançado (leia teste edição de junho) e Sunrise Lab Quintessence Aniversário RCA. Ligado aos integrados: Sunrise Lab V8 Aniversário, e Arcam SA30. Caixas: Audiovector QR 7 e QR 5, e Wharfedale Linton 85 anos (leia Teste 3 nesta edição).

Queima de CD-Player com streamer interno é como chupar manga. Ouvimos nossos discos da Cavi Records (CD e SACD), fizemos as anotações iniciais e o colocamos para tocar streamer por 100 horas.

A primeira grande surpresa: não há diferença alguma entre a saída analógica RCA e XLR. Ou seja, o usuário pode escolher a saída que lhe for mais conveniente, para ter o melhor casamento possível seja com um integrado, ou um pré de linha.

Segunda grata surpresa: o leitor é rápido, preciso, e tem um grau de correção de leitura para pequenas imperfeições nos discos prateados superior ao dos players considerados de entrada.

Terceira bela surpresa: ele reproduz com refinamento SACD, muito acima dos Oppos que ainda existem no mercado.
E quarta interessante surpresa: o SACD é um pouco mais detalhado na apresentação de microdinâmica e na amplitude e profundidade do palco sonoro que o CD.

Seu equilíbrio tonal é muito bom para sua faixa de preço. Lembro que em todos os Oppos que tive (foram três modelos), a grande frustração era a falta de extensão nas altas e pouco peso na fundação dos graves. Lembro que o Ulisses da Sunrise cansou de fazer upgrades nos Oppos para ‘arrancar’ um pouco mais nesses quesitos, com mudança de capacitores, tomada IEC, fusíveis, cabeação interna, etc.

O Arcam não sofre dessa falta de ar nas altas e muito menos falta de fundação embaixo! A música flui (independente do gênero musical), com clareza, definição, sem apostar apenas nos médios para enganar o audiófilo de primeira viagem, e depois deixar as audições cansativas ao se descobrir que os médios apenas não farão milagres.

O soundstage pareceu mais amplo na reprodução de SACD, mas nada que não permita ouvir com prazer os planos, foco, recorte e ambiência em PCM. Tudo será uma questão de sinergia, entre o Player e o resto do sistema, pois se todos remarem na mesma direção o resultado será muito convincente.

As texturas se beneficiam de forma clara, de seu equilíbrio tonal bom sem querer reinventar a roda. Com isso será possível não apenas avaliar a paleta de cores do tecido musical, como ter um pequeno vislumbre das intencionalidades captadas nas excelentes gravações.

Ou seja, com o equilíbrio desses três primeiros quesitos de nossa metodologia, o que o CDS50 nos garante é o interesse na audição de nossos discos. O que, para sua faixa de preço, volto a insistir: é muito raro!

Os transientes são corretos, nos dando a correta sensação de tempo e andamento, e mesmo em passagens com enormes variações, como nas viradas de um Vinnie Colauitta, você não perderá o ‘timing’ do que foi feito. Para os amantes de pop, rock, música eletrônica e blues, o ouvinte terá diversão garantida.

A microdinâmica é muito boa, com possibilidade de acompanhamento sem esforço adicional de todos os detalhes existentes na gravação. E a macro é boa o suficiente para nos apresentar com correção os crescendos, ainda que em menos degraus que um CD-Player ou um transporte e DAC separados, de ponta, nos apresentaria.

Mas para esse grau de refinamento na reprodução de macrodinâmica, meu amigo, pode multiplicar o valor desse Arcam por dez, tranquilamente.

Essa é uma discussão que gosto muito de ter, principalmente com os amigos músicos. Pois eles por muitos anos sempre colocaram o ‘dedo na ferida’ do hi-end na hora de reproduzir os fortíssimos. E eu sempre os fiz pensar, que mais que o impacto no deslocamento de ar e energia na reprodução da macrodinâmica, o que precisa ser preservado é a inteligibilidade do que está acontecendo musicalmente. Pois se minha atenção for desviada completamente ao primeiro tiro de canhão da Abertura 1812 de Tchaikovsky, o objetivo de ouvir e compreender a intencionalidade do compositor em colocar, no grand finale, aqueles tiros de canhão, foi em vão.

Então sempre será preferível que a macrodinâmica, ainda que ‘relativa’, nos mantenha em contato com o todo. Pois Tchaikovsky não introduziu os tiros de canhão ao final de sua obra, com o objetivo de assustar os ouvintes e muito menos testar se o sistema e as caixas suportam, sem distorcer, tiros de canhão.

Ainda que tenha presenciado em minha adolescência, por duas vezes, uma cápsula pular e ir para no selo do disco danificada, e a outra vez uma caixa JBL Jubal simplesmente danificar seus dois woofers (para a alegria dos ‘amigos audiófilos’ presentes, e desespero dos donos e do meu pai).

O Arcam possui uma reprodução de macrodinâmica suficientemente honesta para mostrar com clareza e definição, e sem riscos para as caixas, as passagens em fortíssimo.

O corpo dos instrumentos é muito bom – aliás foi uma das virtudes desse player que mais me agradaram. Pianos solo têm tamanho de pianos de verdade, assim como tuba, contrabaixo, órgão de tubo, etc.

Com o setup composto pelo integrado Arcam SA30 e as caixas Audiovector QR 5 (com preço mais condizente com o Arcam), a materialização física do acontecimento musical foi excelente. Principalmente nos exemplos com vozes masculinas e femininas, e pequenos grupos como quartetos, trios e quintetos. Deixando nosso cérebro apreciar relaxadamente aquelas gravações.

CONCLUSÃO

Felizmente, muitos de nossos leitores não abriram mão de suas mídias físicas e lutam, à medida que seus players estão desatualizados, buscar uma solução que seja melhor que um simples CD-Player ou um Blu-Ray dos poucos ainda existentes no mercado.

O grupo Harman foi muito feliz em disponibilizar essa opção a um custo acessível, e com uma performance tão honesta. E, ainda por cima, incluir nesse pacote a reprodução de SACD e o streamer, para quem começa a se interessar por essa mídia virtual.

Se você vive esse impasse, e busca uma solução que não comprometa suas finanças e possa encaixar perfeitamente em seu sistema como sua fonte digital, ouça o CDS50. Garanto que ele irá lhe surpreender, assim como surpreendeu a todos nós que o ouvimos!

Para facilitar a compreensão de sua performance, separei as notas dele como CD, SACD e Streamer.


PONTOS POSITIVOS

Um pacote feito sob medida para os que buscam manter sua coleção de mídia física.

PONTOS NEGATIVOS

Se você está mais desejoso de adquirir seu primeiro streamer para substituir sua mídia física, esse não é o caminho.


ESPECIFICAÇÕES

TipoCD / SACD-Player / Streamer / DAC
Chip DACSabre ESS9038 32-bit/192 kHz
Nível de saída (RCA / XLR)2.2 Vrms / 4.5 Vrms
Frequências de amostragem (optical, coax)32-96 kHz, 32-192 kHz, 16-32 bit
Wi-Fi802.11b/g/n
Dimensões (L x A x P)433 x 87 x 283 mm
Peso5.4kg
CD/SACD-PLAYER ARCAM CDS50
(COMO STREAMER)
Equilíbrio Tonal 9,0
Soundstage 9,0
Textura 9,0
Transientes 9,0
Dinâmica 9,0
Corpo Harmônico 9,0
Organicidade 8,0
Musicalidade 9,0
Total 70,0
CD/SACD-PLAYER ARCAM CDS50
(COMO CD PLAYER)
Equilíbrio Tonal 12,0
Soundstage 11,0
Textura 12,0
Transientes 11,0
Dinâmica 10,0
Corpo Harmônico 12,0
Organicidade 11,0
Musicalidade 11,0
Total 90,0
CD/SACD-PLAYER ARCAM CDS50
(COMO SACD PLAYER)
Equilíbrio Tonal 12,0
Soundstage 12,0
Textura 12,0
Transientes 11,0
Dinâmica 11,0
Corpo Harmônico 12,0
Organicidade 11,0
Musicalidade 12,0
Total 93,0

 

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