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Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Finalmente chegamos ao capítulo final, aquele em que as tramas todas de um bom roteiro são resolvidas, e podemos finalmente avaliar se valeu a pena ou não aguardar tanto tempo para saber, no final, que o resultado de todos os nossos esforços – se corretamente utilizados – culminaram em uma maior Musicalidade do nosso sistema.

Pergunte a dez melômanos e audiófilos qual o seu derradeiro objetivo, e dez irão dizer que é possuir um sistema bem Musical.

A questão é que esse termo, assim como a naturalidade, é usado com inúmeras interpretações distintas, e se tornou ao longo das décadas um tema bastante controverso e com resultados práticos bastante dúbios!

Ainda assim, todos desejam um sistema que musicalmente os emocione e justifique muitos anos de frustrações e muitos reinícios.

Sempre disse a todos que participaram dos nossos Cursos de Percepção Auditiva, que grande parte dos erros poderiam ser evitados se, ao iniciarmos essa jornada, soubéssemos exatamente no que focar e buscar.

E Musicalidade é realmente o último estágio a ser alcançado, mas ele só virá se todos os outros degraus forem devidamente solidificados.

Pois não existe ‘carta na manga’, truques pirotécnicos ou etapas que possam ser descartadas. Sendo a Musicalidade o grande prêmio, só possível aos que não perderam tempo com quimeras ou truques banais!

E o que vêm a ser esses truques banais, Andrette?

Acreditar que sem educação e sem referência auditiva, será possível atingir o nirvana sonoro.

Exemplos, Andrette, sim?

Os que passam a vida se dedicando apenas a alguns quesitos, como ter o mais impressionante palco sonoro, ou a melhor macro-dinâmica capaz de trincar paredes. E os que confundem Musicalidade e naturalidade com eufonia.

É preciso lembrar a origem da palavra Eufonia, um termo espanhol que significa combinação de sons agradáveis aos nossos ouvidos.

E que buscar compreender a complexidade da Musicalidade na reprodução eletrônica, apenas definindo o que soa agradável aos nossos ouvidos, é o mesmo que resumir um objeto tridimensional em apenas uma linha reta!

A Musicalidade é a soma de todos os quesitos auditivamente avaliados em um equipamento de áudio e, em termos musicais, a capacidade e a virtuosidade de um músico em executar uma obra.

Então, ao avaliarmos o grau de Musicalidade de um determinado produto hi-end, antes de sentarmos para escutar aquele produto, deveríamos ter a certeza que as obras escolhidas para essa avaliação estão à altura do nosso objetivo.

Costumo, nos Cursos, mostrar essa questão apresentando dois ou três exemplos tocados por músicos de diferentes níveis técnicos, para que todos entendam que a obra é a mesma, mas o grau de qualidade de execução é bastante distinto. E se formos levar em conta, além da qualidade do músico, a qualidade da gravação, da escolha dos microfones, dos instrumentos, da sala de gravação, veremos que muitas vezes relevamos detalhes que são essenciais para avaliação de musicalidade e naturalidade!

E que a definição simplória de se agrada ou não aos nossos ouvidos, não pode ser uma escolha consistente, e muito menos segura, de que estamos fazendo a melhor compra.

Eu, nesses exemplos, nunca dei nenhuma dica de que gravação é a mais virtuosa, e a menos. Apenas apresento em nosso Sistema de Referência e pergunto à plateia qual das interpretações os tocaram mais.

E a esmagadora maioria sempre é bastante assertiva em sua resposta.

Aí, antes de iniciar a explanação desse último quesito de nossa Metodologia, eu coloco esses mesmos exemplos em um sistema abaixo do de nossa referência – e é aí quando a sala vem literalmente abaixo, rs!

Pois as opiniões se dividem de maneira dramática.

E por que isso ocorre?

Simplesmente pelo fato que, assim como a organicidade, a Musicalidade tem que estar no seu maior nível de equilíbrio entre os outros sete quesitos, para que se possa entender a razão de ser a grande busca final!

E musicalidade não depende de ser um setup de estado sólido ou valvulado! Depende de tudo e todos os quesitos estarem harmoniosamente entrelaçados.

Um sistema Estado da Arte bem correto, não dependerá de ser composto de amplificadores, pré de linha e DAC de uma topologia ou de outra, e muito menos de querer juntar as duas vertentes (estado sólido e válvula), para ter o melhor dos dois mundos.

Lembre-se que na teoria vale tudo, mas é na prática que separamos os que realmente sabem dos que pensam saber.

Enquanto a esmagadora maioria dos audiófilos apenas passa a vida dizendo do que gosta e do que não gosta, eu passo buscando entender o que falhou ou o que faltou em um determinado produto. E posso afirmar com absoluta certeza que Musicalidade, e não eufonia, só existe quando todo o resto à sua volta – equilíbrio tonal, texturas, transientes, soundstage, dinâmica, corpo harmônico e organicidade – está absolutamente alinhado e no mesmo patamar.

Aí a Musicalidade acontece, e sem esforço ou em detrimento de algum dos outros sete quesitos, como ocorre com um produto eufônico – que geralmente possui limitações audíveis em mais de um dos quesitos.

Nos eventos e nos nossos cursos é muito comum ouvirmos dos leitores que, para ‘driblar’ agudos duros em gravações tecnicamente limitadas, eles preferem contornar o problema ceifando as altas frequências. E isso permite ouvir obras que, do contrário, seriam impossíveis em seus sistemas.

A questão é que, nesse caso, para contornar um problema, se cria vários outros problemas.

Pois se alteramos o equilíbrio tonal, por mais sutil que seja essa alteração, a Musicalidade, o soundstage e a organicidade também serão alterados.

E nosso cérebro não está buscando sons agradáveis aos nossos ouvidos, está almejando sentir a música em sua totalidade, para que possa desfrutar daquele momento com o maior grau de inteligibilidade e o menor grau de fadiga auditiva.

Por isso que muitos audiófilos, ao escutarem um sistema plenamente ajustado, traduzem suas audições nesse sistema como sendo de maior conforto auditivo. Que engloba integralmente o termo Musicalidade.

Então, é correto afirmar que quanto maior o conforto auditivo, essa experiência se traduz em melhor Musicalidade.

E maior eufonia jamais se transformará em maior Musicalidade. Pois a eufonia não possui todos os ingredientes primordiais para o resultado ‘Musicalidade’.

Aliás, sei que ofenderei inúmeros de nossos leitores, mas ouvi na minha vida sistemas tão amplamente eufônicos que, depois de uma música, a sensação que o sistema me passou foi o do eletrocardiograma de um defunto! Pois como já afirmei, quanto mais eufônico for o sistema, mais limitado ele será no seu equilíbrio tonal, transientes, macro-dinâmica, etc!

E nosso cérebro, quando treinado e referenciado com música ao vivo não amplificada, não se engana com essa manifestação de ‘sons agradáveis’ aos nossos ouvidos. Aliás, se levarmos ao pé da letra, sons agradáveis não são nenhuma garantia de ‘música agradável aos nossos ouvidos’.

Sons agradáveis para mim existem na natureza em abundância, mas em termos musicais, inúmeros timbres podem soar bastante desagradáveis se forem mal tocados. Tenho uma lista imensa de exemplos, como: gaita de fole, sax soprano, flautim, gaita de boca, rabeca, etc – que, no entanto, nas mãos de virtuoses e em sistemas com todos os quesitos bem afinados, são musicais e emocionantes de ouvir.

Sei que devo, ao explicar o quesito Musicalidade, ter frustrado muito de vocês, que sempre julgaram que a Musicalidade era o quesito mais subjetivo de todos os da nossa Metodologia.

E ele não deixa de ter um perfil subjetivo, pois sabemos que cada um, ao chegar nesse degrau, irá querer desfrutar de seus discos que lhe são mais caros emocionalmente, e que por isso, haverá ajustes ‘sutis’ que privilegiam o gosto de cada um.

Mas essa linha de ‘manobra’ é muito mais tênue do que pensam todos que desejariam que esse quesito fosse ‘desgarrado’ dos outros sete quesitos.

Então não se iluda, amigo leitor, se você deseja realmente chegar ao objetivo final de todo sistema audiófilo – que é o maior grau de inteligibilidade com o menor índice de fadiga auditiva – faça toda a lição de casa, e não esqueça de se esmerar em cada um dos quesitos, para que no final esse sistema possa lhe dar o maior conforto auditivo possível dentro do orçamento estabelecido.

E não caia na armadilha de que, para se atingir esse objetivo, o sistema necessite ser ultra hi-end e que você precise vender um rim, um fígado e hipotecar sua casa para tal feito.

Se você tiver o interesse de ouvir vários sistemas com esse propósito, esteja em abril próximo no nosso Workshop Hi-End Show, onde iremos nos desdobrar para mostrar como essa magia ocorre em sistemas minimalistas, dentro de orçamentos bem estabelecidos.

As gravações que utilizo para fechar a nota de Musicalidade estão comigo a tanto tempo, que nem sei se irá agradar aos nossos leitores mais jovens.

Se alguém quiser ouvir apenas por curiosidade, em seus sistemas, para saber como soam, fiquem à vontade.
André Mehmari: Lachrimae (faixas 2, 9 e 12)
Edu Lobo: Meia Noite (faixas 1, 5 e 7)
Mussorgsky: Pictures at an Exhibition – Eiji Oue – Minnesota
Orchestra (faixas 1, 2 e de 9 a 23)
Pat Metheny: Secret Story (faixas 8, 12 e 14)
Ella Fitzgerald: Pure Ella (as 20 faixas)
Tribute to Jaco Pastorius: Who Loves You (faixas 2, 4 e 11)

OUÇA ANDRÉ MEHMARI – LACHRIMAE, NO TIDAL.
OUÇA EDU LOBO – MEIA NOITE, NO TIDAL.
OUÇA EIJI OUE – MINNESOTA ORCHESTRA – PICTURES AT AN EXHIBITION, NO TIDAL.
OUÇA PAT METHENY: SECRET STORY, NO TIDAL.
OUÇA ELLA FITZGERALD – PURE ELLA, NO TIDAL.

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