Espaço Analógico: DISCOS DE VINIL ‘VERDES’ & ECOLÓGICOS – 6 VEZES!!

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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Uma nova seção mensal só sobre Toca-Discos de Vinil

Há anos se fala sobre – e se tenta desenvolver – um material que substitua o vinil, o PVC, na fabricação de LPs, sem nenhum sucesso.

E tanto a reciclagem do material usado, quando a mistura com outros materiais, resultaram ou em discos com alto ruído de fundo, ou discos com baixa durabilidade e, até, baixa qualidade de sonora devido ao material com elasticidade e resistência inadequados (tanto na prensa quanto no toca-discos).

Até agora…

O mundo gira, e a tecnologia de desenvolvimento de materiais evolui. Quando fiquei sabendo que tinha uma empresa na Holanda usando um polímero PET em vez de PVC – e com outro método que não é a prensa usada desde sempre – fiquei interessado, e fui ler sobre o assunto. E descobri que não havia uma, e sim – pelo menos – seis empresas em empreitadas semelhantes!

Mas, a pergunta é: o foco é ambiental – poluição, material tóxico, alto consumo energético – ou tem também uma parcela que envolve o alto custo do material e do processo – que hoje faz com que o LP seja extremamente caro?
No mínimo, um pouco dos dois, diria eu!

Quando teve, em São Paulo, uma estiagem muito severa, a falta de água de abastecimento nos reservatórios da cidade foi profunda. As autoridades diziam que o povo deveria tomar menos banho e lavar menos louça, em vez de ir atrás de grandes indústrias rio acima que consumiam mais água que a cidade! Então estavam combatendo a guerra no fronte errado – respondendo mísseis com palavrões…

No departamento de impacto ambiental, o consumo da matéria prima Vinil (PVC – Policloreto de Vinil derivado de petróleo) para a fabricação de LPs é estimada em 30.000 toneladas por ano. Vale a pena diminuir esse impacto? Obviamente! Mas, 30 mil toneladas parecem ser muito? Vejam, o consumo mundial de PVC, contando tudo no qual é usado, é de 4.000.000 de toneladas!!

Acredito que todos nós temos que fazer a nossa parte, mas quem consome as outras 3.970.000 toneladas de PVC está fazendo a parte deles? Onde estão? Estão fazendo esforços? Estão sendo criticados e denunciados? Estão procurando e utilizando alternativas?

Então, posso dizer que a nossa ‘gota d’água audiófila em um oceano’, deste momento, me interessa mais se espelhar em um preço final menor para o disco de vinil.

Fiquei surpreso ao saber da quantidade de empresas envolvidas em fazer LPs com materiais alternativos, materiais novos, promover mudanças no processo, etc. Se pensarmos bem, com existência de materiais modernos, muita gente já deve ter se perguntado, nas duas últimas décadas, se não existem materiais melhores – e quem já viu uma fábrica de LPs, deve ter ficado com a mão coçando para perguntar: “Mas não existe um outro jeito de fazer, não?”, até porque o método é o mesmo desde a década de 50.

Já existem outros jeitos de fazer, sim. E logo existirão outros.

Temos hoje algumas vertentes, ‘alternativas’, sendo trabalhadas: 1) Fazer um processo que gaste menos energia e recursos. 2) Reciclar material existente e, assim, economizar e ter menor impacto ambiental. 3) Criar um material alternativo, de origem biológica para usar no mesmo maquinário. 4) Criar um material novo que usa um processo novo de ‘prensagem’, em novo maquinário, economizando tempo, energia, geração de calor, etc etc.

E os materiais oscilam entre dois tipos: o ‘Vinil’ feito de fontes biológicas em vez de petróleo, e o PET especialmente pesquisado para essa finalidade.

Uma redução de preços não foi, por eles, ainda abordada. Mas, a redução de tempo de fabricação por LP, sim – que poderá agora ser de menos de 30 segundos por disco – o que ajudará nas altas demandas de mercado.

Obviamente, os puristas do LP duvidam de todos os novos jeitos. Materiais novos, alternativos e reciclados terão todos que ‘se provar’, para a comunidade audiófila, principalmente em relação à qualidade sonora, ruído de superfície e durabilidade – mas claro que todos os colecionadores quererão ter certeza de que os materiais são realmente tão bons quanto o original PVC. E eu concordo, pois não quero que a minha cópia de um novo álbum tenha qualquer performance aquém.

Vamos ver algumas das principais empresas que estão tentando revolucionar o mercado de fabricação de LPs:

EvoVinyl (Reino Unido) www.evolution-music.co.uk/evovinyl/

A Evolution Music foi fundada no Reino Unido em 2018, com o intuito específico de desenvolver uma alternativa ao uso do PVC na feitura de LPs. Seu produto – e marca registrada – chama-se EvoVinyl.

Ostensivamente a missão da empresa, e do EvoVinyl, é totalmente voltada ao meio ambiente – e isso inclui filosofia de trabalho, tipo de pensamento, e escolha de material de capa e de embalagem, tudo ‘verde’, tudo ‘planet friendly’.

Entendi que o material necessita que sejam utilizadas prensas ‘limpas’, novas, para que não haja contaminação por PVC – e, é provável, que esse material use uma temperatura diferente para ser derretido.

A própria EvoVinyl não prensa, apenas provê material, solução e método – mas já têm várias empresas de prensagem que testaram e estão prontas para fazer LPs de bioplásticos. A primeira delas é a holandesa Deepgrooves – uma prensa que já é montada tendo em vista economia de energia, e que agora já está aberta a pedidos que usam EvoVinyl.

Sim, o material usado por eles não é mais PVC de petróleo, e sim um bioplástico feito de cana de açúcar (e não, eu não vou fazer nenhuma piada, nem a que diz que o som é mais ‘docinho’, e nem a que o cantor consegue, nos discos deles, ‘cantar e chupar cana ao mesmo tempo’). Não é especificado, mas esse bioplástico leva um jeito muito suspeito de ser uma variação do polietileno (sim, o PET) que é feito de uma reação química com o álcool de cana de açúcar e, portanto, também com origem renovável (não, o disco não virá com limão e gelo).

Com estimativas iniciais de 15% na redução do consumo energético – chegando a 30% durante o aperfeiçoamento do processo, a empresa sustenta que alguns testes resultaram em uma produção 50% maior, por hora de prensa.

A EvoVinyl também garante que as sobras e aparas podem ser reutilizadas no processo, sem detrimento da qualidade final do disco – resultando em zero desperdício de matéria-prima.

No começo deste ano, a célebre fabricante inglesa de caixas acústicas PMC, anunciou que estava investindo na Evolution Music, especificamente no futuro do EvoVinyl. Peter Thomas, dono da PMC, se declara grande defensor do ambientalismo, assim como é um notório aficionado de LPs, de analógico. Entre seus planos, também, está o uso desse bioplástico em substituição a todas as partes de plástico nas caixas da empresa.

A Evolution garante, após testes e avaliações com vários profissionais do mercado – incluindo o produtor residente dos Estúdios Abbey Road, em Londres – que o resultado sonoro é o mesmo do vinil normal. Vamos esperar a opinião de algum crítico mais audiófilo, e mais cri-cri…

Não consegui saber se esse mundo maravilhoso todo do EvoVinyl resulta em menor custo para o artista prensar – ou mesmo um menor preço para os compradores de vinil.

EcoRecord (Alemanha) – www.sonopress.de

A EcoRecord é a mais nova empreitada da empresa alemã Sonopress, que é um nome bastante conhecido, já que é uma das maiores empresas de prensagem de CDs do mundo – e isso desde que o CD existe.

Eles têm desenvolvido a ideia, anunciada no final do ano passado, de não só mudar o material do LP para um que tenha menos impacto em sua produção – além de ser totalmente reciclável sem, segundo a empresa, detrimento da qualidade do material (o que não resultaria em um disco ruidoso e com baixa qualidade sonora) – como também mudar o processo de fabricação, necessário inclusive por causa do novo material.

O novo material deles para LPs é uma variação do PET (sim, das garrafas PET, e de inúmeras outras aplicações, inclusive roupas, porém um com melhor qualidade e durabilidade). PET é um polímero sintético chamado Politereftatalato de Etileno, criado a partir da reação química entre ácido tereftálico e o etileno glicol. A Sonopress não explica o quão ‘bio’ é o PET que eles usam – mas, assim como a EvoVinyl, a ideia é que esse PET tenha uma qualidade e pureza muito mais altas do que normalmente esse polímero tem. E, como o peso do PET e do PVC são semelhantes, é possível fazer discos de PET de 180g com a mesma espessura dos que saem em PVC – e o mesmo se aplica, claro, ao padrão de mercado atual, 140g.

O processo industrial da produção do PET é bem menos danoso e bem menos custoso (de recursos naturais e energéticos) do que a produção de PVC. Além de ser notório por ser 100% reciclável.

Diferente do processo da EvoVinyl, o EcoRecord usa injeção do polímero quente em um molde, com um bico injetor com pressão de 300 toneladas, desenvolvido pela própria Sonopress baseado totalmente nos sistemas de injeção de CDs, DVD, Blu-rays e Laserdiscs, usados pela fábrica há bem mais de 30 anos. E o processo também é, portanto, dedicado a fazer LPs totalmente planos (no mesmo padrão de engenharia de um CD). Zero empenamento, de fábrica.

Veja, enquanto a prensagem normal do PVC quente é contra uma matriz de metal, na base do claro e da força, a injeção do PET quente – mais maleável que PVC – dentro de um molde pode garantir um preenchimento mais igualado e preciso, mais rápido, usando temperatura mais baixa.

A combinação entre o uso do material PET e o sistema de injeção semelhante ao do CD, resultam – segundo estimativas da Sonopress – em 85% menos impacto ambiental, diferenciando-se muito do processo usual, portanto.
Mês passado, a empresa já prensou seu primeiro título com EvoRecord – o LP Liam Gallagher & John Squire (Warner Records) – e já está aberta a novas encomendas.

A Sonopress afirma que a qualidade sonora não é comprometida no EvoRecord, que o foco do projeto sempre foi na qualidade sonora se igualar ao LP normal.

E a recepção dos audiófilos? Ainda nada. Com tantas empresas trabalhando nessa revolução, era de se esperar um pouco mais de alarde pela nossa mídia especializada.

Green Vinyl Records (Holanda) – www.greenvinylrecords.com

Também temos a holandesa Green Vinyl Records – um desenvolvimento feito por 8 empresas ligadas à multinacional Symcon (especializada em insumos e tecnologia para a fabricação de CD, CD-R, DVD, DVD-R) – que não só se dedicam ao desenvolvimento de um PET estável, correto para o uso em LPs de qualidade (também alegam que a qualidade sonora de seus LPs é a mesmas do que os feitos de PVC), mas também usam um processo diferenciado.

Seu PET também é 100% reciclável e mais sustentável – porém não há informações sobre se é um bioplástico ou um PET normal.

O processo aqui é semelhante ao da Sonopress – acredito que é porque é a melhor maneira de se lidar o material PET durante a moldagem do mesmo, e porque gasta muito menos recursos naturais e energia para se fabricar um disco: pela injeção do PET quente em um molde.

Cada matriz em metal, cada estampa, com o PET consegue fabricar mais de 5000 LPs sem se danificar ou sujar. O limite de uma estampa com o PVC é de 2000 LPs sem perdas.

Curiosamente, a etiqueta do centro do LP não é um pedaço de papel colado, e sim algo que é impresso diretamente no LP recém injetado. O CEO da empresa, Harm Theunisse, inclusive, pôs um LP deles na máquina de lavar louça, e deixou lá por dias e dias, ‘lavando’ junto com a louça, para ver se soltava a tinta ou algo assim – o que não aconteceu.

Mas, o tempo, e os testes, dirão. Aliás, mais um que não encontrei opinião ainda dentro da comunidade audiófila – mas a empresa diz que audições e testes foram feitos com profissionais de estúdio, resultando em considerarem os LPs da Green Vinyl “tão bons ou melhores que as atuais prensagens tradicionais” (não vou perguntar qual o critério usado para dizer que “são melhores”).

A Green Vinyl Records afirma que seu processo todo de fabricação de um LP, usa 90% menos energia que o processo normal. E que, no futuro, com uma produção em maior quantidade, seu método novo poderá significar um preço menor por LP.

Outra curiosidade, por parte da empresa, é quanto à durabilidade do disco sendo tocado. Existe algo que consideramos aqui na revista ser do capítulo dos ‘Mitos & Lendas do Vinil’, que diz que um LP de PVC começa a deteriorar depois de 70 audições – e eu tenho discos que tem mais de 50 anos, e uns perto dos 60 anos, todos perfeitos em sua qualidade sonora em todas a usuais frequências, sem perda audível ou distorções. São discos que facilmente foram ouvidos mais de 70 vezes, talvez bem mais de 1000! Acreditamos que esse ‘desgaste’ que reclamam por aí, se dá por toca-discos mal regulados, por agulhas trincadas ou com sujeiras incrustadas.

Pois bem, a Green Vinyl Records afirma que seus discos de PET podem ser rodados não 70, mas sim mais de 400 vezes sem detrimento ou desgaste. O que é uma afirmação, no fundo, bem interessante.

Greenyl (Itália) – www.greenyl.com

A italiana Greenyl propagandeia usar um processo inovador, calcado em automação e uso de energia natural e renovável – 75% gerada através de paineis solares – compensando pegada de carbono, eficiente e mais rápido – e tudo o mais que se espera dessa proposição.

A matéria-prima usada é dita como “livre de PVC”, no que a empresa chama de “um polímero 100% reciclável”, fruto de anos de pesquisa. Soa muito parecido com as outras opções de bioplásticos deste texto – que usam processos tradicionais de prensa, melhorados (como é o caso aqui da Greenyl) para uso mais eficiente de energia.

Informações mais profundas parecem estar escondidas nos recônditos da rede – ou em vídeos em italiano…

Eco Mix (Canadá) – www.precisionpressing.com

A Precision Pressing é uma empresa canadense de prensagem de LPs – no método normal – que tem como clientes Universal Music Group, BMG, Warner Records, e vários selos menores.

Com uma habilidade grande de produção e finalização de projetos (arte, capa, embalagem), a Precision oferece como alternativa a matéria-prima que eles chamam de Eco Mix, que é 100% vinil (PVC) reutilizado de rejeitos, erros de prensagem, sobras e sabe-se lá mais quais fontes.

Aqui vale um parêntese para lembrar que em outras partes da história do LP feito de vinil, em muitos anos passados, tentou-se várias vezes usar PVC reciclado, dessas mesmas origens, resultando em LPs com alto ruído de fundo e baixa qualidade sonora. Dou o benefício da dúvida, pois os processos de reciclagem, de retrabalhar a matéria-prima, podem ter melhorado muito nos últimos tempos.

Este é mais um caso do ‘esperar para ouvir’: tanto algum produto deles, quanto a opinião de algum profissional sério do mercado da alta-fidelidade.

BioVinyl (Alemanha) – www.optimal-media.com

A Optimal é uma empresa de mídia sediada na Alemanha, especializada na produção não só das prensagens (CD, DVD, Vinil), mas também de arte e embalagens, etc. Em seu site listam tanto o Universal Music Group quanto o Warner Music Group como clientes.

E oferecem, como opção de escolha ao contratar a fabricação de LPs, o que eles chamam de BioVinyl (até os donos de cada uma dessas empresas todas devem se confundir com tanto nome semelhante…) – que é o uso de PVC fabricado a partir de plantas, ‘Verde’, carregando um discurso de energia e fontes de matéria-prima renováveis e sustentáveis, e alegando já, de cara, que as características físicas e de reprodução são idênticas ao LP de PVC. E em múltiplas cores.

Considerando que existem várias empresas de fabricação de LPs usando plásticos biológicos, e várias empresas de plásticos mundo afora fabricando e provendo plásticos biológicos para todo tipo de finalidade, fica impossível dizer quem fornece a eles (ou às prensas com quem eles trabalham). E, no caso dessa empresa, não se fala de métodos alternativos de prensagem.

Outras empresas também alegam usar – ou estarem disponibilizando em seu portfólio – o biovinil para a produção de LPs.

Ocean Vinyl

E, para finalizar, a ‘cerejinha do bolo’ do vinil ecológico vai para o Ocean Vinyl, feito por uma empresa de LPs personalizados chamada Tangible Formats. O Ocean Vinyl foi prensado a partir de uma quantidade de pedacinhos de plástico variados, colhidos em uma praia no Reino Unido – a tal poluição de plástico que o mar devolve à terra. Os discos parecem uma caixa de Lego sortido que foi atropelada em um dia muito quente, por uma betoneira.

Aguardo ansiosamente não só opiniões de bons profissionais da área do áudio hi-end, como também gostaria muito de testar todos esses LPs ecológicos – pois o que me interessa é somente o resultado final: a Qualidade Sonora!

Dúvidas sobre vinil? Mande-nos um e-mail em: christian@clubedoaudio.com.br.

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