AUDIOFONE – Teste 1: FONES DE OUVIDO NEUMANN NDH 30

Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

Fones-monitores de estúdio são uma boa opção para melômanos e audiófilos?

Essa é, para mim, a pergunta crucial que deveria ser a primeira da lista ao avaliarmos fones que possuem uma destinação profissional.

E, no entanto, sequer ela é abordada nas avaliações do produto.

Com o Neumann NDH 30, não foi diferente. Li três testes e vou resumir para vocês o que ocorreu: o primeiro detestou o produto, chegando ao ponto de afirmar em sua conclusão de que o fone não tem qualidade alguma. Um segundo ficou literalmente em cima do muro, e um terceiro gostou do fone.

Eu sempre me coloco no lugar do consumidor, que deseja simplesmente ter um panorama geral de um produto, o quão confuso deve ficar ao ler três testes tão antagônicos!

Que conclusões tirar?

Fones-monitores tem um único objetivo: ser uma ferramenta segura aos engenheiros de gravação quando necessitam, nas fases de captação, mixagem e masterização, de um fone confiável que possa lhe dar uma perspectiva para os ajustes finos de um trabalho em andamento. E que podem ser seguramente uma opção aos monitores da sala de engenharia de gravação.

Agora, se podem ser usados como fones de referência fora desse universo, essa é uma questão que apenas o consumidor pode decidir.

E obviamente ele precisa levar em conta dois critérios essenciais: se um fone-monitor é o que ele deseja para ouvir suas gravações, partindo do pressuposto que eles serão fieis ao que foi gravado e finalizado e, o mais importante: se ele está pronto para ouvir música por essa ‘perspectiva’.

E qual seria essa perspectiva? Em um fone/monitor de alto nível, serão dois os objetivos: fidelidade e neutralidade.

E para mim ficou absolutamente claro que o revisor que detestou o Neumann, não possui nem sequer a referência mais básica de como é o sinal real em uma sala de gravação, antes do uso de equalizações, compressões, plugins de efeitos de reverb digital e afins.

Provavelmente ele nunca pisou em um estúdio e ouviu o som cru de um instrumento antes de ser trabalhado pelo engenheiro, produtor e os músicos envolvidos.

Então, na minha modesta opinião, as conclusões deste revisor só me mostraram o quanto ele desconhece e lhe falta referência de instrumentos reais não amplificados em um ambiente de gravação.

E como posso afirmar sem ser presunçoso, que foi exatamente isso que ocorreu?

Pelas suas conclusões: “os graves faltam peso, a região média é tímida e os agudos não têm brilho”. E arremata o teste afirmando que o “fone é sem graça”.

O revisor que ficou em cima do muro, ao menos tem a honestidade de dizer que talvez não tenha entendido a proposta do fabricante. E o revisor que o admirou, ao menos fez algumas medições e parece ter um conhecimento maior da necessidade de existirem fones-monitores no mercado.

Sei que, às vezes, minhas aberturas se estendem para além da conta, meu amigo, mas existem avaliações que necessitam de serem explicadas detalhadamente.

Pois o Neumann NDH 30 cumpre com primor seu objetivo central de ser um fone-monitor de altíssimo nível e uma referência ao mercado que se destina.

Então, se pode ou não funcionar e ser o fone de referência de audiófilos e melômanos, só você poderá ter essa resposta.

O NDH 30 é um fone aberto, e é bastante semelhante ao NDH 20.

É muito bem construído, com sua base prateada, protetor de espuma preto, faixa da cabeça feita de aço, com apoio duplo para melhor conforto e encaixe na cabeça, e que nos passa uma sensação de um fone para durar uma vida.

Quem acredita na diferença de cabos poderá testar algumas opções e ver se tem melhorias significativas.

Pela sua construção voltada para o dia a dia de um estúdio de gravação, ele é um fone pesado: 352 gramas, sem o cabo.

Sua maior diferença para o NDH 20 é a parte traseira aberta em metal preto de excelente acabamento.

O fone é dobrável, o que facilita ser colocado em uma bolsa para transporte. Seria interessante se a Neumann pensasse no futuro de disponibilizar um saco para a proteção do fone nas idas e vindas do trabalho para casa, ou em gravações externas.

Os dois testes que li com avaliação de bancada, ambos falam do padrão flat do fone (o que não poderia ser diferente, para um genuíno fone-monitor estúdio).

E, no entanto, o revisor que não gostou do fone, reclama justamente por ele ser flat – e o revisor que gostou, ressalta esse comportamento do fone!

Vocês percebem onde se encontra o antagonismo nas conclusões? Um entendeu perfeitamente o que se esperar de um fone-monitor. O outro está preso em seu mundo de equalizações pessoais para os fones ficarem a seu gosto, e quando pegam produtos que fogem desse perfil, acham ‘sem graça’.

O Neumann chegou lacrado, o que nos levou a fazer uma primeira audição, anotar as observações iniciais e deixá-lo em queima por 40 horas. Se você acha que fones não precisam de um período de amaciamento, está na hora de rever sua posição, pois como caixas acústicas, também precisam.

O teste foi feito apenas com o cabo original.

E este é bom o suficiente para nos apresentar todas as qualidades deste belo fone.

Comecei o teste revisitando nossas gravações da Cavi Records, e o primeiro CD foi o Timbres, pois realmente queria ouvir o quando este fone é fidedigno ao que foi gravado. E fiquei muito satisfeito e impressionado, pois ele me deu uma fidelidade precisa das diferenças dos três microfones, e da sala de gravação do Estúdio Comep.

Fui transportado para aquele momento, quando estava junto com o músico ajustando o microfone para extrair o máximo do instrumento e do microfone.

Convencido de sua eficiência, ouvi nossas outras gravações e pude fazer um paralelo entre o fone Stax que usei nos dois discos Genuinamente Brasileiro, e o Neumann.

E hoje se fosse refazer essas gravações, eu escolheria o Neumann para a monitoração. Por um simples motivo: sua resposta de graves.

Ao contrário do revisor que achou o fone sem graça, eu digo que a resposta de grave deste fone é fidedigna.

O peso na mão esquerda do André Mehmari na faixa Passarim, do Genuinamente Brasileiro volume 2, não me lembro de ter ouvido com tamanha precisão e decaimento em nenhum outro fone por mim testado.

O mesmo sentimento de integral fidelidade ao ouvir a introdução em arco do baixista Célio Barros em Chovendo na Roseira, do mesmo CD.

A preservação do invólucro harmônico, os micro detalhes, velocidade, tudo impecavelmente recriado.

É uma sensação indescritível, amigo leitor, ser transportado novamente para aquele momento congelado na memória, e revivê-lo na íntegra.

Mas o NDH 30, não é apenas correto nos graves. Sua região média é exemplar com um grau de transparência e equilíbrio que nos permite saborear, em gravações de qualidade, as nuances até as mais sutis e muitas vezes despercebidas pela esmagadora maioria de fones do mercado.

E os agudos, não sofrem de dureza ou brilho excessivo – e têm o decaimento certo e um grau de respiro para nos permitir entender o tamanho do ambiente de gravação e até mesmo a quantidade de reverb digital utilizado.

As texturas são um caso à parte nesse fone-monitor, pelo seu grau de apresentação e pelo nível de fidelidade.
Nada passará despercebido no NDH 30, seja em termos de timbre ou de intencionalidade.

Tudo é apresentado como foi finalizado.

Para você leitor apenas interessado neste caderno, vou te pedir um favor: leia o meu Opinião nessa edição em que falo sobre Transientes, e você terá uma ideia mais precisa de como os Transientes dão aquele ‘toque’ que a música precisa para se apresentar pulsante e viva.

Este fone reproduz os transientes com enorme precisão e vivacidade. Você irá facilmente perceber quando os músicos deram tudo ou quando tocaram apenas burocraticamente.

Leia a seção Opinião, e entenderá o que estou tentando descrever.

A micro-dinâmica do NDH 30 é referência, e a macro-dinâmica em volumes ‘sensatos’ é muito boa. Você pode ouvir em volumes seguros os crescendos sem nenhum incômodo ou risco de clipar o sinal.

E aquela sensação de estar lá junto com os músicos na sala de gravação, irá ocorrer com muita frequência meu amigo.

E com isso, em gravações tecnicamente bem-feitas, o prazer em ouvir será muito alto.

CONCLUSÃO

Existem outros bons fones-monitores no mercado, e mais baratos que o Neumann.

Já testamos vários e indicamos alguns exatamente por serem muito fidedignos ao material gravado.

Então o que esse, além de ser mais caro que os concorrentes, possui de diferencial para justificar sua escolha?
Dois motivos: fidelidade e neutralidade.

Se não for isso que você deseja em um fone definitivo, esqueça – pois o NDH 30 não será para você.

Já escrevi artigos na seção Opinião falando sobre o que chamo de ‘terceira via’, que não é nem o som eufônico em uma ponta, e nem o som transparente na outra.

Entre essas duas opções, existem alguns produtos que primam por uma Neutralidade, buscando o ponto de equilíbrio entre as duas vertentes que predominam no áudio hi-end.

E quando falo dessa Neutralidade, não confundam com algo ‘sem graça’ ou inócuo. Pelo contrário, a Neutralidade é a única forma de constatarmos que um equipamento foi fidedigno ao que foi gravado.

Pois as outras duas opções irão sempre colocar algo no som que não está na gravação.

E quem escolhe qual o caminho que deseja trilhar, é você.

Costumo afirmar que essa terceira via é para os poucos que trafegaram por anos nas outras duas vertentes, nos outros dois extremos, e estão finalmente querendo apenas ouvir suas gravações da maneira mais ‘fiel’.

Isso é um pacote em que entrará o divinamente bem-feito e o tecnicamente duvidoso.

Se esse é seu objetivo, ouça o NDH 30.

Ele é uma referência em termos de fidelidade e neutralidade!


PONTOS POSITIVOS

Um fone-monitor exemplar.

PONTOS NEGATIVOS

O peso, que pode incomodar audições mais longas, e o preço.


ESPECIFICAÇÕES

Faixa de frequência12 a 34.000Hz
Princípio acústicoAberto dinâmico
Estilo de vestirFaixa de cabeça
DobrávelSim
Acoplamento de orelhaCircumaural
Diâmetro do driver38 milímetros
Ímã do driverNeodímio
Proteção do driverGrelha coberta de pano
Impedância nominal120 Ohms
Sensibilidade (1 kHz/1 Vrms)104 dB
Potência máxima de entrada1000 mW
Potência contínua de entrada200 mW
THD (a 1 kHz e 100 dB SPL)<0,03%
Entrada de caboDe um lado só, na cuba direita
ConectorPlugue TRS de 3,5 mm (1/8”) (reto), adaptador para 6,3 mm (1/4”)
Comprimento do cabo3,0 m
Pressão de contato do protetor auricular5,5 a 6,8 N
Peso (excluindo cabo)352 g
Cabo destacávelSim
Almofadas auriculares substituíveisSim
Materiais – faixa de cabeçaTira de aço mola, acessórios de alumínio e plástico, acabamento de plástico
Materiais – protetores auricularesAlumínio
Materiais – almofadas auricularesEspuma coberta de pano
FONES DE OUVIDO NEUMANN NDH 30
Conforto Auditivo 10,0
Ergonomia / Construção 10,0
Equilíbrio Tonal 12,0
Textura 12,0
Transientes 12,0
Dinâmica 11,0
Organicidade 12,0
Musicalidade 12,0
Total 91,0
VOCAL                    
ROCK, POP                    
JAZZ, BLUES                    
MÚSICA DE CÂMARA                    
SINFÔNICA                    

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