Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Recebi para teste simultaneamente o power Vitus SS-103 Signature e o pré de linha SL-103 Signature, seu parceiro de jornada musical.
E, imediatamente ao iniciar a queima dos dois, ficou claro que mereciam ser desmembrados para se fazer justiça ao patamar de performance de ambos.
Então, neste mês está saindo a avaliação do power e, em julho, publicarei o teste do pré de linha.
O que é importante salientar é que a nota de fechamento dos dois produtos foi feita em conjunto, OK? Por uma questão de sinergia e coerência na aplicação da nossa Metodologia.
E antes que alguém levante a questão se ambos só podem trabalhar em conjunto? A resposta é não, pois eu também os testei com o pré de linha da Nagra – e os powers HD da Nagra, no caso do pré de linha Vitus.
Para os nossos leitores assíduos, isso já lhes dará uma pista do nível de performance de ambos.
Mas sem querer adiantar a conclusão, vamos as informações técnicas e as avaliações auditivas do SS-103 Signature.
Como todo produto deste fabricante dinamarquês, a construção é simplesmente impecável! Nem o audiófilo mais crítico e meticuloso poderá acusar algo de impreciso na apresentação desse imponente power de 90 kg!
O que demandará, para desembalá-lo, a ajuda de uma ou duas pessoas (dependendo do porte físico do dono dessa beleza).
A primeira pergunta que se faz, ao perceber o peso descomunal, é: qual o motivo para pesar tanto? E parte da resposta certamente estará no ‘cavalar’ transformador UI-core construído exclusivamente para esse power.
De memória não me lembro de nenhum outro power estéreo com um transformador tão avantajado! Fora o fato dele ser todo blindado para não haver contaminação de RF no circuito de áudio.
As fotos, por mais bem feitas, não lhe darão uma ideia fidedigna tanto de seu tamanho e altura, como de seu soberbo acabamento.
Um leigo provavelmente deduzirá que um power desse tamanho e peso, deva ter uma potência final de alguns megawatts. E ficará desapontado ao saber que este gigante debita apenas 50 Watts em classe A, e 100 watts em classe AB, em 8 ohms.
Além dessa possibilidade de mudança de classe de operação no painel frontal, o fabricante possibilita uma intrigante opção batizada de modo Classic ou modo Rock – que dará ao audiófilo, junto com a opção de Classe A ou AB, perspectivas sonoras distintas de uma mesma gravação.
Deixarei para adiante minhas observações sobre essas opções, OK?
O SS-103 é um avanço natural do consagrado SS-102, em que seu projetista buscou fazer melhorias significativas, porém pontuais.
Os transistores continuam sendo rigorosamente casados como era no modelo anterior, a fonte de alimentação foi totalmente redesenhada para que esse novo modelo fosse ainda mais silencioso – o que seu projetista, Hans-Ole, chama de “escuridão de fundo” para que os sons possam brotar diretamente do silêncio total.
E já faço um ‘spoiler’ ao dizer que essa sensação será amplificada ainda mais com o uso do pré de linha da Vitus, o SL-103 Signature.
O painel frontal possui duas fileiras de botões verticais para tirar o amplificador de standby, alterar as opções de mute, mudança de classe A para AB e as opções de Classic e Rock. Seus dissipadores laterais são enormes, e o ideal é que seja instalado em um local com bastante ventilação lateral e por cima. Então meu amigo, nada de enfiar o SS-103 Signature em racks, pois você terá problemas.
No painel traseiro, além de excelentes terminais de caixa, temos a tomada IEC e entradas XLR e RCA.
Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos: TUBE DAC Nagra e Transporte Nagra, Pré Classic e Powers HD Nagra, e Streamer Nagra. Caixas: Perlisten S7t SE (leia Teste 2 nesta edição), e Estelon X Diamond Mk2. Cabos: todos Dynamique Audio Apex com cabos de força Transparent Reference G6.
Todo projetista de áudio de ponta tem seu próprio ponto de vista do que busca em seus produtos que os diferencie da concorrência, e que tenha uma legião de audiófilos interessados naquela assinatura sônica idealizada pelo fabricante.
A do Hans-Ole Vitus é de que quanto mais silencioso forem seus produtos, menor será a interferência no sinal, possibilitando uma maior fidelidade ao sinal gravado.
Quando me perguntam minha opinião sobre as diferentes maneiras de abordar a alta fidelidade, utilizo da minha experiência de ter testado mais de 2000 produtos, e abortado quase 900 testes nesses 29 anos (sem contar os 3 anos de revista Audio News), para poder dizer com toda sinceridade que existem muitas possibilidades de se alcançar excelentes resultados.
E que o fato de termos tantos projetistas talentosos, e que sabem aplicar na prática suas ideias e gosto pessoal, só enobrece esse hobby.
Então, meu amigo, se posso ajudá-lo é dizendo que antes de escolher seu sistema, ouça tudo que lhe agrada que cabe em seu orçamento.
Pois existem opções muito interessantes.
Agora, se você acreditar, como dizem em muitos fóruns objetivistas, que não deve existir diferenças na sonoridade de powers bem construídos de uma mesma topologia, e que olhar as medições será suficiente, boa sorte!
O que minha experiência diz é o oposto: amplificadores da mesma topologia não só possuem assinaturas sônicas distintas, como o grande barato desse hobby é justamente descobri-las.
Por minha vivência de longa data com a área de instrumentos musicais e com gravação, digo que descobrir a assinatura sônica de um amplificador é tão legal quanto a de ouvir as diferenças entre microfones e entre instrumentos musicais.
Principalmente guitarras e amplificadores de guitarra. Sabe o lance de você ouvir um guitarrista e saber pelo timbre que músico que está tocando? Acredite, com prés e powers ocorre o mesmo (quando feitos por projetistas talentosos, obviamente).
Quando leio esses artigos objetivistas fico me perguntando como o ser humano pode se basear em gráficos e medições para escolher algo que irá ouvir! Para mim é como escolher um sorvete pela cor e não pelo seu sabor. É uma inversão reducionista de valores, ao extremo!
Voltando ao que interessa, quando ao ler entrevistas de projetistas que se destacam, minha curiosidade é elevada ao cubo! Pois tento penetrar na cabeça daquele engenheiro, ouvindo suas soluções para a mesma questão.
E gosto desse desafio, pois isso geralmente amplia minha percepção ainda mais dos caminhos utilizados para o mesmo fim.
Eu não ouvia um Vitus há pelo menos uma década. E confesso que aquela não foi uma audição que me causou algum impacto. Achei correto, silencioso, tudo devidamente bem delineado, mas não me fez querer ouvir de novo e de novo… entendem o que estou dizendo?
Uma década é tempo demais na alta fidelidade (menos para a tribo dos Vintage, que alardeiam que nada de novo foi criado nos últimos 40 anos!).
Eu, ao contrário, morrerei afirmando que a evolução não parou e vivemos um momento auspicioso em termos de reprodução de música por equipamentos eletrônicos.
Mas como a minha opinião, e a de quem está começando ontem, parecem ter o mesmo peso e medida na Internet, cada um que acredite em quem julgar mais apto.
E posso afirmar que do Vitus que ouvi lá atrás, para essa nova geração, o salto foi grandioso!
Pois agora consegui entender a quase obsessão do projetista pelo silêncio de fundo para a apresentação e fidelidade do acontecimento musical.
Muitos podem presumir que, quanto maior o silêncio de fundo, mais hiper analítico será o sinal gerado nesse silêncio. E aí é que entra a genialidade ou não do projetista, de ter a capacidade de ouvir o limite a ser definido para não se passar do ponto.
E isso para mim ficou claro, logo nas primeiras impressões que aplico a todo produto que nos chega para avaliação.
Mesmo zerado, e ainda engessado nas pontas e com uma região média frontalizada, foi possível observar que o ‘conceito’ de Hans-Ole é o de dar ao ouvinte a sensação que temos em uma apresentação ao vivo, do som brotar no silêncio.
Imagine quando as luzes se apagam na sala de concerto, a plateia em silêncio escuta as primeiras notas vindas do palco e elas se manifestam por todo ambiente, e isso faz com que nosso cérebro acione a postura de atenção total.
Essa é na minha opinião a proposta central dos equipamentos atuais da Vitus.
Para ter uma ideia exata da magnitude do alcançado, eu fiz até algo que não costumo fazer: ouvir completamente na penumbra. Só para ter certeza de que não estava “viajando na maionese”, como diz meu filho!
Os sons saem desse silêncio impressionante, e quando na gravação o foco e recorte não são exímios, ficamos com a mesma sensação em uma apresentação ao vivo, em que sabemos o instrumento que estamos ouvindo, mas não precisamos seu ponto de origem.
E antes que alguém me pergunte como, com vários instrumentos e variações dinâmicas, como o Vitus se comporta, eu já respondo: com autoridade uma enorme folga!
E a microdinâmica, Andrette, não interfere no todo? Não desvia nossa atenção?
Aí está o pulo do gato dos novos Vitus: eles não desejam e nem são hiper-realistas. Eles apenas nos fazem apreciar e relaxar adequadamente para que o nosso cérebro foque no que está à nossa frente.
E quem fará o papel de nos emocionar, ou apenas racionalizar o que estamos ouvindo, é a gravação e o grau de preciosismo dos músicos.
Pois ele não irá ‘florear’ ou ‘aveludar’ nada, absolutamente. Seu equilíbrio tonal é hipercorreto e pleno. A ponto de você se surpreender com a extensão nas altas e o corpo nas baixas.
E aí, finalmente, faço um aparte na avaliação para falar das opções que o Vitus nos oferece. Classe A, só foi possível ouvir com as Perlisten (com melhor sensibilidade que as Estelon). E se o ouvinte quiser dar um ‘calor’ a gravações tecnicamente mais duras, será muito bem-vindo.
Para a X Diamond Mk2, os 50 Watts em Classe A na minha sala não deram.
Já com a opção em Classe AB, a Estelon se sentiu em casa! E foi um belo casamento.
Quanto às opções de Classic ou Rock, em ambas as caixas eu pessoalmente preferi sempre o modo Classic. O Rock me dava sempre uma sensação de perda de 3D, deixando o som com menos profundidade.
Mas creio que será sempre uma questão de gosto e de referência com música ao vivo. Sempre achei qualquer gênero musical que ouvi no modo Classic mais correto!
Mas volto a lembrar, se tem as duas opções, divirta-se. Esse é o grande objetivo.
Texturas com esse grau de equilíbrio tonal, será possível desmembrar todas as intencionalidades que foram captadas na gravação. Todas!
E isso é um deleite para quem deseja avaliar a virtuosidade na interpretação do músico, escolha de microfones pelo engenheiro e complexidade na execução de uma obra.
Estará tudo à sua frente para a mais precisa avaliação!
Seu soundstage é o que mais demora para encaixar, e lhe proporcionar aquele 3D impressionante! Mas depois de 250 horas tive à minha frente um palco gigantesco para reprodução de obras clássicas e big bands.
Foco, recorte e ambiência de tirar o fôlego!
Transientes matadores, precisos e nos dando a sensação de que sempre a gravação escolhida foi a qual os músicos deram o sangue. Você não perderá nada do andamento e mudança de tempo, seja algo simples como um dois por quatro, ou um intrincado seis por oito.
Microdinâmica é uma aula de referência a todos que se julgam grandes powers. E a macrodinâmica é absolutamente correta para sua potência. Com a caixa certa, os sustos e o sorriso de orelha a orelha estarão garantidos.
O corpo harmônico é excelente, e você finalmente, se nunca ouviu um contrabaixo acústico ao vivo a quatro metros de distância, poderá fazê-lo na sua sala no aconchego de sua cadeira.
Com todo esse requinte, não poderia ser diferente no quesito de materializar o acontecimento musical à sua frente, e em excepcionais gravações você ser transportado para a sala de gravação.
O que você prefere? É só escolher a gravação correta para ter as duas opções à mão.
Quer algo melhor que isso?
CONCLUSÃO
Eu até receio quando escrevo que algum produto testado tem um patamar de silêncio de fundo impressionante, pois por algum motivo muitos de vocês concluem que então aquele produto certamente será analítico e hiper-realista.
Se você for um leitor atento e estiver acompanhando nossos mais recentes testes, com a introdução do quesito Assinatura Sônica, irá perceber que a graduação na parte transparência vai de um a quatro.
E que a maioria dos equipamentos testados depois que apresentamos esse gráfico nunca passa de dois. O que mostra que o fabricante foi bastante cuidadoso em não extrapolar e deixar seu produto soar frio ou analítico.
E no caso desse power da Vitus, ainda que ele esteja do lado transparente, ele ainda possui características do neutro, principalmente nos quesitos equilíbrio tonal, transientes e corpo harmônico.
Mostrando o esmero em levar mais um passo adiante o conceito de silêncio de fundo, sem perder o equilíbrio geral e poder encantar o ouvinte com suas inúmeras qualidades.
É um power para audiófilos com uma larga experimentação em diversas assinaturas, e que quer extrair tudo de uma gravação sem que ela se torne cansativa ou desinteressante.
E achar esse ponto de equilíbrio, meu amigo, na minha opinião é um mérito e tanto de seu projetista.
Se é isso que você tanto busca para extrair o máximo de sua coleção musical, ouça essa nova geração da Vitus Audio. Pode ser que o que busca esteja à sua disposição e caiba no seu orçamento.]
PONTOS POSITIVOS
Um power de nível superlativo em sua construção e performance.
PONTOS NEGATIVOS
Um power deste nível necessita de tudo no mesmo patamar.
ESPECIFICAÇÕES
XLR analógico | |
Entrada | 1 (E+D) |
Sensibilidade | 2 V RMS |
Impedância | 10kΩ |
RCA analógico | |
Entrada | 1 (E+D) |
Sensibilidade | 2 V RMS |
Impedância | 10kΩ |
Saída (cada canal) | 1 |
Potência W RMS (8Ω) | – ~50W Classe A – ~100W Classe AB |
Potência W RMS (4Ω) | – ~100W Classe A – ~200W Classe AB |
Largura de banda | 800kHz |
Relação sinal-ruído | 100dB a 1kHz |
THD + ruído | <0,01% |
Consumo de energia | |
Em espera | <1W |
Classe AB | 150 W |
Classe A | 300 W |
Dimensões (L x A x P) | 435 x 310 x 601 mm |
Peso | 85kg |
AMPLIFICADOR VITUS AUDIO SS-103 SIGNATURE | ||||
---|---|---|---|---|
Equilíbrio Tonal | 14,0 | |||
Soundstage | 13,0 | |||
Textura | 13,0 | |||
Transientes | 14,0 | |||
Dinâmica | 13,0 | |||
Corpo Harmônico | 14,0 | |||
Organicidade | 13,0 | |||
Musicalidade | 13,0 | |||
Total | 107,0 |
VOCAL | ||||||||||
ROCK, POP | ||||||||||
JAZZ, BLUES | ||||||||||
MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
SINFÔNICA |
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