Espaço Aberto: VOCÊ OUVE MÚSICA OU OUVE EQUIPAMENTO? O “EFEITO TOSTINES”
maio 9, 2025
Teste 2: TOCA-DISCOS ZAVFINO ZV11X
maio 9, 2025

Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br

O universo hi-end tem uma característica bastante peculiar, pois ao mesmo tempo que possui uma dinâmica intensa, por outro lado tem uma tendência a cultuar topologias que se mostraram convincentes e sedutoras por décadas.
Enquanto a América do Norte e Europa são movidos por um mercado frenético de novos lançamentos anuais, a Ásia – principalmente o Japão – convive em harmonia tanto com o novo vindo de todos os continentes, quanto com os seus produtos quase que artesanais.

E a Dynavector faz parte desta ‘dinastia’ japonesa, graças ao talento e visão de seu fundador Dr Noboru Tominari, professor de engenharia na Universidade Estadual de Tóquio, amante da música clássica, que resolveu fundar sua empresa Dynavector em 1975.

Foi ele que desenvolveu a primeira Moving Coil de saída alta que podia ser ligada em uma entrada phono MM (Moving Magnet), que eram o padrão de todos os receivers e integrados da época.

Rapidamente a 10x se tornou famosa, e foi parar na Inglaterra, onde se tornou uma referência para inúmeros audiófilos e melômanos. Hoje muitos audiófilos conhecem a marca pelo modelo de entrada, a 10×5, de saída alta.

Eu tive essa cápsula no meu Thorens 165 com braço SME 3009, em substituição à minha Stanton 500, e como sempre brinco: foi o “massacre da serra elétrica”!

O Dr Tominari faleceu em 2002, mas antes de seu falecimento criou, em 1999, a sua famosa cápsula XV-1, e a XV-1S com cantilever de diamante e com um gerador revolucionário.

Eu diria que a XV-1 e a XV-1S foram objeto de desejo de todos os audiófilos que tinham um setup analógico final na virada do século.

A DRT XV-1T chegou ao mercado no final de 2009, e foram vendidas até o ano passado quase 32 mil unidades!
Um número impressionante para uma cápsula hi-end que está no mercado há mais de uma década!

E aí vem uma questão à mente: como uma cápsula sem alterações em um mercado tão acirrado, se mantém viva e competitiva por tantos anos?

Para isso acontecer, só consigo imaginar uma resposta: ela estava anos à frente de todas as outras cápsulas, para ainda hoje se manter viva. Ou, os sistemas analógicos da segunda década deste século, não conseguiram extrair todo o seu potencial.

Em 1999, o Dr Tominari lançou a topologia exclusiva que incluía 8 imãs de Alnico, culatras frontais magneticamente estáveis e uma armadura frontal quadrada dentro de uma elevação em forma de ‘V’. Com uma topologia batizada de “Flux Damping” patenteada pela Dynavector, que revolucionou o mercado de cápsulas de referência.

A XV-1T possui um novo corpo laqueado em Urushi, sobre uma estrutura usinada tratada termicamente para um melhor desempenho acústico. A nova armadura em formato quadrado é resistente à corrosão e imune a variações de temperatura.

Seu enrolamento de bobina de 16 mícrons é em torno de uma armadura. Os ímãs de Alnico são usados para estabilizar os circuitos magnéticos, e aumentar a linearidade de distribuição magnética dentro do entreferro.

Segundo o fabricante, a tensão de saída é de 0.35mV (a 1khz, 5 cm/segundos), separação entre os canais de 30dB (a 1khz), equilíbrio entre canais de 1dB (a 1khz), resposta de frequência de 20Hz a 20kHz (+-1 dB), força de rastreamento de 1.8 a 2.2 gramas, impedância de 24 ohms, impedância de carga recomendada maior que 75 ohms, cantilever de 6mm de comprimento e 0.3mm de diâmetro, de boro sólido com armadura especial e patenteada pela Dynavector, o formato da agulha Line Contact PF, raio da agulha 7 x 30 microns, e peso de 12 gramas.

Para o Teste utilizamos o toca disco Zavfino ZV11X com braço de 12 polegadas também da Zavfino TZ-1, e cabo de braço Goldrush ST XLR também da marca (leia Teste 2 nesta edição). O pré de phono foi o Soulnote E-2, pré de linha Nagra Classic, powers Nagra HD, e powers Air Tight ATM-2211 (leia teste na edição de junho). As caixas acústicas foram Audiovector Trapeze (leia teste na edição de junho), Perlisten S7t SE (leia teste na edição de abril), Stenheim Alumine Five SX (leia Teste 1 nesta edição), e as Estelon X Diamond Mk2.

Como recebi tanto a Dynavector quanto o Zavfino ao mesmo tempo, resolvi instalar a Dynavector diretamente no ZV11X e realizar um comparativo direto entre esse setup e o de referência da revista (Origin Live com cápsula ZYX).

Assim eu já teria uma dimensão exata do patamar que esse conjunto se encontra, em relação à nossa referência de mais de três anos.

Então sugiro que os nossos leitores apaixonados por analógico, leiam nesta edição ambos os testes para ter uma ideia mais segura de minhas observações dos produtos, em separado e trabalhando em conjunto.

Bem, como testei na edição passada outra excelente Dynavector, a Te Kaitora Rua (leia teste na edição de abril de 2025), eu já tinha uma ideia do que me esperava em termos de performance.

Interessante como é difícil mensurar mentalmente as distâncias entre produtos do mesmo fabricante, pois às vezes esperamos grandes diferenças e essas não são tão grandes assim, e outras vezes tentamos ser cuidadosos em nossas expectativas e damos com o queixo no chão.

E foi esse o caso aqui. A XV-1T é de outro patamar em relação a Te Kaitora Rua, que já é uma cápsula excelente. E que acredito que 90% dos audiófilos viveriam felizes com ela.

No entanto, a XV- 1T nos mostrou de maneira explícita o motivo de sua longa carreira vitoriosa, e ainda digna de ombrear com cápsulas top de linha de outros renomados fabricantes.

Comparando-a diretamente com a nossa cápsula de referência, a ZYX Ultimate Astro G, diria que ela perde em detalhes, no entanto se mostrou superior à ZYX Omega Gold, outra cápsula que tive e tanto admiro.

Leia nos fóruns as opiniões dos audiófilos que possuem a XV-1T, e o que mais você irá perceber é o quanto a Dynavector consegue ser precisa e fiel.

Ainda que concorde com essas conclusões, o que mais me chamou a atenção é sua impactante leitura, seja de gravações excepcionais ou as tecnicamente limitadas.

Tudo me parece ser sempre mais organizado e com folga audivelmente superior.

Somente a ZYX Ultimate consegue ser a ainda mais impressionante de todas as excelentes cápsulas que testei, ou tive, nos últimos cinco anos.

E aí quando me lembro que esse produto tem quase 15 anos de vida, é realmente de coçar a cabeça!

O casamento da Dynavector com o braço Zavfino foi dos deuses, e acredito que o cabo de braço top de linha, também da Zavfino, contribuiu para essa sinergia impressionante.

O que para mim mais difere a XV-1T da ZYX Ultimate, é que a Dynavector não é tão condescendente com gravações tecnicamente sofríveis.

Mas, quando as gravações são pelo menos razoáveis, a leitura que a Dynavector faz e o silêncio de fundo, chegam a ser perturbadores (no melhor sentido possível).

Você fará audições memoráveis! Gosto de fazer a ‘prova dos nove’ com gravações nacionais de discos da EMI, RCA e Philips de MPB, anos setenta e oitenta, pois geralmente soam magras, estridentes e capadas nas duas pontas.

E infelizmente em gravações que tenho enorme apreço emocional e histórico.

E fiz audições desses LPs que estão comigo há meio século, impactantes com esse setup analógico. Superiores ao sistema analógico de referência.

Pois ainda que a Dynavector seja menos ‘condescendente’, ela tem a capacidade de nos mostrar detalhes de maneira explícita, que nos permite entender plenamente o discurso musical e os belíssimos arranjos que tivemos no auge da MPB.

E para mim isso é mais essencial do que dar uma ‘lapidada’ nas limitações técnicas para tornar a audição mais agradável.

A Dynavector precisou de 50 horas para se estabilizar, e depois de totalmente amaciada o ajuste baixou de 300 ohms para 100 ohms no pré de phono E-2.

Seu grave tem excelente fundação, peso, corpo e energia. Adorei ouvir a trilogia do King Crimson (os discos azul, vermelho e amarelo da década de 80) na edição nacional, que não é das melhores.

No entanto, soaram muito mais convincentes e empolgantes, graças a essa fundação no grave mais sólida.

A região média é de uma riqueza impressionante, nos permitindo ouvir tudo. Sem nenhuma restrição ou algo escuro ou difuso.

E o agudo é pleno, em extensão, decaimento e corpo. Se tem algo que destroi uma audição analógica são os graves magros e os agudos finos e sem corpo.

Pois o analógico possui um invólucro harmônico rico, e muito distinto do digital (isso deve causar urticária em objetivistas que berram em seus fóruns que LPs sequer podem ser chamados de hi-end).

A Dynavector XV-1T possui um equilíbrio tonal corretíssimo, detalhado, envolvente e natural!

Sua apresentação de Soundstage é digna de ser referência para qualquer audiófilo que nunca tenha escutado um setup analógico bem ajustado e de alto nível de performance.

Foco e recorte são de precisão cirúrgica, a reprodução de ambiência é magnífica e com planos e mais planos, sem jamais se aglomerarem como músicos tocando dentro de um elevador.

Profundidade, largura e altura referenciais!

Eu sei que sou chato quando vou descrever o quesito textura, pois por décadas essa qualidade foi tratada como mais um detalhe capaz de nos dar uma ideia da paleta de cores dos instrumentos e vozes, e ajudar na definição do timbre. E aí vem esse Fernando Andrette e incorpora a questão de Intencionalidade.

O que eu posso fazer?

Esse é um componente essencial para se definir a qualidade das texturas, e na música ao vivo não amplificada seu cérebro irá observar essa característica instantaneamente, ao ouvir um bom instrumento de um razoável.

Assim como também o nível técnico do músico.

E essas características estão no pacote de avaliação de texturas, e não me culpem se outros RCA (Revisores Críticos de Áudio) nunca tocaram neste assunto.

E junto com equilíbrio tonal, a textura nos permite uma imersão muito mais prazerosa e livre de fadiga auditiva, ao escutarmos nossos discos.

E a XV-1T é primorosa na reprodução deste quesito, perdendo por centímetros para a ZYX Ultimate. Quase que ‘cabeça a cabeça’, se fizermos uma analogia com uma corrida de cavalos.

Os transientes são precisos, e fidedignos com os tempos e andamento. Nada se perde, nada será perdido ou difuso.
É lindo ouvir blues, rock, jazz-rock e rock progressivo nessa cápsula!

Macrodinâmica é exuberante, impactante e chocante, rs! Tive alguns sustos merecidos, ao me empolgar e abusar do volume na reprodução da Sagração da Primavera de Stravinsky, e na Sinfonia Fantástica de Berlioz!

A microdinâmica irá te impressionar, tamanha quantidade de informação que emerge dos sulcos.

Assim como a textura, o corpo harmônico é outro quesito que sempre torna explícitas as limitações do analógico, ainda hoje. Não tem comparação! Ponto!

Terá um dia? Talvez. Acho que primeiro os engenheiros e projetistas de DACs precisam entender e aceitar que existe essa limitação, pois creio que a maioria nem se deu conta dessa questão.

O que posso dizer a vocês que nunca ouviram um excelente setup analógico, é que irão se assustar com a diferença de corpo harmônico entre essas duas topologias.

Realizar a materialização física do acontecimento musical nessa cápsula é pura covardia. Os músicos estão à nossa frente, a metros de nossas mãos!

E isso ocorre mesmo em gravações medianas.

Pegue as gravações da Verve, Blue Note, Capitol dos anos sessenta e setenta, e você irá se perguntar como é possível com apenas três microfones, ter tamanho, corpo e materialização física?

Pois é meu amigo… pois é!

CONCLUSÃO

A Dynavector DRT XV-1T conseguiu simplesmente a façanha de atravessar uma década e ainda hoje ser uma referência no topo do podium.

O amigo tem ideia do que isso significa?

Se você busca sua cápsula final, e procura essas qualidades para o seu setup analógico, sugiro que a DRT XV-1T esteja nessa lista.

Pois arrisco dizer que ela, com seu pacote de qualidades, tem fôlego para se manter ainda por muito tempo no pódio.
Sinceramente não imaginava esse tão alto grau de performance.

Integralmente recomendada!


PONTOS POSITIVOS

Exuberante e imune à passagem do tempo.

PONTOS NEGATIVOS

Nada, se você tiver bala para comprá-la.


ESPECIFICAÇÕES

TipoCápsula Moving Coil de baixa saída com vários ímãs Alnico e amortecedor de fluxo
Tensão de saída0.35 mV (a 1 kHz, 5 cm/seg)
Separação de canais30 dB (a 1KHz)
Equilíbrio entre canais1.0 dB (a 1 kHz)
Resposta de frequência20 a 20.000 Hz (±1dB)
Compliância10 mm/N
Força de rastreamento1.8 a 2.2 g
Impedância24 ohms
Impedância de carga recomendada75 ohms
Cantilever6 mm de comprimento, 0.3 mm de diâmetro, de boro sólido com armadura especial
AgulhaFormato Line Contact PF
Raio da agulha: 7 x 30 mícrons
Peso12 g
CÁPSULA DYNAVECTOR DRT XV-1T
Equilíbrio Tonal 14,0
Soundstage 13,0
Textura 14,0
Transientes 14,0
Dinâmica 14,0
Corpo Harmônico 14,0
Organicidade 14,0
Musicalidade 14,0
Total 111,0
VOCAL                    
ROCK, POP                    
JAZZ, BLUES                    
MÚSICA DE CÂMARA                    
SINFÔNICA                    
ESTADO DA ARTE SUPERLATIVO



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