Vinil do Mês: HOLST: THE PLANETS – LONDON PHILHARMONIC (EMI, 1979)

Influência Vintage: WALKMAN PROFESSIONAL SONY WM-D6C
julho 8, 2023
Playlists: TRIBUTO À ELLA FITZGERALD
julho 8, 2023

Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Todo mês um LP com boa música & gravação

Gênero: Clássico

Formatos Interessantes: Vinil Importado

Acreditem, este é um vinil que é uma gravação audiófila – coisa que eu não costumo indicar, pois a ideia aqui sempre foi de expandir a coleção de vinil além do que é o repertório normal audiófilo, e também poder selecionar, do repertório mais popular, gravações de melhor qualidade.

Mas, apesar de ser audiófilo, é também ‘música clássica’, um gênero que é compreendido e amado por muitas pessoas, e igualmente incompreendido e odiado por várias outras (muitas das quais, paradoxalmente, adoram trilhas sonoras de seus filmes de ação, sem querer entender como ‘estas’ teriam existido sem ‘aquelas’). Eu sou daqueles que acredita que música é ‘boa’ ou ‘ruim’, e que quem é realmente fã de música, deveria expandir seus horizontes e compreender. Simplesmente compreender.

Selo do disco

Esta específica gravação da suíte orquestral The Planets, do compositor inglês Gustav Holst, é ‘audiófila’ porque foi financiada e supervisionada tecnicamente pela célebre fabricante inglesa de caixas acústicas, KEF. Tanto que leva o logotipo da empresa estampado da capa e contracapa, além de um texto sobre eles homenagearem a longa e altamente representativa carreira de um dos maiores regentes ingleses, Adrian Boult – que regeu esta específica gravação com 90 anos de idade! O resultado é uma excelente gravação e uma referência para os audiófilos britânicos há muitas décadas.

The Planets – Os Planetas – é uma obra bastante detalhada e cheia de dinâmica, que vai agradar muitos dos que não têm esse estilo musical como preferência. É uma daquelas obras na qual vários compositores de trilhas já se inspiraram, e que já teve vários trechos usados, intactos, em trilhas como a do excelente filme sobre a corrida espacial Os Eleitos (The Right Stuff, 1983), e é emblemática dentro da discografia da música erudita do século 20. The Planets foi resultado do interesse do compositor por astrologia – e, ainda assim, Holst dizia que apenas estudava assuntos que combinassem, para ele, com música, que sugerissem ou despertassem interesses musicais. São sete movimentos: Marte (Mensageiro da Guerra), Vênus (Mensageira da Paz), Mercúrio (Mensageiro Alado), Júpiter (Mensageiro da Alegria), Saturno (Mensageiro da Velhice), Urano (O Mágico) e Netuno (O Místico) – sendo que este último traz uma participação coral, que nesta gravação é com o Geoffrey Mitchell Choir.

E, sendo The Planets uma composição finalizada em 1917 – e que a música erudita ouvida hoje começou pelo menos no século 17 – então The Planets pode ser sossegadamente considerada como música ‘nova’! rs…

Contracapa

Holst, que nasceu em 1874 de uma família com ligações musicais que remontam a várias gerações, foi influenciado tanto pelo Romantismo Tardio do século 19 e começo do 20, como pelo impressionismo do francês Ravel, um dos grandes compositores do século 20. Estudou composição, piano, órgão, trombone, instrumentação, e mais, no Royal College of Music, em Londres – e chegou a trabalhar como trombonista e como organista, em várias orquestras e grupos, para se manter, pois apenas composição não era o suficiente. Mesmo depois, já no século 20, quando Holst decidiu não tocar mais em orquestras e ser compositor, seu orçamento acabou sendo complementado por algo pelo qual ele ficou muito conhecido, à época: dedicar-se ao ensino de música em várias instituições de alto calibre, como o James Allen’s Girls’ School, em Dulwich, o St Paul’s Girls’ School, em Hammersmith, e o Morley College. Sua grande distinção como mestre e professor de música, influenciou muitos compositores e instrumentistas, até seu falecimento em 1934.

Quando, ano passado, descobri que estávamos tão distantes de 1970 (ano em que eu nasci), quanto 1970 está distante de 1918, ano do encerramento da Primeira Guerra Mundial, acabei por – após um período longo de choque e sensação de DNA (Data de Nascimento Antiga) – melhorar a minha percepção de tempo e de seus acontecimentos. Ao mesmo tempo que Holst tinha como melhor amigo outro grande compositor inglês, Vaughan Williams, ele era também muito amigo do regente Adrian Boult, através da amizade mútua com Williams. Em 1918, Boult regeu a estreia de The Planets, no Queen’s Hall, em Londres, para 61 anos depois reger esta gravação que eu aqui indico! Como agradecimento e prova de amizade, a partitura de regência de Boult em 1918 tinha uma dedicatória de Gustav Holst que dizia: “Esta cópia é propriedade de Adrian Boult, que foi quem primeiro fez The Planets brilhar em público, e portanto tem a eterna gratidão de Gustav Holst”.

Sim, existe música boa que é perene, que vai durar muitos séculos depois que todos nós tivermos ido embora – e talvez sejam elas uma das poucas coisas que farão os alienígenas nos perdoarem, nos olharem com bons olhos – caso um dia resolvam aparecer por aqui…rs…

Sir Adrian Cedric Boult, nascido em 1889 em Chester, na Inglaterra, filho de um próspero homem de negócios e juiz de paz, atuou longamente como um dos grandes regentes ingleses do século 20. Boult foi educado na Westminster School, em Londres e, depois, na Universidade de Oxford, onde estudou história e depois mudou para música, finalizando seus estudos de regência no Conservatório de Leipzig, na Alemanha. Começou sua carreira regendo uma pequena orquestra composta de membros da Liverpool Philharmonic, depois serviu na Primeira Guerra como tradutor de francês, alemão e italiano para o Escritório de Guerra do governo britânico. Depois passou a reger a London Symphony Orchestra, onde estreou também a obra A London Symphony, de Vaughan Williams.

Capa da edição japonesa em 45RPM

Boult também gravou prolificamente, principalmente antes da era da alta fidelidade. Ele foi diretor da City of Birmingham Orchestra, e depois assumiu a revitalização da BBC Symphony Orchestra na mesma época que Sir Malcolm Sargent fundou a London Philharmonic, além de ter – pela boa reputação de adquiriu – regido um grande número de orquestras de outros países, como convidado, incluindo as Filarmônicas de Nova York e de Viena, e a Sinfônica de Boston.

Após se aposentar da BBC em 1950, Boult assumiu a direção da London Philharmonic, que estava decadente e precisando de uma revitalização. Inclusive, Boult chegou a subsidiar a LPO durante um tempo, do próprio bolso. Após 10 anos à frente da LPO, Boult passou a atuar como regente convidado de várias orquestras, inclusive novamente da própria City of Birmingham Orchestra, mas já em um regime bem mais esparso.

Nas suas últimas décadas de vida, Sir Adrian Boult era visto no mundo da música clássica como a última ligação viva com grandes compositores britânicos como Elgar, Vaughan Williams e Gustav Holst.

Para quem é esse disco? Para todos que gostam de música clássica, principalmente dos períodos Romantismo Tardio e início do século 20, e também da belíssima e prolífica produção britânica nesse gênero e período.

Me perguntaram outro dia porque eu não faço uma ‘crítica musical’ dos discos que eu indico. Bom, se eu indico é porque eu acho que são discos decentemente bem gravados (pelo menos), e claramente bem tocados, com música de primeira qualidade. Agora, quem tem que ouvir – e gostar ou não – são vocês, amigos leitores. Não é verdade?

Eu ainda não vi, ou sequer descobri se existe, uma prensagem brasileira desse disco – e também não sei se recomendaria vocês tentarem, porque não gostei de um monte de prensagens brasileiras de música clássica do selo EMI. Portanto, a regra aqui é achar, em bom estado, claro, uma prensagem original britânica, uma canadense ou uma japonesa (essa deixa a gente salivando!). Existe até uma prensagem japonesa em dois LPs, em 45RPM – que só a ideia já me fez ir jogar água fria na cara…rs… E, por fim, foi feita uma prensagem, pela própria Warner Music, em 2020, em 180 gramas – mas eu não sei afirmar a qualidade sonora resultante.

Ouça um trecho de “The Planets”, no YouTube

E boas audições a todos!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *