Espaço Aberto: MÚSICA COM EMOÇÕES TERCEIRIZADAS

Editorial: A LONGA ESTRADA
outubro 6, 2023
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novembro 6, 2023

Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

Por décadas frequento, sempre que posso, concertos de orquestras sinfônicas e de música de câmara. Tanto pelo gosto musical, como pela melhora exponencial na percepção das Qualidades Sonoras, em geral.

Isso me levou, claro, a uma familiaridade com uma boa quantidade de músicos.

Em um intervalo eu estava conversando com alguns músicos da orquestra, e havia um comentário sobre o que o compositor queria passar com a obra – o que era para as pessoas sentirem quando a ouvissem. Existe muito disso na música, incluindo tons e acordes que quase que têm uma obrigatoriedade de serem vistos como ‘tristes’ ou ‘alegres’, etc.

Na conversa, citou-se um compositor contemporâneo que havia dito, sobre uma obra dele, que era para se sentir – e entender – ‘isso’ ou ‘aquilo’. Comentei que, se eu fosse compositor, faria questão que o ouvinte apreciasse do jeito que quisesse, e sentisse o que quisesse.

A resposta dos músicos foi: “isso é muito generoso da sua parte”. Nunca havia pensado nisso como ‘generoso’… A verdade é que eu sempre senti e interpretei o que eu quis, o que me evocava, o que me fazia sentir. Sempre.

A interpretação pessoal, o quanto uma música ressona com o seu ser, e em que nível de profundidade isso acontece, é algo que realmente não pode ser definido por terceiros. É só seu.

Diga não às emoções de terceiros! Diga sim às suas próprias! rs…

O fato é que, eu já cheguei a achar bacana jantar ao som de obras musicais que muitos já definiram como indigestas, causadoras de ansiedade e sentimentos negativos. Então, desde muitas décadas atrás, eu uso minhas próprias emoções para interpretar a música que eu ouvir. Existe a mensagem que o compositor quer passar, claro – mas em última instância, eu sinto e percebo o que eu quiser, da música que eu quiser.

Falo há anos que a ligação da maioria dos seres humanos com a música é totalmente emocional. E que, com o aprendizado e a compreensão – ainda que não no mesmo nível de um estudioso ‘profissional’ – com o aprofundamento sobre como se compõe, como são os elementos da música, sobre arranjo, sobre as dificuldades interpretativas de cada instrumento, etc, com o aumento dessas informações, a relação da pessoa com a música vai passando de ser apenas emocional para ser uma mistura de emocional com intelectual.

Uma interpretação ou composição banal – mais mal bolada, mal arranjada e mal escolhida – passa a ser um pecado mortal! O ouvido informado ‘vê’ além da resposta emocional, percebendo muito mais sobre a qualidade daquela composição, de seu arranjo e de sua interpretação.

Ou seja, vai além do ‘emocional’, tem pelo menos uma parcela de ‘intelectual’. Penso nisso mais ou menos como a relação de uma pessoa com artes plásticas, como pintura, por exemplo. Além de ficar mais difícil, lá, para um pintor dizer “com essa obra, você deve sentir a exaustão da sociedade no período mais obscuro de suas relações humanas” (ou qualquer coisa do gênero), na maioria das vezes a obra suscita no espectador algo que está completamente fora do controle do artista – talvez pelo conceito ser mais abstrato. Então por que a música não pode (e deve) ter o mesmo tipo de efeito, mais abstrato?

E, ainda, com pinturas, quadros, o espectador muitas vezes pode aprender, pesquisar, ler, estudar, aprender, e passar a ter um reconhecimento e uma compreensão muito maiores e mais profundos sobre a obra, sabendo sobre técnica de desenho, de pincelada, de perspectiva, de profundidade, de luz. Ou seja, a mesma mistura de percepção ‘emocional’ com a ‘intelectual’.

Muita gente acaba, mesmo com 50 anos de idade, ouvindo os estilos e artistas que ouviam quando tinham 20. Acabaram os anos formativos culturais, e a pessoa não prosseguiu – e isso não tem nada de errado. Apenas que a ideia de expansão de horizontes culturais, especialmente os musicais, é muitas vezes ligada à expansão da percepção sobre qualidade sonora – esta última, uma condição (e um efeito colateral) sine qua non do hobby da Audiofilia.

Claro que não é para todos nem a ideia de se aprofundar musicalmente, nem a de se aprofundar na qualidade sonora e seus numerosos aspectos.

Mas que isso tudo traz uma relação melhor com a ideia de Qualidade Sonora – pilar da Audiofilia – isso traz!

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