Opinião: MÚSICA EM DEMONSTRAÇÕES: A POPULAR, A AUDIÓFILA & A BOA

Playlists: PLAYLIST DO PÚBLICO DO WORKSHOP HI-END SHOW 2024
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Opinião: A BUSCA INCESSANTE PELA QUALIFICAÇÃO
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Christian Pruks
christian@clubedoaudio.com.br

A música Audiófila é bem gravada, mas nem sempre é Boa música. A música Popular é geralmente mal gravada, e nem sempre é Boa música. A música Boa existe tanto bem gravada quanto mal gravada, e existe como Audiófila, como Popular, como velha, como intermediária, como nova, como alternativa, como rock, world music, clássico, eletrônico, etc.

Cada um ouve o que quer – mas não faz o menor sentido querer ouvir algo mal gravado quando se estiver avaliando a Qualidade Sonora de um equipamento. É o mesmo que avaliar os conhecimentos gerais de uma pessoa pedindo para ela ler embalagens de xampu usando a ‘língua do pê’…

Há uma dificuldade de compreensão sobre o que está envolvido em demonstrar um equipamento de áudio – e, na mesma medida, o que compõe avaliar, analisar e regular um sistema de áudio.

E, além disso, um ‘hi-end show’ não é um lugar cuja finalidade é servir ao gosto musical pessoal de cada um que lá está. É um lugar para demonstrar equipamentos de áudio a serem escolhidos por sua Qualidade Sonora – mediante necessidades e poder aquisitivo, claro.

Não, se usa – repito: NÃO se usa – um disco de heavy metal para demonstrar um sistema de som em um ambiente coletivo como é uma feira de áudio. Para começar, são gravações péssimas (99.9% delas, infelizmente), e não tem uma pessoa nesse mundo que seja capaz de provar que uma gravação péssima vai mostrar as Qualidades de um sistema – porque isso não existe.

E ainda, tem aparecido em feira gente demonstrando esse tipo de faixas em volumes ‘realistas’. Veja bem, ‘realista’ para uma música processada e que é originalmente amplificada, acaba passando dos 100dB, onde você não só está começando a danificar seu ouvido, como está maximizando tudo de ruim que sonoramente a gravação tenha – como compressão, falta de inteligibilidade, timbre ruim, etc – pondo tudo em evidência! Ou seja, não basta gritar, é preciso fazer isso com um megafone!

Me deixava com a pulga atrás da orelha o porquê da insistência de algumas pessoas em rejeitar a música de boa qualidade que é demonstrada – para mostrar as qualidades de um sistema que é feito com esse intuito! As reclamações, inclusive de ‘profissionais’ da área, sobre a música tocada não eram de que ‘não gostam’ daquela música, e sim que ‘não conheço aquela música e, portanto, ela não me diz nada”!!! Meus caros, a música de demonstração não está lá para ser gostada por todos! Ela não está lá para ‘dizer nada’ a cada um. Ela está lá para mostrar as Qualidades Sonoras do sistema demonstrado.

As pessoas têm dois tipos de ligação com a música: a Emocional, que vem desde a juventude, que faz com que procurem ouvir para o resto da vida aquilo que lhes representou algo emocionalmente profundo, anos atrás. E existe a ligação Intelectual, que faz com que estudem ou queiram entender música (ainda que de maneira amadora e superficial), que procurem novidades musicais (que não soem como música ‘das antigas’), que expandam seus horizontes. Por muitos anos eu achei que o audiófilo – por gostar de qualidade sonora – procurava ser Emocional mas, também, pelo menos um pouco Intelectual. Eu sou assim – mas descobri, aos poucos, que as pessoas procuram mesmo, em sua maioria, reviver suas emoções.

Nada de errado nisso, mas é preciso entender que não vão saber se um sistema ou equipamento é bom ou não, usando música mal gravada, só isso.

Quanto ao povo que reclama mundo agora desse específico ‘problema’ – da música demonstrada não lhes agradar (e alguns dizem ser insuportável, o que é bizarro e quase ridículo), vale lembrar que as pessoas que reclamam de algo na internet podem parecer ser a maioria, mas quase nunca são – simplesmente porque quem é à favor de algo nunca vai lá dar seu contraponto. Ou seja, as vozes contra são as únicas ouvidas, e isso faz parecer, para quem está olhando, que a maioria dos fãs de equipamentos de som “não aguentam mais ouvir música ‘audiófila’” em demonstrações – ou mesmo clássico, ou mesmo jazz, ou mesmo qualquer coisa que não seja aquilo que eles gostam. E a reação acaba sendo a reprodução de gravações péssimas em numerosas demonstrações em feiras de áudio mundo afora. Tem até países que são mais ‘descoladinhos’, onde o nível das gravações é pior que a maioria.

Eu não julgo a qualidade musical – aqui não é o espaço para fazê-lo (além do fato de que eu não gosto de muitas das escolhas musicais usadas em demonstrações, também). Dito isso: já vi muita demonstração com música de tão má qualidade, que eu acho que não conheço ninguém que goste – e o resultado, qual é? Dupla alienação: de quem não quer estar lá e ser assaltado por heavy metal e hip-hop em volumes aprovados pelo comitê internacional de tortura, e também aliena quem tem um gosto musical bastante amplo, mas que não inclui a tortura barulhenta (sim, eu ouço algumas coisas de heavy metal, mas nenhuma delas em volumes explosivos, e nenhuma delas para avaliar ou demonstrar nada).

Se eu passo em uma sala, e está tocando a 110dB (como aconteceu na Feira Axpona, nos EUA, mês passado), eu nem entro na sala, ou saio correndo! Se eu entro em uma sala, e a baixa qualidade musical é tão ‘baixa’ que chega a ofender, eu saio correndo. Se eu entro em uma sala e está tocando uma gravação de péssima qualidade sonora, eu saio correndo.

Quem está certo?

Existe o ‘certo’?

Aliena-se uns que têm gostos muitos específicos, ou aliena-se outros que têm gostos muito amplos?

Ou se usa bom senso, compreensão profunda do que uma coisa é e como funciona? Bom senso, tolerância e compreensão. Quer ouvir, em um sistema de áudio hi-end, algo barulhento, cuja qualidade sonora é questionável, em volumes que fazem o gato e o cachorro da casa sumirem por uns três dias, não seria melhor procurar um showroom para fazê-lo com certa privacidade?

Claramente fabricantes e distribuidores querem atingir todo tipo de público, então aqui vai mais um ponto de vista, um próprio para que todos os envolvidos comecem a pensar melhor sobre aquilo que exigem, e sobre aquilo que oferecem:

Qual é a razão da existência de um sistema de som audiófilo, hi-end? Pela enésima vez: qualidade sonora. Acima de beleza, de status, de valor de revenda, de tudo isso.

E o que acontece quando sistemas em feiras passam a ser demonstrados com música de baixa qualidade sonora?

Não precisa pensar muito na resposta. Até porque, se você exige que em um curso de comida gourmet se use matéria prima de baixa qualidade, então é preciso se preparar para comer um prato ruim.

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